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A escolinha

escritoras-cachoeirenses2-07-01-23
Escritoras Cachoeirenses

Penso que “o primeiro” é algo nunca esquecemos. O primeiro tombo de bicicleta, a primeira ferroada de uma abelha, a primeira voz, o primeiro rosto, a primeira impressão. Mas, nesta vida, ainda jovem, reflito hoje a minha primeira professora, da minha primeira escolinha.

No interior do município de Cachoeiro de Itapemirim-ES, em uma comunidade conhecida como Pedra do Itabira, havia uma escola pequena, mas bela. Recordo apenas da sala, da dispensa, dos banheiros, do pátio e do muro que cercava sua estrutura e que me dava medo.

Da minha casa até a escolinha, eu tinha que andar por 15 minutos. Havia um atalho, mas, quem tomasse o atalho entre os cafezais, precisaria pular o muro, e aquele muro me assustava. Nos dias que meus colegas queriam me fazer chorar (e isso não era difícil, pois eu só tinha tamanho e chorava à toa) eles me deixavam para trás, para dar a volta sozinha, pois mesmo que menores, pulavam o muro, seguindo pelo atalho.

Foi nessa escola que conheci a intriga. Não esqueço de quando me enganaram e saí como errada da história. Coisas de crianças, mas aprendi muito neste dia. Lembro do gosto da pasta de dente, e de usar as escovas novas, aprendendo a escovar os dentes, podres de tanto comer as balas escondidas no rádio amarelo e velho do meu avô.

Da dispensa, lembro do leite em pó, em uma embalagem azul e cinza, de três quilos, que carregava feliz para casa quando sobrava, e comia puro mesmo. Não posso esquecer da sopa de letrinha, feita de um macarrão que eu não gostava, mas que, com o tempo, fui me acostumando com o gosto; pena que tarde, pois o costume veio quando saí da escola.

Do pátio, me recordo do chão de areia, onde brincávamos de bandeirinha e pique pega. Nunca gostei de exercício, nem que corressem atrás de mim, penso que isso me fez reprovar, um bimestre mais adiante. Nos fundos da escola, ficava o corredor que, quando me sentia com coragem, corria, brincando com os amigos, mas isso era raro. Apenas uma amiga me fazia correr, me ensinava a correr rápido. Nunca esqueço de suas canelas finas.

Da sala, além do quadro e das cadeiras, faço memória do mimeógrafo com seu cheiro de álcool que tomava a sala, mas era de uma tecnologia única que conquistava o interesse de todos.

Como posso esquecer da cozinha, onde era feita a sopa que mencionei anteriormente, mas nela minha professora dividia seu tempo, pois, além de ensinar, cozinhar também era seu ofício. Lembro dela experimentando a canjiquinha. Além de ótima professora, era excelente na cozinha. Como ela dava conta? Em dias especiais, subíamos para sua casa, onde sua mãe costumava preparar o lanche. Uma vizinha lhe ajudava no preparo do lanche, enquanto seu irmão estudava.

Houve um tempo que a educação era sagrada, respeitada, importante, como o professor. E olha que o tempo era difícil, mas vivíamos com mais calma e buscávamos ser mais felizes e mudar de vida.

Hoje, a escolinha não existe mais, apenas nos restam as lembranças. Que saudades desse tempo, quando eu era feliz e não sabia.

Dandara Dias. Mulher, negra, filha de lavradores, professora e historiadora. Descobriu-se negra tardiamente, devido ao racismo estruturado em nossa sociedade, e atua como ativista antirracista desde sua formação como docente aos 21 anos e, desde então, está na luta por um lugar de fala. Encontrou-se escritora aos 28 anos, após retratar suas lutas através da escrita. Valoriza a história local e a oralidade. Além disso, é artista, agente cultural, ambientalista, feminista e educadora social.

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