A nossa Brava Mulher dessa edição é a empresária, gerontóloga, escritora e professora aposentada Marilene de Batista Depes.
Ela é filha de agricultores italianos e nasceu em Soturno. Tem três filhos, Daniella, Fabricio e Rebeka, e sete netos. Estudou nas escolas Bernardino Monteiro, de Comércio, no Liceu Muniz Freire, na Faculdade de Filosofia Madre Gertrudes de São José e na Faculdade de Direito. Fez Mestrado na Faculdade de Lyon.
Conhecida pelo seu dinamismo e participação ativa nos conselhos em defesa dos direitos violados, especialmente nos da mulher e do idoso, e transita com absoluta segurança em todos os ambientes políticos e sociais.
Existem vários fatos em sua vida que a tornam uma pauta interessante para os que apreciam uma boa história de vida.
Foi uma das primeiras feministas da história recente de Cachoeiro e ainda hoje participa de toda e qualquer mobilização que clame pela vida das mulheres que têm sido vítimas de feminicídio cada vez com mais frequência.
Eleva sua voz também na defesa dos direitos dos idosos. De posições muito firmes, Marilene Depes é incisiva e não usa subterfúgios ou meias palavras.
Sempre, e em qualquer lugar, suas posições, inclusive políticas, são claramente conhecidas. Mas a Marilene Depes que vamos apresentar na matéria de hoje é a escritora e primeira mulher a presidir a Academia Cachoeirense de Letras (ACL) em quase 61 anos de existência da instituição.
A escritora é confreira da ACL desde setembro de 2010 e sempre participou ativamente dos encontros semanais. Tem seis livros publicados, cinco deles de crônicas.
Falando Francamente 1, Falando Francamente 2, Mulheres possuem asas, Dançando com a vida e Escrita, instrumento de luta são os títulos. Ela publicou também a pesquisa de Mestrado. Sua próxima obra será Abraçando a vida, informou.
A presidente da ACL diz que o livro Dançando com a Vida foi escrito quando comemorou os 50 anos de casamento. Hoje já são 61 anos entre namoro e casamento.
“Eu e meu marido continuamos apaixonados. Somos muito diferentes, mas a dança nos une e essa experiência merecia ser eternizada num livro”, enfatiza.
A presidente da ACL frisa que seus textos refletem a felicidade, ou a indignação, por fatos do dia a dia. “A escrita é o meu instrumento de luta. Procuro ser a voz daqueles que são silenciados”, destaca.
Conta que suas referências foram as escritoras feministas, sendo a primeira delas Heloneida Studart. Ressalta que o maior desafio nos dias atuais é carregar a bandeira do feminismo num mundo infestado de machistas.
Marilene, que não esconde a idade, diz que aos 78 anos parar não é uma opção e que adora estudar, principalmente idiomas (estuda inglês e italiano), e tudo que se refere aos Direitos Humanos.
A escritora diz que não é saudosista e que está integrada no presente e agradecida a Deus pelo dom da vida. “Meus grandes sonhos sempre foram a busca da felicidade, a realização profissional e a independência financeira, o que para mim representa o ideal da liberdade”, conclui.
Lembra que apesar de ter se casado com um homem de boa situação financeira, sempre fez questão de trabalhar e pagar as próprias despesas, uma característica de todas as mulheres da família.
Vamos conhecer um pouco mais dessa mulher forte, corajosa e determinada. Acima de tudo, uma desbravadora que não se intimida diante dos desafios que atravessam o seu caminho, e certamente são atropelados por ela.
Você é a primeira mulher a ocupar a presidência da ACL. O que isso representa para você?
Uma vitória não só para mim, como para todas as excelentes escritoras cachoeirenses. A ACL foi presidida por quase 60 anos por homens. Naturalmente os espaços de poder ocupados pelas mulheres fortalece a todas de um modo geral.
Quando descobriu o gosto pela leitura e pela escrita?
Comecei a ler na infância. Meus pais eram agricultores, mas gostavam de ler. Minha casa não era cheio de livros, mas eles assinavam a revista Seleções naquela época. Eu gostava muito. Todo domingo ele me dava um dinheiro para comprar uma revista. Daí que nasceu o meu gosto pela leitura. Depois eu fui vendo onde tinha livros cujos temas me interessavam. Hoje eu gosto muito de best selers porque no geral são livros atuais e com assuntos que nos revitalizam e mantêm atualizadas.
Que autores são sua referência de vida na literatura?
Clarice Pinkola Estés, cuja leitura foi um divisor de águas em minha vida, e cuja obra, “Mulheres que correm com os lobos”, já li, reli e estudei dezenas de vezes. Da primeira vez de forma intelectual, e a cada leitura encontro uma nova nuance. Já fizemos a leitura no clube do livro que participo e esse ano vamos ler de novo. Dos atuais autores, gosto do Yuval Noah Harari, autor de Homo Sapiens e outras obras. Todas muito interessantes.
Se fosse apontar uma mulher que bem representa a Academia Cachoeirense de Letras, quem seria?
Sem sombra de dúvidas a dona Joaci Novaes, que aos 97 anos é bastante ativa em todas as redes sociais e participa das discussões que se trata no grupo de whattsapp da academia. Não está tanto presencialmente porque sofreu umas quedas. E já discutimos que em homenagem faremos uma reunião itinerante da academia na casa dela. É o nosso reconhecimento por tudo que ela já fez pela ACL. Ela realmente é a mulher que melhor representa a ACL.
O que é preciso fazer para disputar uma vaga de imortal na Academia Cachoeirense de Letras?
É preciso ter livro publicado, ou escrever textos regulares em algum jornal, site ou revista. Não há idade mínima e todos podem apresentar o material publicado e se inscrever. Hoje temos pessoas na ACL que além de gostar de escrever, também participam ativamente da nossa rotina e dos eventos culturais de Cachoeiro. Isso é muito importante para que a nossa academia continue. Estamos abrindo vagas para que a academia esteja cheia de vitalidade e continue dando retorno para a cidade.
O que mais está sendo feito pela revitalização da Academia Cachoeirense de Letras?
Estamos querendo trazer a juventude para a ACL e há dois anos estamos fazendo concurso literário com alunos das escolas locais. O concurso não é mais nacional, já que as pessoas que ganhavam não tinham afinidade com Cachoeiro. No primeiro concurso que promovemos nas escolas ensino médio e com alunos dos últimos anos do ensino fundamental o tema foi Cachoeiro dos meus sonhos. Ano passado o Bruno Torres Paraíso, membro da academia que mora no Rio de Janeiro, mas que é ativo, sugeriu o tema Os 200 anos da Independência. Foi um sucesso. Tivemos 81 alunos participando com crônicas belíssimas. Ganharam um de escola particular e dois de escola pública. Esse ano estou pensando no tema SOS Rio Itapemirim. Queremos a participação de todas as escolas abordando a proteção do Rio Itapemirim. Isso é o que está no meu coração. Na premiação queremos convidar as famílias. Queremos que as pessoas entendam que a academia é para todos , é do povo, não tem que ser uma instituição isolada, de difícil acesso. A leitura, através da academia, mais ainda.
Onde funciona a Academia Cachoeirense de Letras?
Estamos vivendo uma fase de muita empolgação porque pela primeira vez desde a fundação da ACL vamos funcionar em sala própria, no Palácio Bernardino Monteiro, após a conclusão das reformas. A inauguração deve ser em agosto. Hoje funcionamos numa sala provisória na Casa da Memória.
Quero agradecer ao prefeito Victor Coelho por ter essa sensibilidade de nos oferecer esse espaço. E também à secretária de Turismo e Cultura Fernanda Merchid, que também é acadêmica, e ao Lucimar, que também é da Academia. Fico muito feliz porque na minha gestão a Academia Cachoeirense de Letras pode finalmente ter a sua sala própria.
O que está sendo programado para os 61 anos da Academia?
Vamos para a Praça Portinari, conhecida como Praça dos Macacos, fazer um sarau. Queremos convidar as escolas para estarem conosco. Queremos marcar presença de forma significativa na vida dos alunos.
Estaremos sempre presentes na Bienal Rubem Braga, que começou na gestão do prefeito Roberto Valadão e felizmente recebeu apoio dos outros prefeitos. Estamos juntos em projetos de leitura e outros projetos culturais. Mas uma coisa é certa. Vamos continuar fazendo acontecer.