O Espírito Santo possui uma beleza única. Você pode escolher se prefere montanha ou praia, frio ou calor, águas do mar ou águas cristalinas de cachoeira. Você decide. Ou faz como eu. Explore todas.
Nosso litoral tem praias extensas, águas marrons ou transparentes. Você também escolhe.
Praias tranquilas, pouco movimento, praias agitadas, lotadas por moradores locais ou turistas.
E nós capixabas amamos nossas praias, deixamos nossas casas nos finais de semana para curtir um belo dia de sol. Praticamente, temos duas casas, em duas cidades diferentes: a casa na qual moramos e trabalhamos e a casa da praia.
Você vai encontrar um bom número de capixabas com suas casas alugadas na praia, famílias numerosas dividindo aluguel entre si e, até mesmo, entre amigos só para ter um lugar para o verão.
Se é rico ou pobre, lá estamos nós, cada um com seu cantinho. Às vezes, todos misturados sem distinção.
No entanto, se você estiver em uma praia capixaba não se prenda apenas à beleza das águas e do nosso sol, mantenha o seu olhar atento e perceba outras belezas da nossa terra: o povo capixaba.
Você vai encontrar pessoas encantadoras, engraçadas, prestativas, de tudo um pouco. E os vendedores ambulantes, cada um com sua história incrível.
Foi assim que conheci Bárbara.
Inverno do ano passado (nosso inverno, devo dizer, com temperatura em torno de 32 graus), praia quase vazia, para mim é a melhor época.
Eu e minha amiga aproveitávamos o domingo com nossas conversas filosóficas diante do mar, na mesinha de um bar.
A vendedora se aproximou com seu carrinho de picolé rosa, todo rosa escuro. Até o seu uniforme era rosa, que deduzi que foi ela quem fez.
Ofereceu o picolé e, simpática, falou também dos seus bolos de pote. Em instantes, iniciamos uma conversa a três.
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Eu mantinha meu olhar atento à mulher forte vestida de rosa. Confesso que não gosto tanto da cor, vivo com a sensação que é uma cor usada para definir a mulher e a ideia de fragilidade. No entanto, na Bárbara não era o que transmitia, sua pele negra, o uniforme e o carrinho rosa transmitiam descoberta e coragem.
Além do carrinho de picolé rosa e do seu uniforme rosa, os cabelos da Bárbara me prendiam. Um black power encantador com fios completamente brancos, tão perfeitos que pareciam feitos em um salão, mas eram tantos e tão uniformes que me deixavam em dúvida. Na frente, acima da testa, uma mecha larga, branquinha e perfeita se misturava aos fios pretos dando um brilho especial ao rosto simpático e cheio de luz da belíssima vendedora.
Não resisti e perguntei:
__ Seus cabelos são naturais… Os fios brancos?
__ Sim. Eu estava pintando, mas dá muito trabalho. Então, decidi deixá-los brancos.
__ Está lindo!
A conversa deve ter durado pouco mais de 10 minutos, tempo suficiente para nunca mais esquecer a Bárbara. Ela seguiu o seu caminho após se despedir. Eu fiquei sentada observando ela caminhar por outras mesas e, por fim, desaparecer na praia de Itaoca. Mas a cada passo eu observava a mulher que se descobriu, uma mulher negra, com cabelos cheios, fios brancos usando rosa escuro e a alegria em seu jeito de andar.
Não tive tempo para conhecer a sua história. Mas não precisei. Estavam descritas, no sorriso tímido e no olhar firme, a coragem e a força de uma mulher.
Bárbara, um nome forte, uma figura forte, uma mulher com todas as características que compõem um ser feminino. Fragilidade e força, timidez e coragem, receio e aceitação me fizeram questionar algo que cresci ouvindo:
__“As mulheres envelhecem mais que os homens.”
__“Ah, mas cabelo branco nos homens é bonito, nas mulheres aparentam velhice.”
Percebo, então, que ainda carrego ideias machistas e passo a observar mulheres que decidiram não manter a escravidão dos cabelos pintados, sempre bem alinhados e escovados e, aos poucos, vejo inúmeras mulheres lindas com seus fios brancos surgindo cada vez mais, nas ruas, na internet. E, nesse momento, agradeço à Bárbara, pois foram poucos minutos, apenas um cruzar de caminho, e eu mudei.