qui 21/novembro/2024 • 10h01
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Anete Lacerda

Este é um projeto do jornal diaadiaes.com.br que retrata a vida de mulheres que influenciam, fazem diferença e nos inspiram a seguir em frente.

São personagens reais que estão em todos os lugares e são protagonistas de suas próprias histórias. Que contribuem para um mundo melhor.

Seja bem-vindo a mais uma  história de uma incrível mulher.

Póde Mulheres

Póde Mulheres, a força feminina na produção de cafés especiais

É muito empoderamento, muitas amizades, muita união

Quando cantou que ver a mulher como sexo frágil era uma mentira absurda, o cantor Erasmo Carlos parece ter acertado em cheio.

As histórias de Eliane Lívio de Almeida, 46, Ivone Machado Carrari, 57, e Daiana Guimarães, 31, e de todas as outras associadas que produzem o café especial Póde Mulheres, da Cooperativa dos Cafeicultures do Sul do Espírito Santo- Cafesul, confirmam isso.

Essas mulheres mostraram sua força ao saírem dos bastidores da produção cafeeira. Elas ganharam visibilidade, autoestima e conhecimento. Elas são as nossas Bravas Mulheres dessa edição.

Ivone, Eliane e Daiana são mulheres que, como tantas outras, nasceram e foram criadas na zona rural. A maioria delas envolvida com o plantio e a colheita do café desde muito novinhas. As atividades agrícolas, portanto, fazem parte de suas histórias.

O que mudou na vida destas cafeicultoras foi o protagonismo que conquistaram ao se associarem à Cafesul,  produzirem cafés especiais, terem as sacas registradas em seu nome, participarem de concursos da própria cooperativa e também nacionais, onde concorrem com cafés produzidos por mulheres de todo o país.

Ivone, da comunidade de São Luiz, em Muqui, é uma das produtoras que está na cooperativa desde a primeira reunião com o objetivo de criar um núcleo feminino na Cafesul.

Ivone conta que foi criada na roça e que o plantio de café é natural na sua vida, já que sempre foi a principal fonte de renda da família tanto quando era solteira quanto após o casamento, já que o marido também é produtor rural.

´Meu marido sempre foi sócio da cooperativa, ia em confraternizações e sempre me chamava, mas eu nunca ia. Ele pedia a Natércia para me convidar a participar das atividades. Em 2014 comecei a participar e foi muito bom, levantou minha autoestima, fizemos muitos cursos`, relata.

A cafeicultora conta que em 2016 surgiu o nome Póde Mulheres dentro de uma capacitação do Sebrae em que ela e muitas outras participavam.

Com todo o conhecimento e as orientações resolvemos partir para o café especial, fizemos vários dias de campo para aprender ainda mais. Em 2018 comecei a fazer o café especial e fiquei em segundo lugar no concurso da cooperativa. Em 2020 fiquei em oitavo lugar na Semana Internacional do Café (SIC), competindo com produtoras do Brasil todo. Isso incentiva a gente. É muito empoderamento, muitas amizades, muita união com o grupo. É maravilhoso estar na cooperativa e no grupo Póde de Mulheres em todos os sentidos”.

E Ivone ainda conta, emocionada e com lágrima nos olhos, que em 2019 estava na Semana Internacional do Café realizada em Belo Horizonte quando ela e as outras produtoras foram para uma mesa de provas com cafés especiais produzidos só por mulheres, e que havia provadores de várias partes do mundo.

Ficamos do lado de fora esperando, quando um deles saiu e perguntou quem era Ivone. Eu chorei de tanta emoção por ver todo o meu trabalho reconhecido. Porque é muito trabalhoso produzir café especial. Realmente foi muito emocionante”, relata.

 

Produzir café especial é difícil, mas possível

Eliane é outra que fala com entusiasmo de sua participação na Cafesul e da importância do Póde Mulheres em sua vida. Ela está no grupo desde o início e mora na comunidade de Boa Vista, também em Muqui.

A cafeicultora diz que a produção de café faz parte de sua vida, já que ela também nasceu e foi criada na roça, no local onde mora até hoje, e sempre trabalhou na lavoura para ajudar primeiro os pais, e depois o marido.

Sempre trabalhamos em família. Nunca tivemos pessoas contratadas para trabalhar. Somos agricultores familiares e o café sempre foi nossa principal fonte de renda desde a minha infância. E a mudança que estar numa cooperativa traz é o companheirismo, parceria e o fato de aprendermos a importância de sempre estarmos preparados para as mudanças”.

Eliane Lívio de Almeida destaca que  trabalhar e fazer parte de uma cooperativa ensina que é preciso estar disposta a encarar mudanças em todos os setores da vida, em casa e no cultivo da lavoura.

A cafeicultora conta que depois que surgiu o Póde Mulheres várias oportunidades apareceram e todas trouxeram novos conhecimentos, novas ideias e novas amizades.

É uma experiência única que nos trouxe convivência com outras mulheres cafeicultoras.  Quando você vai numa Feira Internacional de Café há um novo olhar e um novo agir na maneira do cultivo, frisa.

Então, para quem sempre cuidou de café, aprender coisas novas sob orientação dos técnicos da Cafesul e contar com as visitas deles e também poder participar das visitas de campo foi fundamental, conforme pontua Eliane.

A gente sabe que fazer o café especial é uma missão muito difícil. Depende de muito amor, muito carinho, e acima de tudo, de muita dedicação para que tudo aconteça da melhor forma possível”.

 

Valorização do trabalho da mulher

Outra que fala com paixão da produção do café especial e da importância de fazer parte do grupo Póde Mulheres é Daiana Pinto Souza Carrari, moradora do Sítio Esperança, na comunidade de São Luiz, em Muqui.

Daiana conta que sua família sempre trabalhou na roça, mas só após o casamento é que começou a trabalhar na lavoura com o esposo e os sogros.

Foi a partir daí que comecei a entender mais sobre o café e sua cultura. Antes de fazer parte do Grupo Póde Mulheres e da cooperativa a nossa renda sempre foi do café convencional”, informa.

Daiana conta que as mudanças em participar da cooperativa foram imensas, não só nela, mas em todos na família, já que trabalham juntos.

Começamos a aprender que o café é um fruto, e como todo o fruto tem que cuidar do solo e da qualidade dele. Vimos a importância de estar cientes de como cuidamos dele até chegar na mesa do consumidor”, pontua.

As vantagens são muitas, aponta a cafeicultora. Entre elas, a valorização do preço das sacas no mercado e os investimentos que puderam ser feitos a partir do aumento da renda em função dessa melhora que proporcionou também qualidade de vida.

Daiana cita a instalação de energia limpa na propriedade, a energia solar, além da aquisição de despolpador, secador e máquina de pilar.

Além disso, complementa, foram feitos vários terreiros de cimento, e açudes, para que a água permaneça no local e evite os problemas já causados pela seca em anos anteriores, como em 2015, por exemplo.

Mas Daiana Guimarães aponta a valorização do trabalho das mulheres como uma das principais conquistas desta caminhada.

Tudo isto aconteceu graças ao apoio e orientações da cooperativa. As premiações e a melhoria no preço do café e tudo mais que temos conquistado nos dão a sensação de dever cumprido. A gente sabe o quão difícil é produzir um grão de qualidade, acima de 80 pontos. E nós, com orientações da Cafesul, e muito trabalho, conseguimos. Chegamos lá”, comemora.

 

Como tudo começou

A história dessas três mulheres e das demais associadas da Cooperativa dos Cafeicultores do Espirito Santo – Cafesul, que fazem grupo do Póde Mulheres, contou com o incentivo, valorização e olhar cuidadoso  dos gestores da cooperativa.

Muitas ações foram implementadas com o intuito de inserir as mulheres entre suas associadas e levá-las a alcançar protagonismo no campo e na rotina da cooperativa.

Quem conta como tudo começou é Natércia Bueno Wencioneck Rodrigues, Gerente Administrativa e Agente de Desenvolvimento Humano da Cafesul.

Segundo Natércia, alguns maridos já solicitavam que as mulheres, ativas na produção do café nas propriedades e peças importante nos resultados alcançados, fossem inseridas nas atividades da cooperativa.

Isso já era objetivo da Cafesul, esclarece Natércia, e em novembro de 2012, durante uma das ações anuais, foi pensada uma forma de atrair essas mulheres.

Como mulher pensei que uma forma de trazê-las para a cooperativa seria criar um dia de cuidados especiais, um dia de beleza com manicure, pedicure, maquiagem e cortes de cabelo. Um momento como esse aproxima para uma conversa, traz descontração e eleva a auto estima”, esclarece.

A estratégia deu certo e após esse dia os primeiros contatos foram feitos com as participantes e com outras mulheres de produtores que não compareceram à ação.

Minha abordagem era para despertar o interesse em participar de uma reunião com o intuito de formar um grupo só de mulheres, frisa Natércia.

As ações efetivas para criar um núcleo feminino da Cooperativa começaram em 2013 e no início de 2014, houve a primeira reunião já com a formação oficial do grupo com 12 mulheres.

Segundo a gerente administrativa, já pautada em uma metodologia visando extrair o máximo de informações sobre as necessidades e expectativas das mulheres e também para melhor orientação em projetos e trabalhos.

Natercia Wencioneck destaca que a pergunta chave para extrair as demandas foi: “Quais as dificuldades que você, mulher produtora, enfrenta na zona rural?”

Ela pontua que o grupo já nasceu ouvindo as mulheres e pensando nas mudanças necessárias para proporcionar diversificação de renda para as mulheres que trabalhavam nas lavouras e moravam na zona rural.

“Com isso seria possível melhorar a qualidade de vida e proporcionar a socialização das participantes entre si, com a cooperativa e com a sociedade, enfatiza.

 

 Como surgiu o nome “Póde Mulheres”?

Natércia Wencioneck conta que as mulheres do Grupo tinham dificuldade em colocar valor em seus produtos, como pães, bolos, artesanato, entre outros.

Para atender essa demanda, a Cafesul buscou junto à Associação Comercial um curso de Formação de Preço do Sebrae-ES.

Segundo a Gerente Administrativa e Agente de Desenvolvimento Humano da Cafesul, o curso veio mais completo, como ”Design e Gestão do Artesanato”.

Com este aprendizado, ressalta, além da formação de preço, tiveram inspiração para usar a cultura do município no artesanato. “Daí elas pintaram e bordaram literalmente as fachadas das casas nos panos de prato”.

Natércia frisa que a Cafesul já proporcionava oportunidade em estandes para vender os artesanatos nas festas, porém, não tinha um tag, uma etiqueta nos produtos que tivesse o nome do grupo para mostrar o trabalho desenvolvido, além do nome e dados da mulher que fez a peça.

“Então eu perguntei ao consultor que tinha experiência em designer se ele poderia nos ajudar a criar um nome para o Grupo. De cara o consultor falou: – É uma cooperativa de café. Porque não Póde Mulheres?”

As participantes do curso se empolgaram e entenderam que o nome caiu como uma luva, destaca.

“Estávamos com o projeto de montar uma torrefação. Logo fizemos um banner e colocamos em todos os coffee breaks que elas serviam. Nunca fizemos a tag, porque naquele mesmo ano as prioridades do grupo mudaram”, recorda Natércia.

Ela ressalta que o nome Póde Mulheres tem um duplo significado. Representa um jogo de palavras entre o poder da mulher e o pó de café.

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