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A maldade do mundo

ESCRITORAS CACHOEIRENSES - Emília Nazaré. Reflexão sobre a verdadeira maldade do mundo e como ela se manifesta nas injustiças, abusos e desigualdades, mostrando a importância de educar as novas gerações para reconhecer e resistir sem se contaminar.

Os mais velhos diziam ao mais jovens que ainda não tinham vivido experiências amorosas mais íntimas: você ainda não conhece a maldade do mundo! Era a consequência direta de séculos de demonização do amor físico, o que, além de gerar todos os distúrbios e potencializar a ocorrência de violências sobre os quais ficamos sabendo todos os dias, desviava o foco do que é o mal para o lugar errado.

Crescer e lembrar dessa fala traz até certa compaixão por aqueles que costumavam dizê-la. Num mundo cheio de guerras e injustiças de toda espécie, parecia até uma opção pela inocência chamar o prazer dos corpos de “maldade”, embora se saiba de onde veio esse condicionamento.

Era mais fácil educar as crianças para associarem a maldade do mundo a algo que, respeitada sua maturidade física, elas só conheceriam mais tarde. Seria bom que elas não associassem a maldade às humilhações passadas em família, às carências materiais que acabavam com a saúde mental dos pais e os tornavam agressivos e violentos, aos julgamentos que pesavam sobre seus pais, fazendo com que elas, em sua inocência, pagassem por erros dos quais não tinham culpa.

Era mais fácil ensinar um comportamento de pureza física enquanto, na igreja, ela aprendia com os adultos que para uma criança ser bem tratada naquele ambiente, bastava pertencer à uma família de posses, e aquelas que não vinham do mesmo meio recebiam críticas e desprezo, mesmo que tivessem mais inteligência e talento para contribuir com a obra.

Quem cresceu e conheceu aquilo a que chamavam “maldade” no tempo e do jeito certo pode ter se surpreendido. Lá fora, a maldade continuava nas intrigas presentes nos meios acadêmicos e profissionais, nas lideranças abusivas, nas relações de trabalho pautadas pela exploração, no suor derramado em esforços para os quais nunca houve o mínimo reconhecimento.

Talvez, hoje, quando os antigos já somos nós, seja diferente. Devemos sim, educar para prevenir abusos, coisa que, aliás, não era feita na nossa infância. Mas não devemos nos esquecer daquelas situações onde a maldade do mundo realmente se encontra, pois, assim, os mais novos saberão reconhecê-la e serão mais fortes para resistir sem se contaminar. Infelizmente, não foi assim para nós.

Emília Nazaré. Cachoeirense adotiva morando na Grande Vitória. Observadora e apreciadora dos detalhes, das memórias e dos encantos do nosso Estado

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Respostas de 6

  1. O texto de Emília Nazaré toca profundamente porque desmonta uma crença tão enraizada de que o mal estaria ligado ao prazer físico, uma ideia que marcou a infância e a educação de muita gente. É especialmente tocante perceber como essa visão serviu como uma espécie de proteção, mesmo que ingênua, para preservar a inocência das crianças, evitando que elas enfrentassem cedo as realidades duras e cruéis do mundo.Seu relato traz uma sinceridade dolorosa ao destacar que a verdadeira maldade está nas injustiças sociais, nas desigualdades que marginalizam quem já sofre, nos abusos velados dentro da família e nas instituições que deveriam acolher, mas que frequentemente reproduzem exclusões e desprezos. É um convite a refletir sobre como educar os jovens para que reconheçam essas formas reais de maldade e desenvolvam forças para enfrentá-las sem se perderem no processo.Pessoalmente, o texto ecoa uma experiência comum: crescer aprendendo que o mal era algo abstrato e distante, mas depois descobrir que ele podia estar tão perto, nos olhos e atitudes das pessoas que convivemos, nas estruturas sociais que nos cercam, e na falta de empatia que corrói as relações humanas. Essa desconstrução, ainda que difícil, é essencial para que possamos construir um mundo mais justo e compassivo. Educá-los para ver a maldade onde ela realmente está é, talvez, o gesto mais generoso que podemos fazer pelas próximas gerações.

  2. Emília, seu texto é sensível, conectando memórias pessoais à crítica social de forma clara e envolvente. A análise da inocência e da maldade do mundo é perspicaz e madura. Muito bom!

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