Ouvi na manhรฃ desta quarta-feira (19), na fila da padaria, uma frase que me deixou entre curioso e perplexo: โNรฃo sei para que mulher vota. Na maioria das vezes, a mulher sรณ duplica o voto do marido, ela nรฃo tem opiniรฃo mesmoโ.ย
A frase, carregada de um machismo antigo, pasmem, foi dita por uma mulher jovem, na casa dos seus trinta e poucos anos.ย
Fui pesquisar e descobri que esse foi, justamente, o argumento usado pelos homens conservadores da elite americana para contestar o direito ao voto feminino instituรญdo nos Estados Unidos pela Emenda 19, de agosto de 1920.ย
Com 100 anos de diferenรงa, o pensamento tacanho dos homens brancos americanos ainda influencia a subjetividade feminina em um discurso pรบblico, numa casa de pรฃes de um subรบrbio brasileiro.ย
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Lamentรกvel? Sim. Assustador? Nem tanto. No Brasil, a batalha pelo voto feminino sรณ foi ganha entre 1932 e 1934, quando, finalmente, foi promulgada a 3ยช Constituiรงรฃo brasileira. Somente em 1997 (Lei n. 9.504/97), os partidos sรฃo obrigados pelo TSE a manterem em seus quadros 30% de mulheres candidatas.ย
Jรก 2020, a deputada do PSL de Santa Catarina, Caroline de Toni,ย apresentou projeto de lei derrubando essa imposiรงรฃo por achar que mulher nรฃo se interessa por polรญtica, endossando a frase da moรงa que eu citei no inรญcio do texto.ย
Contradiรงรตes de um paรญs ainda sem identidade, apesar de um lastro cultural gigantesco. Talvez por isso mesmo, divergente em seu aspecto mais importante: a preservaรงรฃo da diversidade.ย