seg 16/dezembro/2024 08:48
Pesquisar
Close this search box.
Capa
Geral
Cachoeiro
Política
Oportunidade
Saúde
Educação
Economia
Agro
Segurança
Turismo
Esporte
DiaaDiaTV
Publ. Legal
Mundo Pet
Cultura

A lição empírica 

Kamilla Oliveira Debona
Kamilla Oliveira Debona

O filme – Professor Polvo, 2020, disponível na Netflix, relata as experiências vividas por Craig Foster, que vivia desmotivado ao perceber em seu último trabalho, o quanto sua vida parecia desconectada de tudo e todos. Após mergulhar, literalmente, em uma aventura a um reino que pouco conhecia, gradualmente, passou a observar que as similaridades são maiores do que as diferenças existentes entre esses dois habitats e seus residentes.

Ao se lançar nesta aventura, o que antes tomava como parâmetro, já não se aplicava mais a sua realidade, desde se adaptar às águas geladas do oceano Atlântico, a desenvolver uma melhor performance na retenção do ar, e até mesmo, de entender que a vulnerabilidade não se aplica apenas aos que habitam aquele lar, mas a si mesmo. Apesar de, até aquele momento, ter se visto como um mero visitante, ou como a própria extensão das lentes de sua câmera – não deixava de ser passível das interferências e acontecimentos alheios. 

Seu corpo, que rejeitava as águas gélidas, passou a suplicar pelas sensações que se tornaram familiarizadas, já que o estimulavam, e marcavam a ultrapassagem em direção ao meio estrangeiro. Sem ao menos perceber, passou a assumir um papel transmutável: de observado a observador, de intrigado a intrigante; os opostos se mesclavam e se emaranhavam na construção das inter-relações, que se almejavam, que se moldavam na figura do alienígena portando seus equipamentos que o auxiliavam na exploração que acreditara ser do meio em que se encontrara. Contudo, a maior mudança, talvez, tenha surgido do reino interno, pouco explorado para com o externo. 

A percepção de Craig que outrora não simpatizava com as demais espécies, se converteu na figura de uma criança, que buscava entender o que o cercava, o que acontecia. Deixando-se levar pelas correntes marítimas, passando a assumir uma certa inércia existencial, o que não prejudicava sua valia, de entender que tudo é passageiro, e de que tudo flui em seu próprio ritmo nas veias correntes das águas que deságuam em si, em outros, por todos, permeiam e se reciclam num ato altruísta de se regar e de reger o fluxo da vida.  

Neste ambiente enigmático, tornou-se aluno de algo inesperado – a professora polvo – intrigou-o e instigou sua percepção mais apurada, despertando a empatia que pouco refletia as demais espécies. Percebendo que as diferenças que consideramos exacerbantes, como: o porte físico, a produção maior de sinapses, que de certa forma é relativa; as semelhanças são mais intrigantes: o comportamento, a assimilação, a auto-observação, e a contemplação. 

Ele notou que os adjetivos que normalmente são atribuídos a espécie humana, também são manifestados pela professora: o medo, a vulnerabilidade, a curiosidade, a confiança, a insegurança, dentre outros. A questão de que a linguagem utilizada nem sempre precisa ser verbal, a mensagem pode ser transmitida de diversas formas: no ato, na visão, no tato. 


A avidya (ignorância) habita na crença de nos considerarmos superiores, invencíveis, e intangíveis.

 

O aluno notou o quão experiente e sábia era sua professora, que apesar da barreira do que se poderia considerar intransponível, a linguagem não-verbal ainda era acessível, sendo aquela: que toca, que soa, que reluz, que se ergue, e que dança.

A professora apresentava mecanismos de defesa tão engenhosos, tão inovadores e tão funcionais quanto os nossos. O aprendiz interagia com o meio, e mais que isso, contemplava cada ato de sua guru, que se adaptava das mais diversas formas, brincava no caminhar, no dançar, como explorava o entorno e a si mesma. 

Naquele reino muito se transmutou, o nadador podia ser uma ave, um peixe um transeunte, um tubarão o grande vilão. E a professora aos olhos de suas presas – a própria ameaça, só enfatizando o quanto tudo pode ser e é muito relativo. 

Os asanas (posturas), os pranayamas (respiratórios) e diversas outras técnicas são inspiradas na contemplação que diversos yogis desempenharam ao longo dos anos. Há diversos asanas inspirados nos animais, como: o camelo, o peixe, o cachorro, o gato, a vaca, etc. 

Os praticantes notaram que a união não se limita à análise e a compreensão do que é o nosso ego, mas se estende ao cosmo que origina ou que rege cada partícula existente, que nos tornam parte de tudo.

Assim sendo, a lei que gere o início, o meio, e o fim atinge a todos.

O conhecimento  do Yoga deu-se de diversas formas, dentre elas a observação do meio, da forma que a interação é feita de si para consigo mesmo e para o nosso restante, pois somos o tudo e o nada ao mesmo tempo, somos a união, que apesar de “aparentemente” ser fragmentada, se encaixa perfeitamente. 

Assim, como o polvo que imita e experimenta diversos movimentos, os aplica em sua jornada de vida. O Yoga se inspira neles, e como reflexos no espelho – produzimos posturas que homenageiam, num gesto de respeito e contemplação, de que todos estamos e somos conectados, que o mesmo prana (ar/energia vital) percorre os nossos organismos.

Ao percorrer de sua jornada, o aluno notou que não era um visitante, mas que fazia parte do meio, e uma das grandes lições aprendidas foi:

a gentileza, que o selvagem, mesmo sendo considerado – grosseiro, e rude, respeita as vidas, pois honra a sua própria vida por ser e viver de acordo com sua natureza instintiva, no sentido de: escutar, olhar, reconhecer-se, para então, criar os laços que entrelaçam a nossa existência.

 

Kamilla Oliveira Debona
Kamilla Oliveira Debona é professora de inglês, bacharela em Direito, instrutora de Yoga, especialista em atenção plena e educação emocional

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

acidente-carreta-onibus-br-101-11-12-2024

Papai Noel chega neste sábado à Praça de Fátima em Cachoeiro

automovel-apreendido-14-12-2024

Motorista escolar de prefeitura do Caparaó colide com veículos e é detido por embriaguez

caim

Rumo ao Inexplicável: A Marca de Caim

camara-vereadores-alto-13-12-2024

Câmara de Cachoeiro será destaque no Tour 360º a partir de segunda-feira

morte-crianca-ibatiba-13-12-2024

Menino de 10 anos morre após suposta agressão em escola de Ibatiba

Árvore de Natal e feira de artesanato

Contagem regressiva para programação de Natal na Praça de Fátima em Cachoeiro

Vereadores recebem selo diamante

Câmara de Cachoeiro recebe Selo Diamante em Transparência Pública em evento no TCE-ES

coletiva-ferracob-12-12-2024

Ferraço revela a equipe que irá comandar Cachoeiro a partir de janeiro

Leia mais
plugins premium WordPress