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Clube de Leitoras: Tudo é livro. Sobretudo a capa

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

“As aparências enganam” é o sentido mais claro e direto do conhecido dito popular “não julgue um livro pela capa”. Dando um passo adiante, podemos desdobrar essa frase ainda mais: que não devemos julgar alguém pela aparência física, mas sim por suas atitudes. Que a forma não tem relação direta com o conteúdo. Que basear-se no externo para julgar o interno é a raiz do preconceito. São muitos os usos populares para uma ideia bastante antiga: nossos sentidos podem nos enganar; o que vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos e provamos é inferior.

O que é importante e relevante é o que alcançamos com a mente, a superioridade das ideias. Ou, de maneira mais simplificada: o corpo é inferior ao mundo das ideias.

Agora, dito da forma mais popular e difundida nos últimos séculos: o que é do corpo é pecado, o que é da alma é de Deus. A separação entre corpo e alma está impregnada em todas as áreas da vida e quando negamos ou calamos a atração que as cores, os cheiros, os formatos e as capas de livros exercem sobre nós, estamos – também e inconscientemente – buscando salvar nossa alma eterna e garantir um lugar no céu.

Tudo é Rio – Carla Madeira, 2014 – é um livro que me lembra os quadros do pintor holandês Rembrandt, um dos mais importantes do barroco europeu. O contraste entre luz e sombra. Rostos iluminados num primeiro plano e formas que se contorcem na escuridão. Contradições. Exageros. Opulência. Esse período artístico teve seu ápice no século 17, quando a igreja aumentou ainda mais seu controle dos fiéis através do poder do estado. As conquistas da reforma protestante foram rapidamente respondidas com repressão, austeridade, nós contra eles, cidadãos de bem e aqueles que merecem a danação eterna. Em literatura, nada é por acaso e as curvas sinuosas e sedutoras da capa dessa obra cumprem o que prometem: nossa jornada se iniciará pelo corpo, pela sexualidade, pelos bordeis à margem da vida respeitosa, pelas criaturas da noite e por aqueles que se distanciaram da fé e de Deus.

O livro nos fisga pelo desejo: “e não nos deixeis cair em tentação”, mas às vezes deixeis. Encobertos pela hipocrisia, podemos viver nas sombras enquanto pregamos ardorosamente sobre a luz. Somos os fiadores daquilo que precisa ficar escondido.

Porém, não estamos na Europa Medieval e Carla Madeira finca seus pés e sua escrita precisa e talentosa no século 21, quando as sombras se misturam à luz da Aurora e da estrela Dalva para nos contar, capítulo após capítulo, uma história onde tudo flui e tanto a claridade quando a escuridão são apenas lampejos e reflexos momentâneos sobre o espelho d’água: não somos santos, nem pecadores. Não somos paraíso, nem inferno. Somos água de rio, correndo entre as pedras, secando em períodos de pouca chuva e transbordando nas enchentes e nas lágrimas: quem sabe a reconciliação entre o corpo e a alma venha da emoção. A água, elemento que simboliza os afetos, é o fio condutor de toda a história. Não somos, apenas estamos.

E mesmo depois de uma noite de perversão, de culpa, de inferno e de entrega do corpo, ainda podemos esperar pela manhã seguinte e encontrarmos a parcela de luz que mora em cada um de nós.

O mesmo sendo válido para nossas manhãs mais ensolaradas e nossas ambições mais sagradas que podem, em algum momento de humanidade, sujarem-se de noite, desejo, obscenidade e breu.

Tudo é livro porque tudo é da vida. Sobretudo a capa porque é o desejo que coloca a vida em movimento. O corpo não é o cárcere da alma e a alma não santifica o corpo. Tudo é sedução, como as curvas de um rio. Tudo é salvação, como as águas de um batismo.

Dedico, mais uma vez, essa coluna a minha querida amiga Raysa Aride, que se deixou seduzir por uma linda capa e por isso escolheu essa obra para me presentear.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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