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A arara azul

Lorena_Marchesi
Lorena Inocência Marchesi Caetano

No alto do edifício pousou uma arara azul e ouviu pela janela as notícias da TV. Aprendera a língua dos humanos pela convivência. Eles um dia invadiram a mata, e ela então invadiu a cidade. Ficava hora cá, hora lá. Ia e vinha quando queria, pois os bichos também aprendem outros costumes.

“O Governo Federal começou hoje a demarcação das terras destinadas à Reforma Agrária. Pelas imagens vemos alguns dos ‘sem-terra’ sendo chamados para receberem as escrituras de suas propriedades, onde deverão plantar, com a ajuda do próprio Governo.”

“Demarcação de terras?!” Exclamou.

“De quê você está falando?” Perguntou outra arara, recém-chegada.

“O Governo está dando terras para serem plantadas! Acabo de ouvir da televisão!”

“E daí?! Esse assunto é antigo. Desde que eu era só um pinto já ouvia falar disso.”

“Mas agora é de verdade! Mostrou as pessoas sendo chamadas para receberem sua parte! Não é ótimo?!”

“E o quê que isso tem a ver com a gente? Por que tanto entusiasmo!?”

“Ora… raciocina: Se eles estão dando terras para pessoas que não tinham nada antes, podem nos devolver as terras que eram nossas!”

“Ah. Então vamos entrar na fila e esperar que nos chamem!? Acorda, menina! Isso nunca vai acontecer!”

“Não enquanto não lutarmos pelo que é nosso! Essas pessoas primeiro entraram na terra de alguém. Aí esse alguém ficou muito bravo e chamou a Imprensa. Então um repórter mostrou as pessoas com machados e enxadas ameaçando derrubar as cercas. Daí apareceu um político querendo ganhar vantagens, que escreveu um projeto de Lei, fez um discurso na Câmara, convenceu os outros deputados e as pessoas ganharam as terras. É simples! Só faltava vontade política.”

“Vontade política. Agora eu já ouvi de tudo.”

“Ouça! Na televisão eles ensinam tudo sobre o mundo dos humanos.” Dizia, enquanto observava admirada as imagens que passavam uma após a outra. Tão diferente em aspecto daquele corpo estirado no sofá, sem camisa e de olhar lânguido, que podia atravessar a parede e encontrar o horizonte por trás das nuvens.

“Já sei!” Voltou-se num susto que arrancou um grito de sua companheira.

“Vamos invadir o espaço de alguém.”

“Ah, isso não vai funcionar. Somos araras, se lembra? Ninguém vai se importar se habitarmos em terras rurais. Vão até achar bonitinho!” Retrucou desacreditada.

“Mas vão se importar se invadirmos um desses apartamentos!” Dizia pausadamente, para ter certeza de que a outra entenderia.

“Está louca?! Vão nos enxotar como a galinhas!”

“Mas nós não vamos sozinhas! Outros bichos podem se juntar a nós. Tenho certeza de que vamos encontrar apoio.”

Então, a inteligente arara azul contou seu plano para fazer chegarem os bichos da mata até o interior de um apartamento. Tinha que ser um daqueles grandes para que funcionasse, pois se invadissem um barraco do morro ninguém se importaria, e elas ainda tirariam a habitação de alguém tão desapropriado quanto elas mesmas.

Na manhã do dia seguinte, o sol traspassou a extensa parede de vidro e iluminou toda a área interna da luxuosa cobertura do edifício Blue Ski, onde morava um executivo bem-sucedido e muito satisfeito com o estilo de vida que conquistara. Haveria de ser, certamente, o sol a acordá-lo, não sentisse as carinhosas lambidas dum tamanduá bandeira, a fazer-lhe a toalete matinal. Foi o suficiente para fazê-lo cair da cama e bater com o pé direito em cima do casco duma tartaruga marinha. A pobrezinha estava em período de desova e tentava cavar um buraco no grosso tapete de peles. Assustado e confuso, tentava andar com um pé e apoiar-se com as mãos sobre os móveis, empenhando-se por alcançar a porta do quarto.

De cima dum lustre pulou um mico-leão-dourado, que, numa ferrenha disputa pelo tapa-olho do rapaz, quase o fez cair por cima do parapeito do segundo andar. Foi de lá que ele teve a visão do inacreditável. Não estava preparado para ver a cena total de seu apartamento, completamente tomado por bichos, os mais diversos, de várias espécies, tamanhos, barulhos e secreções.

Desceu as escadas, e lá embaixo teve que se desviar de uma preguiça, que começava a subir os degraus. Viu o novíssimo sofá de couro invadido por pacas, cotias, papagaios, porcos espinho, jiboias, jacus; o jacaré se esticou no chão mesmo. Alguém fez sinal para a cigarra calar-se, pois já iria começar o National Geographic. Na sua mesa de trabalho, três araras azuis terminavam de mandar e-mails. Ainda havia mais “gente” para chegar. Enquanto isso, um pica-pau-de-cara-amarela rodeava uma das pernas da mesa, feita em madeira de lei.

Na cozinha não poderia tomar café-da-manhã, pois um grupo de rãzinhas discutiam com um pato-mergulhão o menu do almoço. Um grupo de colibris rodeava a mesa de xadrez e outro, de lobos-guarás e gatos-do-mato, disputava a sinuca. Voltou às escadas e novamente teve de se desviar da preguiça (aquela mesma), que chegava ao último degrau, exausta. Ele quis usar o banheiro, mas não pôde.

“Alô! É da defesa civil? Por favor, preciso que mandem socorro. A minha casa… foi invadida…”

“Sim, senhor. Um instante, que vou passá-lo para a divisão de enchentes. É que com as últimas chuvas tivemos que criar um departamento exclusivo para atender a esses casos.”

“Não!…” Mas não teve tempo.

“Bom dia, senhor, queira me dar seu endereço, que estaremos enviando socorro assim que possível. Lembramos que se sua casa estiver em alguma encosta em situação de risco, é melhor, para sua segurança, que a desocupe até a vistoria técnica.”

“Não! Não é nada disso! É que meu apartamento foi invadido por animais selvagens.” E um longo silêncio se fez do outro lado da linha. “Não posso esperar! Ouça, tem uma onça pintada na minha banheira!”

“Ok, senhor. Tenha um bom dia.” E desligou.

Naquele instante aproximou-se a arara-azul. “Esses são os termos do nosso acordo: Um: Você vai trazer comida suficiente para todos nós; Dois: Vai impedir toda e qualquer tentativa de nos tirarem daqui à força; Três: Você vai mover todos os meios legais para nos devolverem a nossa mata de origem.”

 

Lorena Inocência Marchesi Caetano é professora de Inglês com foco em Business, Tradutora e Intérprete de língua inglesa, poetisa, praticante de canto, esposa e mãe
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