Cachoeiro e seus mistérios: Os donos da terra

Na História de Cachoeiro temos uma lacuna, ou melhor, um mistério a ser desvendado, que seria o paradeiro dos verdadeiros donos da terra de Roberto Carlos, que seriam os puris.

Os Puris

Os puris são um grupo indígena brasileiro de hábeis pescadores e bravos guerreiros que viviam originalmente no litoral do Espírito Santo e Rio de Janeiro.

A partir de 1500, com a chegada dos portugueses, foram obrigados a se adaptar e a se refugiar nas frias regiões montanhosas, encurralados pelos europeus, temendo a escravidão imposta pelos brancos, algo que estes índios abominavam. Nos estados de São Paulo e Minas Gerais também foi constatada a existência de aldeamentos puris.

A sociedade

Os puris eram politeístas e possuíam um líder e um pajé. Os membros de sua sociedade tinham funções distintas.

O líder era escolhido devido a sua coragem, bravura e destreza. O pajé cuidava da orientaçao religiosa e também de rituais de cura.

Os homens cuidavam da caça, pesca, confecção de abrigos, armas e também da guerra ou defesa da tribo. E às mulheres cabia cuidar dos filhos, cozinhar a caça e demais tarefas, entre elas cuidar das plantações.

O Significado:

Puri significa Ousado,ou aquele que ousa.Isso dever-se-ia ao modo surpresa como esses indígenas atacavam seus inimigo

Os puris em Cachoeiro

Prefiro o termo Itapemirim, que significa pequeno caminho das águas, uma vez que Cachoeiro nasceu a partir da exploraçao do litoral.

Em 1608 foi assinado o Alvará Regio que separou definitivamente o Espírito Santo da Bahia. Porém, a tutela baiana ainda se manteve até 1800. Essa separação foi fundamental para a exploraçao de nossos rincões, tendo em vista o foco somente no nosso estado vizinho.

As grandes dificuldades geográficas, como a muralha verde, doenças e até mesmo a cordilheira do Caparaó, fizeram dos jesuítas e franciscanos os verdadeiros desbravadores de nossos sertões, cuja missão era conhecer e aculturar os índios e, logicamente, ir atrás de minérios e também de ouro. Entre os jesuítas, destaque para o padre José de Anchieta.

Somente com a bandeira de Manoel José Esteves de Lima, Cachoeiro começou a dar os primeiros sinais de vida e assim começariam os confrontos com os puris, que habitavam o Sul do Estado, principalmente na região de Bananal, hoje Pacotuba. Tudo em nome do garimpo e da febre do ouro.

Em 1820, sob a bandeira de Esteves de Lima, destruíram a taba da região de Pacotuba e expulsaram os índios para a região de Castelo. Porém, entre 1824 e 1828, a perseguição aos puris continuava.

Cachoeiro de Itapemirim nasce em 1824, na região onde hoje se encontra a Matriz Velha. No antigo Quartel da Barca. E começamos a presenciar um aglomerado de aventureiros atrás das Minas de Castelo. A presença de brancos, negras, índias de outras tabas, prostitutas, se fez uma constante no dia a dia da formaçao de nosso povoado, resultando em uma mescla de etnias que, aos poucos, descaracterizavam os puris, contribuindo ainda mais para a perda de sua identidade.

O ódio

Os puris temiam e odiavam os homens brancos, principalmente por causa do garimpo, que além de transmitir doenças, ainda roubavam as índias, praticavam abusos sexuais e também as vendiam como escravas. O mesmo ocorria com as crianças. A Coroa chegou a contratar sertanistas para dizimar os índios, a fim de facilitar a ocupaçao da terra.

Em 1845, o Barão de Itapemirim, o comendador Joaquim Marcelino da Silva Lima, fundou o aldeamento Imperial Afonsino, nas Minas de Castelo, para abrigar os puris amansados. Porém, o aldeamento foi aos poucos sendo extinto.

Deus da Fertilidade de Cachoeiro

Como ja citado, os puris eram politeístas (crença em mais de um deus) e acreditavam que o Itabira era o Deus da Fertilidade, devido ao seu formato fálico. E que se copulassem ao pé desse gigantesco monolito garantiriam muita fertilidade na agricultura, caça e também ne geração de filhos. Fato constatado pela História Oral de alguns remanescentes dessa cultura.

Conclusão

A fundação da cidade de Cachoeiro de Itapemirim é atribuída ao bandeirante Manoel José Esteves de Lima, que promovera em nome do progresso um genocídio em massa dos puris no Sul do Estado. E além dos puris, outros índios, como os botocudos, também foram massacrados. Esses índios, além de agressivos, praticavam a antropofagia, segundo relatos.

Há ainda relatos que os poucos puris que sobreviveram ao massacre imposto pelos brancos e que não foram amansados habitaram nas matas do Pico do Itabira até meados de 1889.

E também há relatos da presença de puris na região de Muqui e em quase todo o Sul do Estado.

Hoje, em Cachoeiro, ainda existem poucos descendentes dessa cultura tão rica e que foi pouco explorada em nome da febre do ouro. E que foi praticamente dizimada pelo homem branco.

Os remanescentes de puris em Cachoeiro que são puros praticamente não existem devido à grande miscigenação que os “amansados” sofreram, uma vez que os não amansados foram caçados e mortos.

O futuro

Confiram no video um raio de esperança em Barbacena, Minas Gerais

Ainda existem pequenas comunidades desses bravos índios que praticamente viram sua cultura ser desrespeitada e quase extinta em todo Brasil. Porém, este pesquisador que vos escreve não descobriu nenhum registro de alguma comunidade puri em Cachoeiro, diferentemente da comunidade quilombola que bravamente mantém as tradições de seus antepassados até hoje.