O cultivo de alface em campo aberto no Brasil pode se tornar inviável durante o verão nos próximos 50 anos por causa do aumento da temperatura provocado pelas mudanças climáticas.
O alerta é de um estudo da Embrapa, ligada ao Ministério da Agricultura e Pecuária.
Segundo os pesquisadores, mesmo em um cenário considerado otimista, 97% do território brasileiro terá risco climático alto ou muito alto para a produção da hortaliça no verão até o fim do século.
A análise levou em conta projeções do Inpe e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cruzando dados de temperatura mínima, média e máxima para todo o país.
O verão aparece como a estação mais crítica, já que as temperaturas podem superar os 40°C em boa parte do território, um nível bem acima do ideal para a alface, que precisa de clima ameno e boa umidade para crescer.
No cenário otimista, a temperatura no verão deve variar de 23,4°C a 41,2°C entre 2071 e 2100.
Nesse caso, quase 80% do território nacional apresentaria risco alto para a cultura e 17% risco muito alto.
Já no cenário pessimista, a faixa vai de 25,4°C a 45°C, com 87% do território em risco muito alto.
Hoje, a maior parte da produção de alface no Brasil ainda acontece em áreas abertas. Em ambientes controlados, como estufas, a produção é bem menor.
Efeitos do calor
O calor excessivo provoca problemas como a queima de bordas das folhas (tipburn), causada pela dificuldade da planta em absorver cálcio.
As temperaturas acima de 25°C também aceleram o florescimento, o que compromete a qualidade e o valor comercial da alface, já que o caule alonga, o número de folhas diminui e a hortaliça ganha sabor amargo.
Importância do estudo
Para o engenheiro-agrônomo Fábio Suinaga, da Embrapa Hortaliças, os dados são preocupantes.
“A adaptação da espécie ao calor é mínima. As sementes de alface precisam de temperaturas abaixo de 22°C para germinar”, explica.
O pesquisador em mudanças climáticas da Embrapa, Carlos Eduardo Pacheco, reforça que os mapas produzidos mostram a urgência de repensar o cultivo.
“As hortaliças são mais sensíveis que culturas como milho ou soja. Precisamos antecipar estratégias de adaptação para evitar prejuízos”, afirma.
Produção no Brasil
De acordo com o último Censo Agropecuário do IBGE, em 2017, o país produzia 671,5 mil toneladas de alface por ano, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais.
Já o boletim hortigranjeiro da Conab, referente a agosto de 2025, aponta que as Ceasas integradas ao sistema nacional comercializaram 4,6 mil toneladas de alface.
Os maiores volumes vieram de São Paulo (2,2 mil), Curitiba (870,7) e Fortaleza (558,6).
Fonte: Embrapa
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