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Filme: Encanto – o verdadeiro milagre são as pessoas que amamos

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Quando ouvimos os relatos de pessoas que, por vários motivos e intempéries da vida, passaram por dificuldades, mas que conseguiram, com muito esforço, abdicação e um pouco de sorte, transpor alguns desses maiores problemas, qual é a fala quase que unânime, entre todos eles? Penso que seja essa aqui: meu sonho sempre foi conseguir dar uma casa para minha mãe. Ou: meu primeiro objetivo sempre foi conseguir uma casa digna para minha família. Quando nos lembramos de artistas, atletas, trabalhadores de quaisquer áreas e quando buscamos na memória as entrevistas – se forem pessoas famosas – ou os desabafos íntimos daqueles que alcançaram o sucesso pessoal, mesmo não sendo pessoas públicas, a imensa maioria deles tinha como maior sonho e objetivo em suas vidas poderem oferecer uma casa digna para suas mães e suas famílias. Aliás, é quase impossível não fazermos essa relação quando pensamos na palavra família. As imagens que, imediatamente, nos lembramos são aquelas que guardamos em nosso acervo pessoal de sentidos e conexões a essa palavra: pessoas ao redor de uma mesa na copa ou na cozinha, quintais com animais e hortas, as paredes dos nossos quartos da infância e da adolescência, os móveis que sonhamos comprar, os lugares que cada um de nossos parentes gostava de ocupar no sofá da sala, irmãos pedindo, aos gritos, a toalha de banho esquecida, enquanto se cobrem com a porta do banheiro entreaberta, a pia cheia de pratos e copos que esperam para serem lavados ou o antigo piso da varanda antes de alguma reforma.

Família é casa – em seu sentido mais palpável e material. E também é lar – em sua condição mais inefável e afetiva.

O filme Encanto – 2021, disponível na Disney plus – conta a história de uma família desfeita pela violência: ao abandonarem sua casa, fugindo de alguma guerra ou disputa que o filme não deixa claro qual é, uma mulher com três filhos perde o marido durante a fuga e, em seu momento de maior dor e desespero, recebe – como que por meio de um milagre – uma vela encantada que dá a ela um lugar seguro para viver. Protegida por altas montanhas, essa casa mágica se transformará no centro de um pequeno vilarejo, onde ela poderá abrigar e criar – em segurança – seus três filhos. A partir de então, cada membro da família será agraciado com um talento mágico que deverá ser usado para o benefício e o cuidado de toda a vila. Os três filhos daquela mulher crescem e se casam, também têm seus próprios filhos e é nesse ponto da história que conhecemos Maribel – neta da mulher que recebeu a vela mágica e a única integrante da família Madrigal que não recebeu nenhum dom encantado, mas que será a responsável por perceber de que forma esses dons estão sendo empregados e o que isso tem custado à sua família.

Somos uma sociedade majoritariamente formada por famílias que passam por todos os tipos de dificuldades e penúrias: avós que eram lavadeiras e avôs que trabalhavam na lavoura e, por isso, não conseguiram dar aos filhos uma educação que chegasse até o ensino médio, muito menos até a faculdade.

Famílias sem teto e sem terra, descendentes daqueles que, mesmo trabalhando a vida inteira, não conseguiram deixar nenhuma herança para os descendentes, pois só conseguiam ganhar o precário sustento para sua própria existência. Famílias que perdem tudo em catástrofes naturais ou que abandonam tudo, fugindo da violência sem controle. Somos gerações e mais gerações de indivíduos que vimos nos nossos dons o único caminho para uma vida mais digna e menos dura: aprendemos que é só através do trabalho – de colocar nossos dons a serviço da sociedade – que poderemos suprir as necessidades da nossa família, que poderemos tentar não passar novamente pelos sofrimentos que nossos antepassados viveram.

No entanto, se tantos de nós sabemos que só temos os nossos dons e nossa força de trabalho para tocar a vida e nos mantermos de pé, porque estamos nos envenenando e nos corroendo, dia após dia, perdendo nossas forças, apagando nosso encanto pela vida e por aquilo que temos de mais sagrado e fortificador?

O fruto do nosso trabalho – dos nossos dons encantados – deixa de ser um milagre quando retiramos dele o seu sentido mais humano e abençoado: a manutenção da vida plena e benéfica. O trabalho – nesse início de século 21 – tem se tornando um fim em si mesmo.

Adoecemos porque trabalhamos para bater metas e não para retornarmos para casa, ao fim do dia, e abraçarmos nossos filhos com a paz de quem tem comida na mesa. Murchamos e nos contorcemos, diariamente, porque trabalhamos mais, mesmo sem ter forças, por medo de sermos despedidos ou substituídos – e mais horas de trabalho significam mais tempo longe daqueles que amamos e que precisam sim do nosso salário, mas que também precisam do nosso colo, abraço, risadas, conversas e ouvidos. Assim como a personagem Luisa, a mulher de força sobre-humana que não pede ajuda e não aceita que precisa descansar, nos sentimos invisíveis sem nossas profissões, esquecidos pela sociedade se não usamos um crachá – acreditamos que sem as nossas funções e sem os nossos rótulos profissionais não somos alguém, não existimos. Acreditamos, infelizmente, que somos profissionais antes mesmo de sermos um indivíduo, uma pessoa. A precarização do trabalho é a precarização das nossas vidas, das nossas relações afetivas – porque ela nos rouba a razão principal e o mais sagrado motivo pelo qual devemos nos levantar todos os dias – que não é o lucro crescente das empresas, nem os sonhos enlatados que nos fazem sonhar só para gastarmos nosso dinheiro custoso e girarmos a economia, que não é a aprovação da sociedade do espetáculo que se engana acreditando que likes são sinônimos de afeto –

nos levantamos todos os dias para abraçarmos nossas mães, para olharmos nos olhos dos nossos irmãos, para acompanharmos nossos pais em passeios pelas calçadas, para ensinarmos nossos filhos a andar, a ler, a escrever e a amar.

A animação Encanto nos encontra em um período da nossa história em que nos pedem para trabalharmos para retomarmos a economia do país, para que sejamos os corpos e mentes que façam esse esforço descomunal de produzir lucro à custa do nosso cansaço e desesperança. Mas eu digo, após assistir a essa terna e tão acertada animação, que precisamos colocar nossos corações à obra para reconstruirmos as nossas famílias, as famílias devastadas pelas mortes e pelas perdas irreparáveis. Pois eu digo que devemos dar às horas de trabalho e ao uso dos nossos dons sua importância devida, porém pontual – ou seja, nenhum segundo a mais dos nossos dias -, pois se destruirmos nossos corpos com cansaço e mutilações e se esgotarmos os nossos afetos amando e admirando somente os nossos cargos e dons e não as pessoas, mais cedo ou mais tarde, a “economia” se apruma e segue gerando lucros para algumas poucas pessoas que nem sequer conhecemos o rosto, esse é o rumo bastante provável das coisas. Porém, nossas famílias, nossos lares e as pessoas que amamos, quando se vão, nós as perdemos para sempre e não assistiremos discursos ou notícias de telejornal pedindo a ajuda necessária para reconstruímos nossas vidas ou remendarmos nosso próprio coração. Nossos dons servem, acima de tudo, a nós mesmos e nós devemos usá-los de uma forma gentil – que não nos machuque ou esgote – para que tenhamos a fibra e o afeto necessários para cuidarmos e zelarmos por aqueles que amamos.

Qualquer coisa que nos convença do contrário nos leva a cedermos às manipulações canalhas e a acreditarmos nas mentiras que nos usam e que têm como objetivo somente a nossa angústia produtiva e a tão praticada exploração que aceitamos sorrindo, mas que nos autodestrói.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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