Maria da Graça Gomes Sabadini, ou simplesmente Gracinha Sabadini, nasceu no Rio de Janeiro, se formou em Comunicação Social, mas migrou para a área de Publicidade e Propaganda.
Não teve a chance de começar a carreira na área de formação porque se casou e veio morar em Burarama, distrito de Cachoeiro de Itapemirim, logo após a formatura, onde ainda não existiam agências de publicidade.
Sobre a adaptação num ambiente rural, conta que não houve a menor dificuldade. “Eu me ajustei rápido e logo a casa estava cheia de crianças. Não deu tempo nem para ter depressão”, relata sorrindo.
Gracinha diz que é difícil usar uma palavra para defini-la, mas que a melhor talvez seja camaleônica. “Eu me ajustei perfeitamente numa realidade completamente fora da minha, num período da minha vida em que ainda era muito novinha e poderia não me sentir segura”.
Quarenta anos depois, quatro filhos, três netos e mais um a caminho, a publicitária conquistou espaço e se firmou no mercado das artes com as peças rotundas em argila que produz. A tinta usada para colorir também é feita à base de terra.
Peças exclusivas, com DNA próprio, como dizem alguns amigos que conhecem, gostam e aplaudem seu trabalho, onde todas as peças são gordinhas, inclusive as bailarinas e o cantor cachoeirense Raul Sampaio, que já foi reproduzido por ela.
Quer saber por que todo o seu trabalho é com personagens gordos, de pés evidentes e sem pescoço? Seria uma escolha ou homenagem ao artista colombiano Fernando Botero?
Ninguém melhor para explicar as figuras roliças e responder do que a própria Gracinha Sabadini.
Suas brincadeiras de infância já sugeriam a sua trajetória profissional?
Creio que sim. Sobre as artes na minha vida, já havia um negocinho que me falava que eu sabia fazer desde que era bem menina. Naquele tempo eu já conseguia desenhar o que queria. E também não tinha problemas quando não conseguia fazer imediatamente. Eu sabia que ia conseguir. Então a opção pela Publicidade me daria oportunidade de usar a criatividade como profissão.
Porque usar a terra como base para produção de tintas?
Foi meio que por acaso. Já tinha ouvido disso numa viagem técnica proporcionada pelo Incaper que fizemos no interior de Minas, em Tiradentes. Fiquei muito curiosa, perguntei ao cara que usava a técnica, mas ele não me respondeu nem me ensinou nada. Voltei para casa curiosa e intrigada. Na inauguração do Circuito Turístico de Burarama, no ano de 2006 ou 2007, não me lembro bem, ouvi uma palestra de um bioarquiteto sobre o assunto. Pedimos e o Incaper trouxe profissionais de Viçosa para nos ensinarem a técnica. Comecei a usar e nunca mais parei.
Porque a escolha por figuras “boterianas”?
As personagens gordas não foram uma escolha, embora tenha me apaixonado e decidido torná-las uma marca registrada. No processo de produção da tinta à base de terra, após coar o material ficava uma argila. Resolvi experimentar fazer uns bonequinhos, mas o material era tão úmido que a partir de um certo ponto era impossível continuar a moldá-lo. Deixei num canto na expectativa de que secasse um pouco para poder continuar o trabalho no dia seguinte. Para a minha surpresa, a peça se achatou, os pés ficaram evidentes e o pescoço desapareceu. Quando vi a surpresa foi muito grande, mas sabia que tinha encontrado o formato ideal. Então foi muito por acaso. O acaso me entregou de bandeja como deveria fazer os personagens. Amei.
Que tipos de peças você produz? Trabalha sob encomenda?
Recebo encomendas dos personagens ilustres da história de Cachoeiro. Todas são especiais, mas Rubem Braga é o campeão. Ele foi o primeiro da minha linha de personalizados, que abriu caminhos para tantos outros. Faço de outras pessoas também. Conhecidas ou não. Todos são muito especiais e amo produzir cada um deles. Mas também amo fazer figuras maternais, santinhas, figuras folclóricas da região ou figuras infantis.
Suas peças são exportadas?
Tenho personagens em vários países do mundo, mas eles são levados pelos parentes. Até recebo encomendas, mas o valor do frete inviabiliza que sejam atendidas. Mas no Brasil tenho peças em vários estados. Envio via PAC pelo correio e nunca houve extravio.
Que peças, ou peças que produziu causaram mais encantamento?
As paneleiras. É uma série em que retrato as paneleiras de Goiabeiras e as desfiadeiras de siri das Ilhas das Caieiras. As retrato fazendo as panelas, tingindo, com a moqueca pronta ou com as cordinhas de caranguejo. Talvez porque sejam uma uma referência dos apaixonados pelo Espírito Santo, causaram esse encantamento.