CHICÓ NA IMERSÃO ENOLITERÁRIA
Chicó estava andando pelas ruas quando avista o amigo João Grilo e sai correndo para lhe contar sobre a imersão enoliterária. E assim inicia-se o ato:
Chicó:— João você sabe que dia foi ontem?
João Grilo: — Mas é claro que sei homem!
Ontem foi sábado ou tá achando que sou algum lesado?
Chicó: — Ora! Deixa de ser bobo! Eu quero saber é se tu sabe que dia do mês, porque eu tô achando que tu não sabes nem em que mês estamos ou sabes?
João Grilo: — Ora deixa de doidice Chicó . É claro que sei! Nós estamos na primavera, a estação das flores. Olhe os ipês como estão floridos!
Chicó: — É verdade! Podia ser assim o ano todo. Esse colorido traz vida, até o ar fica perfumado!
— Chega a ser intrigante ver tantas flores, enquanto a seca toma conta de tudo, não é mesmo!
João Grilo: — Como sempre, você tem razão, Chicó! Mas fale logo, o que você ia dizer de tão importante que eu precise saber o mês que estamos?
Chicó: — É que quero lhe contar uma experiência que vivi, sabe?
João Grilo: —Deixe de prosa e diga logo o que tens para me contar?
Chicó: — É que numa de minhas andanças fui numa cidade lá pras bandas do Espírito Santo.
João Grilo — Ora, Chicó, você larga de estória, homem. Como foi parar lá?
Chicó: — Não é estória não, João! Eu juro pela virgem Nossa Senhora que o que vou falar é verdade!
João Grilo: — Então desembucha logo, que tô curioso!
Chicó: — Como eu ia dizendo, estava caminhando sem rumo pelas estradas. Andei tanto que acho que desmaiei de cansaço. Quando acordei, estava num lugar bem diferente com um monte de gente bonita, nem te conto!
João Grilo: — Conte Chicó! Como eram essas pessoas? O que elas tinham de diferente?
Chicó: — Está bem! Vou lhe contar tudinho que vi, preste atenção! Nessa cidade que eu fui, vi muita gente correndo, andando, mas o que me chamou mais a atenção foi ver que algumas estavam só com as roupas de baixo.
Não entendi foi nada! Então, resolvi seguir de longe pra ver onde esse povo sem roupa estava indo.
E aí João, você nem imagina o que eu vi.
João Grilo: — Arre égua, fale logo Chicó! Que já estou me comichando é todo, de tanta curiosidade.
Chicó: — Enquanto eu seguia aquela gente, eu vi com esses olhos que um dia a terra há de comer.
João Grilo: — E foi? Então diga, diga logo Chicó!
Chicó se mexeu prá cá e pra lá e resolveu continuar sua estória, dizendo:
Chicó: —João, foi bonito demais! Era tanta água que cheguei ficar tonto! Enquanto meu corpo ia caindo, deu pra ouvir alguém falando de uma tal Marataízes, e aí não lembro de mais nada!
Apagou tudo!
João Grilo: — Mas não entendi! Tu disseste que tinha algo pra me contar e é só isso?
Que estória maluca é essa? Estou achando é que tu tomaste muito sol na moleira e delirou.
Chicó: — Que delírio, que nada! Estou te falando, é verdade! Mas se você ficar me interrompendo toda hora, como vou lhe contar tudinho que eu vi?
João Grilo: — Está bem, vou ficar mudinho, porque quero saber dessa estória todinha viu. Agora continue, conte mais!
Chicó: — Num ponto você tem razão, João. O sol lá estava quente por demais e como já tinha muito tempo que não comia nadinha acabei desmaiando. Mas veja você, que acordei com um monte de gente à minha volta. Gente bacana, pessoas caridosas me deram água, comida e foi um banquete. Cheguei a ficar tão estufado que procurei um canto pra tirar uma soneca.
Foi quando acordei que percebi que já estava em outro lugar.
João Grilo: — Outro lugar, Chicó? Mas como assim?
Chicó: — É que como o calor era escaldante, pensei em me refrescar naquele mundo de água.
Mas quando fui ver, a água tinha sumido. Já não tinha mais ninguém com roupa de baixo. Era uma confusão de gente pelas ruas, um monte de carro. Tudo muito diferente!
João Grilo: — E foi? Como assim, Chicó?
Chicó: — Eu juro por Deus e Nossa Senhora de que tô falando a verdade!
João Grilo: — Se você jura, então acredito! Mas me conte, como você saiu dessa, Chicó? Onde você foi parar?
Chicó: — Olhe, depois que o susto passou foi que me dei conta de que tinha me recostado na caçamba de um caminhão. E pelo jeito, este foi parar nessas bandas comigo dentro, num sabe?
João Grilo: — Minha Nossa Senhora, coitadinho de você Chicó! E aí, o que aconteceu depois?
Chicó: — E aí que fiquei ali, andando e olhando, até que a noite chegou.
João Grilo: — Valha-me Deus e Nossa Senhora! E aí, conta logo, Chicó! O que mais aconteceu?
Como é que você voltou para casa?
Chicó: — Mas espera aí! O que você quer saber primeiro? O que eu vi enquanto andava e olhava ou quando a noite chegou? Porque como eu voltei pra casa é outra estória.
Joâo Grilo: — Quero saber o que você viu?
Chicó: — Então, limpa bem os ouvidos que vou contar uma vez só…
Continua no próximo domingo