Nunca fui muito fã de carnes natalinas. Confesso que o arroz com passas, a maionese com passas, a farofinha com passas e, é claro, o empadão da tia Nelma sempre foram os meus queridinhos no jantar de Natal.
Mas a vida da gente é uma montanha-russa, e nem todos os anos tive o privilégio de ter uma ceia farta e as cadeiras da mesa todas ocupadas. Sempre fui apaixonada pelas comemorações de fim de ano, pois, além dos presentes, amava estar perto da minha família e sentir aquela magia incrível que o Natal nos proporciona.
Entretanto, há alguns anos, logo depois de ter voltado da minha missão de tempo integral no Rio Grande do Sul, vivi um Natal bem diferente do que estava acostumada. A mesa estava vazia de pratos deliciosos, e minha única companhia foi meu vira-lata mestiço com pastor alemão. Lembro-me de que no dia 24 estava muito saudosa, lamentando que não teria minhas tão esperadas uvas passas nem a companhia daqueles que tanto amava, pois estava eu aqui, na Capital Secreta do Mundo, bem longe da minha família e amigos que permaneciam na Capital Federal.
Como todo bom cachorro, Biju sentiu minha tristeza e ficou me seguindo pela casa, enquanto eu me vitimizava, reclamando e chorando bem ao estilo “Ó vida cruel!”. Lembro-me do focinho dele gelado futucando meu braço, que estava coberto de lágrimas. Quando olhei para aqueles olhos cor de mel, percebi o quanto estava sendo injusta e mal-agradecida, pois, apesar de a vida não estar do jeito que eu gostaria, eu tinha saúde, um teto, um emprego e meu cachorro Biju.
Levantei-me num impulso, peguei minha decoração de Natal, que há tempos estava guardada, e, ao som das músicas natalinas do Coro do Tabernáculo Mórmon, enfeitei toda a minha casa, que, diga-se de passagem, era bem pequena. À noite, corri no lanche da Norma, pedi dois sanduíches bem caprichados: um para mim e outro para o Biju, é claro. Passei no mercado e comprei meu sorvete favorito de flocos, calda de caramelo e uma bela Coca-Cola. Tudo pronto para minha ceia.
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👉 Entrar no GrupoE mesmo longe de tudo e de todos que faziam com que essa data fosse tão especial, resolvi que, a partir daquele momento, iria construir uma nova história, cuja protagonista jamais seria uma vítima do destino. Decidi que todos os Natais seriam importantes, mesmo se eu passasse sozinha ou acompanhada por uma multidão. Aprendi, naquele dia 24 de dezembro de 2009, graças a um focinho gelado e a um olhar cor de caramelo, o quanto devemos ser gratos por todas as nossas vivências e oportunidades.
E, é claro, me deliciei com um belo X-tudo recheado de muitas uvas passas, assistindo a uma maratona de filmes A Hora do Pesadelo, acompanhada do meu cachorro, um pote de sorvete com calda de caramelo e muita Coca-Cola.
Hoje, tenho uma família linda, com uma filha humana, três filhos caninos, dois filhos felinos e um marido companheiro. Ainda não tenho uma mesa farta nas noites de Natal, mas tenho uma vida plena, repleta de tudo aquilo que o dinheiro não compra, mas que são os tesouros mais valiosos para uma vida.
Biju já virou estrelinha, mas, nos dias tristes, sempre me lembro daquele focinho gelado e de seu olhar amoroso, me mostrando que a vida sempre valerá a pena. E, nos dias felizes, me lembro dos seus pulos e da alegria celebrando a vida. Sempre serei grata pelo Natal de 2009, quando aprendi uma das lições mais importantes da minha vida, pois, a partir daquele momento, vi que eu, como dona do meu destino, devo escolher se quero viver ou simplesmente sobreviver. Decidi viver e viver plenamente todos os dias de minha vida.
Respostas de 2
Mensagem dada através de um texto lindo, reflexivo, com palavras bem ditas; uma escrita apurada. Parabéns, Mari! Suas palavras nos tocam, nos move, nos seduz.
Obrigada minha amiga por sempre me incentivar no universo da escrita. Abraço fraterno