Trabalhei como assessor de imprensa na campanha eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil por duas vezes no Espírito Santo. Na primeira ajudei a eleger Homero Mafra presidente da instituição.
Na segunda eleição ajudei a tirar o grupo de Mafra do poder, elegendo o atual presidente, José Carlos Rizk Filho. Durante a campanha, diante de tantas conversas com advogados de várias matizes, descobri que esses profissionais são pessoas atormentadas por um drama: qual o limite da lei?
Nos últimos meses pipocaram denúncias e prisões de advogados acusados de mediar conversas entre traficantes e executores de assassinatos no Estado. Profissionais que estudaram, conquistaram seu lugar junto à advocacia, mas que fraquejaram diante das cifras milionárias do tráfico e da corrupção.
No último caso, um advogado levou a ordem de um traficante preso para que um desafeto fosse morto. A estupidez do crime matou o homem errado, dando sequência a uma série de outras mortes e a descoberta da vida secreta do advogado bandido.
Mas será que é só dinheiro? Será que alguns advogados topam ajudar seus clientes no mundo do crime por status? Carro de luxo? E viagem a Paris? Só por isso?
Acho que não. Corre nas veias de algumas pessoas o desejo da criminalidade, a vontade de estar acima de qualquer suspeita e, mesmo assim, virar as costas para a sociedade e mergulhar no crime. Está na literatura mundial. E não são só advogados. São médicos, jornalistas e outras classes seduzidas pela margem da lei.
Margem esta que, se estendida, pode causar um relaxamento do senso comum, uma sensação de que sempre foi assim e vai continuar sendo enquanto homens e mulheres brancos, ricos e com sobrenome continuarem vendendo seus serviços para favelados, marginais e negros estigmatizados pelo crime, mas com algum dinheiro guardado para a extorsão.