seg 29/abril/2024 • 10h33
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Anete Lacerda

Este é um projeto do jornal diaadiaes.com.br que retrata a vida de mulheres que influenciam, fazem diferença e nos inspiram a seguir em frente.

São personagens reais que estão em todos os lugares e são protagonistas de suas próprias histórias. Que contribuem para um mundo melhor.

Seja bem-vindo a mais uma  história de uma incrível mulher.

Irmã Otília

Irmã Otília, a mensageira do amor

“Se tivesse que escolher novamente, faria tudo de novo. Eu dou o melhor de mim para cumprir minha missão”.

A nossa Brava Mulher desta edição é miúda, de aparência frágil, fala mansa e postura de contrição constante. Irmã Maria Joana Otília, ou simplesmente Irmã Otília, nascida Sebastiana Rodrigues Valadão, 89 anos, da Congregação das Irmãs de Jesus na Eucaristia, fundada no Colégio Jesus Cristo Rei há 95 anos, não acha que mereça elogios ou atenção em uma matéria sobre sua vida.

Ela recebeu no mês de março o título de Cidadania Cachoeirense, concedido pela Câmara Municipal. Então se já era considerada por todos, agora tem mais um motivo para ser recebida de braços abertos pelos moradores da cidade.

“Sou uma pessoa simples e só cumpro o que Jesus me mandou fazer”, destaca.  A religiosa conta que o versículo que moveu seu coração “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.”

E nos últimos 60 anos ela tem feito isto com passos firmes, durante todos os dias, chova ou faça sol, com a convicção de que fez a escolha certa. “Se tivesse que escolher novamente, faria tudo de novo. Eu dou o melhor de mim para cumprir minha missão”.

Ela dedica a sua vida à oração e ao cuidado espiritual dos pacientes internados na Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim, além de ajudar nos cuidados na “Casa das Irmãs”, onde mora e é a residente mais antiga.

E também está sempre entre os alunos do Colégio Jesus Cristo Rei. As palavras em relação à sua presença são as mesmas, ditas por quem quer que seja. “Ela traz paz e deixa rastros de luz por onde passa”.

 

Anjo da Guarda

Provavelmente Irmã Otília seja conhecida de todo cachoeirense, especialmente daqueles que atravessam a ponte municipal, já que este é o seu trajeto diário, quando sai do Cristo Rei a pé rumo à Santa Casa para o cumprimento da missão que Deus lhe confiou, de confortar os pacientes e até os trabalhadores daquele hospital.

A rotina só foi interrompida nos anos de pandemia, o que causou lhe causou tristeza, já que gostaria de ter continuado a dar assistência espiritual aos internados.

É facilmente descrita pelos que convivem com ela com um anjo da guarda que ilumina e alegra os ambientes por onde passa, inundando-os de paz e muito amor.

Está sempre em movimento ou recolhida para os seus momentos de oração. Mas entre 20h e 21h, todos os dias, se dedica a algum trabalho manual, como croché, marca ou bordado. “Faço isso só para quebrar o galho. É bom fazer alguma cosa”, conta, como se passasse o dia todo à toa.

 

Mineira que se tornou cachoeirense de coração e pelo título de Cidadania Cachoeirense

Nascida em Oliveira, Minas Gerais, Irmã Otília, aos 89 anos, mantém uma rotina de muito trabalho e uma disciplina típica de quem é muito feliz com o que faz, como repetiu várias vezes durante a nossa entrevista.

A religiosa conta que aos sete anos já ajudava a mãe a lavar roupas dos vizinhos que por um motivo ou outro não podiam executar essa tarefa.

“Senti naquele tempo que queria servir às pessoas através do meu trabalho. Mas o desejo de seguir a vida religiosa veio mais tarde, mais ou menos aos 16 anos. Falei com os meus pais e começamos a caminhar para realizar esse sonho”, relata.

De uma simplicidade franciscana, Irmã Otília conta que aproveitou a presença do bispo em sua cidade natal para externar a ele o seu desejo de ser freira. E que ele a encaminhou a um colégio de religiosas para conhecê-lo e ver se realmente era o que queria.

“Era tudo muito bonito, de muito luxo. Conheci tudo, mas sabia que aquele não era o meu lugar. Por mim vendia aquelas coisas todas e dava tudo aos pobres. Voltei ao bispo e falei para ele que aquele não era o meu lugar. Que eu era uma pessoa simples, da roça, e senti que ali não ia cumprir a missão que Deus tinha para mim”, frisa.

Segundo a religiosa, o bispo entendeu e a encaminhou a outro local, não sem antes alertar que lá eram tratadas crianças com problemas psiquiátricos, que na maioria das vezes eram muito agressivas.

“Fui conhecer, era realmente uma situação muito triste, até assustadora na maioria das vezes, as crianças gritavam, faziam as necessidades no chão, e apesar de tudo estar lavado, o cheiro desagradável era muito forte. Mas senti no meu coração que ali seria útil e poderia abençoar a vida daquelas crianças. Pensei que as irmãs que iam envelhecendo precisariam de ajuda. Então comuniquei ao bispo. Os meus pais entenderam, apesar da preocupação, e eu fiquei e foi um tempo de muito aprendizado”.

Irmã Otília veio para o Colégio Jesus Cristo Rei, onde já funcionava a Congregação Jesus de Santíssima Eucaristia, fundada há 95 anos. “Fui aprendendo e me dedicando. Conheci a Madre Gertrudes de São José”, relata.

O que pensa a irmã Otília e o que a move para o cumprimento de sua missão? Quem nos conta é a religiosa, que faz questão de destacar que não gosta de dar entrevista e que é a primeira vez que fala tão detalhadamente de sua vida.

“Só atendi vocês porque insistiram muito e fui autorizada a fazer isso. Mas não queria. Não faço nada demais. Sou uma pessoa simples. Por isto não vejo motivo para falar da minha vida”.

 

Saúde perfeita e hábitos simples

Irmã Otília não tem nenhum problema de saúde, não toma medicamentos e sobe e desce as escadas da casa com muita desenvoltura.

Outro costume que mantém é costurar os próprios hábitos (só terceiriza quando está com pouco tempo) e outras peças para a “Casa das Irmãs”, além de ajudar nos serviços domésticos, muitas vezes contra a vontade das pessoas. “Eu faço questão de ajudar. Elas não querem. Mas eu posso e quero fazer isso”.

Além de costurar, ela faz trabalhos manuais, mas tinha poucas peças para nos mostrar. “Tudo que faço eu dou de presente. As pessoas gostam das coisas feitas pelas minhas mãos”, enfatiza.

 

Família

A religiosa conta que após a pandemia foi a Oliveira e conheceu sobrinhos que nasceram nesse período, e que foi muito bom. Destaca que família é benção de Deus.

“Eu cumpri minha missão de assistir os doentes, e Deus me deu o privilégio de assistir ao meu pai e a minha mãe na hora da morte”, relata.

Irmã Otília tem 10 irmãos e diz que entende que cada um cumpriu a missão que Deus confiou. Casaram e tiveram filhos. E que sempre soube que a dela seria cuidar das pessoas.

“Hoje eu não posso viajar sozinha de ônibus. Então os meus sobrinhos veem me buscar. Passo uns 20 dias em Oliveira. São momentos muitos bons porque eu amo a minha família. Mas todos aqui do Cristo Rei e da Santa Casa também são minha família. Eu realmente sou muito feliz”, conclui.

 

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“Mais que realizada profissionalmente, eu vejo que a minha profissão é tão prazerosa de ser exercida e que gera um impacto tão positivo que se tornou algo que vai além de um trabalho, mas um estilo de vida que eu escolhi seguir.”
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