Ainda ecoam as vozes e o luto pelos jovens mortos nas comunidades do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro.
Chamar o que aconteceu de “operação policial” é minimizar uma tragédia.
E esse fato expõe, mais uma vez, o quanto o país se acostumou a ver seus filhos negros e pobres tombarem sob o pretexto da segurança pública.
Foram mais de 120 vidas interrompidas, vidas que poderiam sonhar com um futuro diferente se houvesse oportunidades reais que levassem dignidade às comunidades país afora.
E não se trata de defender bandidos, como ecoa por aí. Mas não há justificativa possível para o massacre. O combate ao crime é necessário, urgente e inadiável.
Mas ele precisa vir acompanhado de ações eficazes e humanas, que respeitem direitos e promovam cidadania.
Segurança pública não se faz com sangue, mas com políticas que transformem territórios vulneráveis em espaços de vida, cultura, educação e trabalho.
É urgente romper o ciclo que reduz o enfrentamento ao tráfico a uma guerra nas comunidades.
Porque o tráfico não está apenas no alto do morro, ele circula nos salões, nas campanhas políticas, nas apostas on-line, nas fintechs e nos postos de combustíveis usados para lavar o dinheiro do crime organizado.
Enquanto o Estado mirar apenas para baixo, os verdadeiros financiadores do tráfico continuarão intocados, multiplicando fortunas sobre o sofrimento de quem nasceu com menos.
Sufocar o tráfico é também sufocar seus patrocinadores. É seguir o rastro do dinheiro, desmontar as redes de lavagem e cortar o fluxo financeiro que mantém o crime armado.
Sem isso, qualquer operação policial será apenas mais um capítulo de uma guerra sem fim.
O Brasil precisa de coragem política e compromisso ético para mudar essa lógica.
A polícia deve agir com inteligência e preparo, mas sua força precisa ser seguida de políticas públicas que garantam o que hoje falta.
Infelizmente faltam escola de qualidade, cultura, esporte, saúde, moradia e trabalho. É nesses pilares que se constrói a verdadeira segurança.
Não são as comunidades as inimigas. A inimiga é a desigualdade, é a omissão, é o lucro que nasce do crime e da indiferença.
Combater o tráfico é proteger a vida, todas as vidas, e fazer com que o Estado deixe de ser presença apenas na bala, para ser também presença na esperança.
Enquanto o país continuar escolhendo quem pode viver, jamais haverá paz. É hora de o Brasil reagir com sensibilidade, com força e com justiça.
Este texto expressa a visão pessoal de seu autor. No Dia a Dia, valorizamos a pluralidade de ideias e o debate respeitoso

👉 Receba as notícias mais importantes do dia direto no seu WhatsApp!
Clique aqui para entrar no grupo agora mesmo
✅









