A indagação – “quem sou eu?”, talvez seja menos analisada do que a afirmação – “este sou eu”, pois algumas pessoas creem saber quem, realmente, são. Mas não seria apenas uma fração da nossa consciência que vai além do que consideramos ser o mais importante – a mente?
O yoga é uma das ciências que nos ensina que a mente, que julgamos conhecer, é apenas o modo usado para nos expressar “no mundo das formas”. Os papéis, os personagens, as personalidades, ou as personas que compõem a nossa consciência são algumas das formas que mantêm o equilíbrio ou não de nossa existência. O objetivo condizente ao bem-estar é deixar com que os papéis exerçam suas funções, mantendo a capacidade de nos adaptarmos em diferentes situações, pois a mutabilidade é inevitável.
Mas não seria apenas uma fração da nossa consciência que vai além do que consideramos ser o mais importante – a mente?
O filme – Jim e Andy – discorre sobre a estagnação do personagem Andy na vida de Jim Carrey, a incorporação deste papel, praticamente, se tornou o protagonista em sua vida; quebrando qualquer espécie de espontaneidade, deixando a rigidez guiar seus passos em um mundo irreconhecível por si mesmo e por todos os que o cercavam.
A inflexibilidade colide com a libertação, ou melhor, o processo do autoconhecimento, o que fere um dos princípios do Yoga – “ahimsa” (não violência ou atrito), o que acaba gerando frustrações, pois se algo ruim acontece, provavelmente, causa sofrimento, devido à imposição e a sensação de um “plot twist” (ponto de virada/ reviravolta no enredo) da vida.
A inflexibilidade colide com a libertação
Com a prática do fluir com os personagens que fazem parte de nós, ou passam a fazer, garantimos uma investigação de nossos papéis, pela auto-observação, a ponto de sabermos em quais momentos uma persona é, ou não, bem-vinda a um momento; como Carey, que percebeu que deveria se afastar de Andy, já que ele o enrijecia e gerava vários atritos em sua vida, causando o sofrimento.
A percepção do ator quanto à época em que foi tomado pelo status – ser Andy, e não mais estar Andy, ainda o assusta e o leva ao questionamento – “quem sou eu?”. Pode ser que esta indagação tenha surgido durante esse período, ou até mesmo antes disso, mas a busca pela afirmativa – “este sou eu”, é possível que ainda esteja no processo de exploração.
Os atores, inevitavelmente, exercem por um certo tempo um personagem. Nós também somos passíveis de os incorporar por diferentes razões, a questão não se encontra ao fato de explorarmos, mas de estagnarmos, ou até mesmo, forçarmos um papel que não condiz com nossos princípios. A ação de forçar traz o sofrimento, ou apenas o intensifica, pois quebra a fluidez dos papéis que possuímos, por mais que não sejam perfeitos, quando conhecidos passam a ser harmônicos entre si, pois respeitam o status de estar e o de ser.
O ser não se limita, mas os observa e aprende que somos muito mais que pele, ossos, mente, desejo, somos tudo e nada, talvez sejamos a interrogação que proporciona a introspecção ao ser, à nossa consciência e à nossa própria existência.