Na fila da lotérica, uma mulher começa a chorar.
Não é escândalo, apenas um pranto baixo — daqueles que escapam mesmo quando se tenta esconder.
As pessoas ao redor ajeitam os papéis nas mãos, fingem ler avisos colados na parede, consultam o celular sem necessidade.
O movimento não é planejado, mas funciona como um acordo silencioso: ninguém vai perguntar nada.
Não se trata de indiferença. É medo.
Aproximar-se do sofrimento do outro significa entrar em terreno incerto, abrir espaço para histórias que podem pesar mais do que se pode carregar.
Quem se arrisca corre o risco de ouvir pedidos de ajuda, de ter o próprio dia alterado, de encarar dores que não têm solução rápida.
Por isso, mantém-se a distância.
A mulher chora em pé, com as contas ainda na mão, e os outros esperam a senha piscar no painel para seguir adiante.
O incômodo dura pouco: logo o barulho das conversas e o chamado do caixa abafam tudo.
Evitar é mais fácil.
E o medo não é apenas de se envolver demais com a dor alheia, mas de encontrar nela o reflexo da própria fragilidade.

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