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A vingança do jequitibá

Lorena_Marchesi
Lorena Inocência Marchesi Caetano

CRÔNICA: Lorena Inocência Marchesi Caetano, escritora.

 

Eis que estamos na era do melhoramento genético. E dizendo “melhoramento” deixo para o leitor a tarefa de indagar e buscar o significado dessa palavra. Também são tempos de se falar em desenvolvimento sustentável – outro termo que também merece o seu tempo, se assim desejar.

Isto posto, o Centro de Biotecnologia estudava uma nova espécie de jequitibá, que pudesse crescer rapidamente e tivesse maior capacidade de intercambiar oxigênio e gás carbônico com o meio. Contudo, um aluno desatento acabou misturando o material genético da Cariniana legalis com o da Sarracenia purpúrea, um pouco antes de sair para checar uma nova mensagem no smartphone.

Aconteceu, neste dia, que um forte vento bateu no campus, arrebentando as vidraças do Instituto, e soprando as sementinhas do jequitibá modificado, que estavam sobre um balcão. Uma delas foi levada para longe, na mata, onde encontrou excelentes condições para germinar e crescer.

Os primeiros a caírem em sua armadilha foram os sauís, que com seu largo apetite por frutinhas e legumes adocicados, pensavam se tratar de um novo espécime para ser saboreado. O bando se aproximou sem desconfiar e foi logo tomando lugar em seus galhos. Um deles, o mais velho, ficou bem debaixo da árvore, a olhar para cima, enquanto os demais procuravam em vão pelo alimento que tanto queriam. Este foi o primeiro a ser agarrado por um cipó, e, mesmo que guinchasse bem alto, não conseguiu que nenhum de seus companheiros viesse ajuda-lo. Não se passaram nem dois segundos para que todos os demais percebessem que teriam o mesmo fim.

Perto dali havia uma madeireira. Enfadado com tantas restrições ambientais e multas, seu dono já havia desistido dos pudores da ética e do bom senso. Pensava só em se aposentar em alguns anos e enfim largar mão de atravessar madeira. Certo dia, saiu ao acampamento e viu a copa de uma árvore muito alta, a qual sobressaia às outras.

– João! – chamou com urgência.

– Sim, Sr. Carvalho – respondeu o truculento capataz.

– Mande um homem ir olhar aquela árvore lá – apontando em direção ao distinto jequitibá.

– Aquela grandona. Não me lembro de já tê-la visto antes. Me parece que é um belo tronco; madeira boa.

Precisava ser exatamente aquela. Mas não teria dificuldade para encontrar um voluntário, pois convencionava-se que, aquele que encontrasse um tronco digno do maior esforço no corte, também receberia maior retribuição pela empreitada. E lá se foi um homem a investigar na floresta aquela árvore apontada pelo patrão.

Porém, deu o dia seguinte, e o lenhador não voltou da mata. Um outro homem foi mandado a ver o que acontecera, mas este também não voltou. Outro e outro ainda foram, mas ninguém nunca mais os viu. Assim, logo surgiram boatos na cidade de que a floresta estava muito perigosa para quem entrava demasiadamente para dentro dela. Também não faltou quem dissesse que a mata era maldita, que se tratava de curupira, saci e mapinguari a roubar as almas dos lenhadores.

Aborrecido e confuso, o dono da madeireira chamou seu capataz, pegou seu motosserra e invadiu a mata ao encontro da misteriosa árvore. Foram de jipe até certa altura, até onde as máquinas ficaram abandonadas nos últimos dias; desde que os homens começaram a julgar que não valia mais a pena o negócio de cortar madeira, dado o iminente risco de desaparecimento.

Enquanto olhava por um instante as máquinas, o patrão ia pensando na raiva e no prejuízo dos últimos dias, deixando-se ficar cada vez mais decidido a encontrar a tal árvore e dissipar o falatório de uma vez por todas.

Ingressaram a pé, pois a partir dali era mata virgem, fechada. O capataz cortando caminho, ora com um facão, ora com uma foice, enquanto o patrão carregava sua poderosa motosserra. Avançavam devagar e com muito custo. O dono da madeireira se ocupando do pensamento de que o esforço valeria a pena, tanto pela preciosa madeira encontrada, quanto por acabar terminantemente com aquele mistério.

Chegaram enfim ao jequitibá, que definitivamente não se assemelhava em nada a nenhum outro jequitibá já derrubado por aquela companhia. Já tinha visto um jequitibá e já tinha visto dezenas de flores cultivadas na estufa de sua própria casa, mas nem de longe poderia imaginar como era possível existir uma espécie de vegetal tão magnífico e tão feio quanto aquele.

As sementinhas mal misturadas no laboratório deram lugar a uma árvore frondosa, com estranhos galhos compridos e esticados sobre o tronco, como se fossem braços de um corpo humano. Uma copa tão alta que ultrapassava todas as demais árvores da floresta. Cipós fortes como o dorso de uma sucuri e tão alongados que precisavam se espalhar por vários metros ao longo da floresta. Uma flor gigantesca que desabrochava bem no meio do tronco, tal qual o papo de um pelicano, exalava um perfume delicado e atraente.

– Uhm. Mas não me impressiona – disse o patrão. – Vamos homem, comece a serrar!

Porém, tão logo a motosserra tocou o tronco da árvore, seus dentes foram arrancados da correia e lançados longe, como se fossem feitos de plástico; nenhum arranhão causaram ao jequitibá. De repente, como que se espreguiçando de um gostoso sono, os galhos começaram a se mexer e a erguerem-se acima da copa da árvore.

Assombrado e paralisado, o capataz deixou cair a motosserra e começou a balbuciar a mistura de várias rezas que há muito tempo não praticava. Foi logo agarrado por um cipó e levado à barriga da flor, e, mesmo que gritasse bem alto, não conseguiu que o patrão viesse ajudá-lo. Este, apavorado e estarrecido, correu como um covarde o mais rápido que pode para longe do jequitibá. Contudo, não se passaram nem dois minutos para que concluísse que teria o mesmo fim. Mesmo tendo já corrido vários metros, foi finalmente agarrado por um cipó e arrastado violentamente pelo caminho de volta. Enquanto gritava, pensava que não teria sido grande prejuízo se tivesse se aposentado da última vez em que os fiscais recolheram os caminhões de tora e apreenderam todo seu maquinário.

Puxado por um dos pés, foi levado até à altura da grandiosa flor, de onde viu rapidamente a abertura de um enorme cone, por onde seria engolido como um pedaço de carne fresca. No interior do cone, deu de encontro com um acumulado líquido que tanto servia para afogar a vítima, quanto para digeri-la depois de morta. Ali, irrevogavelmente, jaziam o capataz e uma capivara capturada naquele mesmo dia.

Os boatos desses acontecimentos são contados até o dia de hoje. Os animaizinhos daquela região não eram estúpidos, porém não estavam acostumados. Levou um pouco de tempo, mas finalmente aprenderam que não deviam avançar para muito próximo daquele jequitibá.

De vez em quando, um menos esperto e mais obstinado, ultrapassava a fronteira e acabava sendo capturado. Os donos de madeireira é que não são tão inteligentes, pois eles quase sempre ignoram os alertas que recebem. Assim, de vez em quando, algum novo patrão resolvia recomeçar os trabalhos naquela mata e acabava tendo o mesmo destino de seus predecessores.

O bolsista já tinha feito muitas tolices, por isso acabou sendo dispensado depois que aquele vento destruiu o Instituto quase por inteiro.

Lorena Inocência Marchesi Caetano. Foto: Acervo pessoal
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