Com a chegada do óleo no litoral Sul da Bahia, os capixabas começaram a se preocupar com os efeitos desse material no mar capixaba. O governo do Estado já criou um comitê emergencial para caso a mancha chegue ao Espírito Santo.
Uma equipe da Secretaria de Estado do Meio Ambiente vai à Bahia para conhecer as ações preventivas e fazer uma visita in loco. O município de Conceição da Barra, que pode ser o primeiro a receber as manchas, também tem se preparado com a elaboração de um plano de ação e monitoramento dos efeitos desse material nas praias barrenses.
Nesta semana, o município de Linhares também organizou um comitê para tratar do assunto, já prevendo possíveis prejuízos socioambientais e econômicos.
As manchas de óleo, que apareceram pela primeira vez no mar da Paraíba, já atingem 249 locais em 92 municípios de nove estados. A possível chegada desses resíduos no mar capixaba passaria ainda pela região de Abrolhos, que é o primeiro Parque Nacional Marinho e com a maior biodiversidade marinha do Brasil e do Atlântico Sul.
Sobre o assunto, a nossa equipe conversou com o oceanógrafo e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Agnaldo Martins.
O Estado já vem se organizando para saber como atuar caso o óleo chegue ao litoral capixaba. Como você avalia essa iniciativa?
Agnaldo Martins – O que está acontecendo no Espírito Santo, o que eu acho que é bem mais positivo do que aconteceu no Nordeste, é que o Estado está montando uma mobilização de emergência e isso é importante, porque são centralizadas as ações e esse grupo vai solicitar os reforços onde é necessário. O grande problema é que a gente não sabe onde foi o vazamento, nem a quantidade e nem o tipo de material que vazou, a gente sabe o material que está chegando na praia, mas não o que vazou exatamente.
Você acredita que essas manchas de óleo podem chegar ao Espírito Santo?
Qualquer afirmação sobre o que vai chegar e quando vai chegar é meio que um “chute”. É possível chegar sim, mas a direção dos ventos e correntes marinhas mais comum no litoral da Bahia não são favoráveis a transportar esse material para cá. E além disso, se ele for transportado pela região da costa, a Bahia tem muitas áreas de recifes costeiro que seriam áreas de aprisionamento, que acabariam prendendo essas manchas nessas regiões. Então eu acho que mesmo que esse material se desloque em direção ao Sul e chegue ao Espírito Santo, muita coisa vai ficar parada nesses recifes que a gente tem ao longo de todo o litoral da Bahia.
Essa região de corais também abrange o Parque Nacional de Abrolhos.
Sim. São áreas que, tomara que não chegue, porque são muito sensíveis. [Abrolhos] É a área mais importante de recifes de corais do Atlântico Sul e seria um grande desastre se chegasse lá, mas de certa forma isso também protegeria o Espírito Santo, porque grande parte [do material] ficaria retido nos recifes, o que reduziria as chances de chegar ao nosso litoral. Mas chegar lá, seria impactante não somente para a Bahia.
De fato, quais são os impactos que essas manchas trazem ao meio ambiente?
Esse óleo, que é extraído do fundo do mar ou de poços de petróleo, ele já existe na natureza, o problema é que ele está muito concentrado e quando esse piche fica em cima de uma área de recife por exemplo, um ambiente muito sensível, ele acaba sufocando esses organismos, eles não conseguem respirar, não chega luz, não troca oxigênio e aí pode acabar matando todos esses organismos do fundo que é a base da cadeia alimentar. Esse impacto sobre o ecossistema ele é mais grave porque se ele mata a base cadeia alimentar todos os outros organismos que dependem dessa base não vão poder viver mais ali. Até porque esses ambientes de recifes de corais podem levar milhares de anos para se formar. então se eles são sufocados e morrem não tem uma recuperação muito rápida
Durante as primeiras aparições da mancha de óleo no Nordeste, a preocupação também rondava em torno das tartarugas. Como esses animais estão sendo afetados?
Tem vários animais maiores, e isso normalmente está acontecendo com aves e tartarugas. Se eles entram em contato [com o óleo] isso pode também gerar um sufocamento, se tapar a narina, a parte de respiração. Eles podem engolir também esse material obstruindo o sistema digestivo e eles não conseguem se alimentar mais, ou se alimentam, mas não conseguem digerir e acabam morrendo de fome. Outro problema também é que o óleo quando atinge as penas das aves, elas ficam desarrumadas e a água entra em contato diretamente com a pele da ave e ela pode morrer de frio, ela perde o calor.
Existe algum tipo de perigo em relação à contaminação?
Não é descartável que possa haver algum problema de contaminação química, mas não é um material estranho na natureza. É estranho a quantidade muito grande como está tendo agora. Claro que é recomendável que qualquer pessoa que veja manchas assim, evite o contato e se vir isso [a mancha] na água, não entrar no mar nesse momento, porque na água a a gente não tem como controlar e a mancha pode vir para cima de você mesmo se você não quiser e aí esse material gruda, né? Mas eu acho que o efeito mais importante é físico – não químico – de obstrução do contato que sua pele tem como meio externo.