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Ou somos mães, ou somos normais

escritoras-cachoeirenses2-07-01-23
Escritoras Cachoeirenses

Tenho três filhos e uma neta e, como uma boa capricorniana, sou protetora, responsável e agitadíssima, estou sempre fazendo duas coisas ou mais, ao mesmo tempo. Leio e ouço música, cozinho e cuido da casa, faço artesanato e assisto filmes, tenho dificuldade em parar.

Oposto a mim, meus filhos são parados, acordam e levam horas para despertar de fato, fazem tudo com muita calma e lerdeza, o que nos leva a algumas broncas e discussões.

Nessas discussões eles usam a seguinte frase:

– A senhora é doida!

Respondo no mesmo tom:

– Mas é claro que sou, vocês precisam entender que ou somos mães ou somos normais, as duas coisas não existem.

-Ah, agora a culpa é nossa? Argumentam.

A realidade é que com meus filhos recebi um dos maiores presentes da vida, o de me tornar um ser humano cada vez melhor, pois tive que aprender a lidar com inúmeros sentimentos, as vezes bons, as vezes difíceis.

A mulher quando se torna mãe deixa de ser vista como mulher, passa a ser tratada como alguém com superpoderes, capaz de resolver qualquer problema e, de fato, por nossos filhos encaramos a maioria deles, mas nem sempre damos conta.

Foi em um desses dias que decidi que eu precisava rezar. Eu estava exausta, duas meninas pequenas, uma de cinco e outra de três anos que não paravam por um segundo, eu não tinha tempo nem para ir ao banheiro, tomar um banho decente, rezar, comer, dormir, tudo era às pressas e pela metade.

Para me acalmar, decidi rezar apenas um pai nosso, oração curta e rápida. Sem privacidade, sem um lugar que eu pudesse ficar sozinha por alguns instantes, olhei para a casinha da Barbie que ficava na sala. Minhas filhas brincavam na varanda e não me veriam lá dentro. Entrei, me ajoelhei e comecei minha oração.

PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU, SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME, VENHA NÓS O VOSSO REINO, SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, ASSIM…

Num susto, puxei minha perna, dei um pulo e minha oração foi interrompida pela metade. Saí da casa esbravejando enquanto ouvia os risinhos e as duas já haviam corrido o suficiente para desaparecerem da minha vista.

Até os dias de hoje, vinte anos depois, não sei qual das duas mordeu meu calcanhar, enquanto eu tentava rezar. Tem como ser normal?

Mércia Souza. Nasceu no interior do Espírito Santo e, aos 12 anos, iniciou sua paixão pela escrita e leitura. Aos 17 casou-se e a vida corrida de dona de casa e mãe fez com que abandonasse a escrita e diminuísse seu tempo com a leitura. Há 4 anos, redescobriu sua paixão e se tornou autora de dois romances. Atualmente, vive com seus três filhos em Cachoeiro de Itapemirim.

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