A produtora cultural e atriz cachoeirense Amanda Malta lançou no dia 25 de janeiro o projeto cultural “Dez em Uma”, que nasceu de sua inquietação, e ao mesmo tempo que o seu coletivo teatral, o Surto Cênico, que em janeiro agora fez um ano de existência.
Ela conta que sem verba alguma uniu parceiros da área artística e elaborou performances urbanas que dialogam sobre questões que considera importante abordar junto à sociedade cachoeirense.
Apesar de ter tempo extenso na área teatral, Amanda sempre atou em parceria com outros coletivos ou grupos, e durante a pandemia sentiu a necessidade de criar o seu próprio coletivo.
Segundo ela, as parcerias em 2021 deram tão certo que ela compreendeu que o projeto merecia um apoio financeiro. Em função disso resolveu inscrevê-lo em um edital de fomento à cultura e de diversidade cultural do Estado e obteve o sucesso.
O projeto “Dez em Uma” foi contemplado e o ponto de partida vem de onde surgiu a ideia. Especificamente a destruição do Teatro Municipal Rubem Braga no dia 25 de janeiro de 2020 pela maior enchente da história recente do município.
Amanda diz que isso reverberou e ainda reverbera na arte e cultura de Cachoeiro de Itapemirim, nos artistas e no abandono que completou dois anos em 2022.
Cadê o Teatro que estava aqui
A primeira performance do projeto foi realizada no dia 25 de janeiro de 2022. Denominada “Cadê o teatro que estava aqui?”, abordou sobre os dois anos sem o Teatro Municipal Rubem Braga.
A segunda performance será realizada nesta segunda-feira (14) às 11h e homenageará a personalidade Luz Del Fuego.
Será abordada a temática feminista. “A performance tem a parceria com a bailarina Gabriela Prado e terá início na residência da atriz. O percurso será até a Casa de Dora Vivácqua”, frisa Amanda.
Segundo ela, no caminho acontecerão paradas em frente ao Teatro Municipal Rubem Braga, Loa Leader, na Praça dos Taxistas e finalmente em frente da casa em que Luz Del Fuego morou.
“A ideia é fazer uma ligação através do tempo e espaço entre uma mulher anônima, no caso eu. A outra mulher, que apesar de ser tão importante historicamente para as mulheres no Brasil e ser muito reconhecida nacionalmente, é ainda para a maioria da população de Cachoeiro de Itapemirim uma mulher anônima”.
Amanda Malta diz que a partir dessa ligação provocar questionamentos e reflexões a outras mulheres que habitam a cidade, sobre suas existências, medos, escolhas e pressões que vivem diariamente.
A primeira performance
A performance do dia 25 de janeiro foi orientada pelo ator e diretor teatral Luiz Carlos Cardoso e teve como proposta ser itinerante, destaca a produtora cultural.
A ação teve início na casa dos Braga e seu percurso foi até o Teatro Municipal. A performer trajava um figurino todo preto, mascará preta, uma mala antiga de onde saiam rolos de barbante.
“Eles se conectavam até chegar ao teatro. Rosas ficavam em pontos estratégicos, como no busto de Newton Braga, pedaços de gesso que a performer usava para riscar o chão escrevendo o nome da performance “Cadê o teatro que estava aqui?”.
“Ao final uma placa que continha a mesma frase foi deixada nas escadarias do teatro. Uma violinista me acompanhava por todo percurso, tocando melodias fúnebres” explica a performista Amanda.
A atriz conta que “Cadê o teatro que estava aqui” de 2022 traz muito mais que o luto da destruição do espaço físico.
“Traz também a inquietação do silêncio ensurdecedor que há hoje em Cachoeiro de Itapemirim na área artística, traz a revolta do abandono, traz o retrato sombrio de como a sociedade lida com a arte nesse país, traz a resistência dos artistas em meio ao caos”, pontua.
A lista é longa, enfatiza Amanda Malta. Ela questiona não somente a falta que o Teatro Municipal faz para a vida profissional de inúmeros agentes de cultura, mas também onde está o teatro, o fazer teatral além da caixa cênica.
“Se não o temos agora, deveríamos ocupar as ruas, os bares, as pontes, as escolas, todo lugar. A performance é um chamado e um grito. Onde estamos todos?”
E foi transformador em uma hora e meia de ação ver a reação das pessoas na rua, os questionamentos que elas faziam ao me ver, muitas entenderam o que eu estava ali expressando e também a mim como artista, me faz pensar, existir e resistir.
Hoje eu fui à casa do Rubem, precisava chamar ele e traçar um fio de esperança no caminho do Teatro em Cachoeiro de Itapemirim.” Amanda Malta.
SAIBA MAIS
Performance I
Orientação: Luiz Carlos Cardoso
Instrumentista: Isabella Pezzini
Performer: Amanda Malta
Técnica: Anderson Dario
Performance II
Orientação: Gabriela Prado e Amanda Malta
Apoio criativo: Luiz Carlos Cardoso
Performer: Amanda Malta e Gabriela Prado
Técnica: Anderson Dario