Vidas pretas importam, e por mais que alguns digam que todas as vidas importam, o que está e sempre esteve em pauta são: as vidas taxadas ou marginalizadas pela presença de melanina. E as falácias circulam: “Aqui não tem racismo não, nem houve apartheid”. A questão é que o racismo não se delimita a isso.
Realidade brasileira – a cor que mais representa a nação é a preta, porém, quando se trata de destaque em cargos e reconhecimento, ainda é necessário o sistema de cotas para garantir que a maior parte da população tenha acesso. O imaginário do brasileiro nem sempre reconhece a real face da maioria de seu povo, já que é reduzida à denominação de minorias.
Ainda há quem alega que é exagero, ou que se assemelha à situação dos italianos, portugueses e alemães, que tiveram que trabalhar muito para chegar onde estão.
Contudo, preciso lhe falar – nada disso faz sentido, já que os pretos não foram convidados ou ludibriados, mas encarcerados, encurralados, forçados a viver longe de sua terra para sustentar a hegemonia e a ganância de quem nem se quer o reconhecia como gente, apenas como uma ferramenta a ser usada ilimitadamente.
Não consigo nem imaginar o quanto de sofrimento passam por serem que são, por serem subjugados por alguns que se dizem melhores segundo a fonte de seu “achismo” infundado em inverdades e insegurança, que pregam o amor de deus seletivo e segregacionista, que só aceitam um deus branco de olhos claros, levando em conta, assim, que esse deus só é a imagem e semelhança de quem se julga a ser branco.
Quando foi que você já teve medo de ser barrado por um policial, ser abordado por lojistas, encarado e repreendido por sua cor? Que cor é a cor de pele – que sempre lhe dizem representar uma figura ou desenho? Quantos pretos trabalham com você? Quais são os seus cargos?
Como no filme – Branco sai, preto fica, que verbalmente define quem é que possui o benefício praticamente irrestringível de ir e vir, de seguir em todos os sentidos sem ser questionado, enquanto a população preta é arrastada constantemente para as mazelas do grupo que necessita se autoafirmar como: seleto, respeitado e merecedor dos ganhos da vida.
Quando palavras não são ditas, ainda assim o racismo velado reina estampado em todos os cargos, comissões, situações e lugar de fala. A representatividade do sofrimento e conquistas são continuamente levados ao teste de resistência para demonstrar quem é que deve ou não falar, como feito com Marielle Franco e tantas outras figuras ilustres, vozes que erguem o clamor da maioria e mesmo assim são tratados como minorias.
Eu, na figura de cidadã branca, busco entender mais o movimento e de me colocar em meu lugar, de me informar, de estudar, de refletir e de escutar as vozes pretas que clamam e requerem seus direitos de lugar de fala, e de respeito. Há tanto material disponível como – filmes, documentários e livros; dentre tantos livros gostaria de destacar dois: o Pequeno Manual Antirracista; Racismo Estrutural.
Respeite o povo brasileiro, pois a cor que forma e deve representar a nação brasileira é majoritariamente preta. Observe e pense “onde é que estão os pretos?”.