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Clube do Livro: qual a diferença entre falar para e falar com?

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Você já reparou nos símbolos que estampam as insígnias de patentes militares? Patente é o título correspondente ao posto a que o militar ascende: soldado, tenente, sargento, coronel. E o que representa esse posto são duas linhas que se tocam e apontam para cima, como um triângulo cuja linha da base não é desenhada. O sistema de classificação militar define autoridade e hierarquia e isso é reforçado por todo o simbolismo do universo bélico dessa instituição.

Mais uma pergunta: você já ouviu falar sobre a famosa história do Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda? Acredito que sim. Segundo a lenda, esses cavaleiros foram os homens premiados com a mais alta patente da corte do Rei Arthur e sabe por que essa história é tão contada e recontada e chegou até aos dias de hoje? Porque ela representa uma ruptura completa na forma de organizar e de se viver a estrutura do combate e das conquistas sociais da época em que se passa a história – távola significa mesa e esses cavaleiros, acompanhados do rei, se sentavam ao redor de uma mesa que não tem cabeceira, uma mesa que, por ser redonda, posiciona a todos os participantes em uma posição de iguais – ou seja, a távola redonda é o desaparecimento da hierarquia e da demonstração de poder e autoridade.

Repare a mudança entre as formas geométricas que têm seu simbolismo ligado aos dois exemplos que citei: quando desaparecem as duas linhas que lembram o triângulo e apontam para cima – organização onde existem lugares superiores e posições inferiores – surge o círculo – a forma associada à perfeição – onde todos são iguais, pois independentemente da posição que ocupem estarão todos à mesma distância do centro – que pode ser considerado o ponto de chegada, o objetivo em comum.

Falar para é a fala marcada pela diferença e pela autoridade. Falar com é a fala que contempla a igualdade. Falar com é falar juntos em prol de algo maior.

Durante o mês de fevereiro, em nosso Clube de Leitoras, estivemos na companhia da autora Lygia Bojunga e lemos a história da menina Raquel, personagem principal do livro A Bolsa Amarela. Acho maravilhosa a repercussão que esse livro causa todas as vezes que ele é citado, seja em conversas que acontecem pessoalmente ou em postagens em redes sociais. Já ouvi muita gente dizer que esse é seu livro favorito, que gosta de pensar na Raquel como amiga, ou que se identifica de verdade com as experiências e pensamentos da menina. Essa aproximação entre a ficção e os nossos afetos se dá – em grande parte – porque, quando escreve, Lygia fala com o leitor não de um lugar distante e superior, mas sim de uma posição acessível, próxima, cúmplice, amiga. Todos nós guardamos lembranças da infância e podemos nos ver em Raquel e, além disso, as palavras que ela escolhe para construir a história são simples e corriqueiras – palavras que todos nós usamos cotidianamente e que conhecemos bem seus significados. Eu disse, há algumas linhas, que as palavras são simples, porém, o que a autora consegue expressar através delas não é simplista, raso ou limitado. Na verdade, muito pelo contrário: é com essa linguagem lindamente popular que ela toca em assuntos importantes, complexos e que nos levam a reflexões muito profundas sobre nós mesmos e sobre como se organiza o mundo em que vivemos.

A base para a existência do nosso grupo é exatamente essa: o diálogo próximo, sem hierarquia e baseado no respeito entre iguais.

Mas não pense que, por isso, esse é um lugar onde todas concordam com tudo e sobre tudo. Em sua própria essência, esse nosso círculo de leituras e que é, também, a forma como nos sentamos durante os debates, é precisamente o lugar onde a discordância é aceita e respeitada. É somente nos espaços onde as pessoas são, verdadeiramente, vistas como iguais que o ato de discordar pode existir. Onde existe hierarquia, onde existe um manda e o outro obedece – são esses os lugares do silêncio, da concordância forçada, do pensamento único e da ausência absoluta do diálogo – porque só existe uma voz: a que comanda e dá ordens aos considerados inferiores. Lygia conversou conosco e, dessa troca, todas participamos, todas contribuímos e chegamos à essa bonita conclusão: somos diferentes e isso nos fortalece.

Quem me contou sobre a diferença entre “falar para e falar com” foi outro amigo que conheci nos livros. Um autor e professor que não se considera melhor, acima ou mais importante do que nós, que temos tanto a aprender com ele. Você pode conhecer e entender melhor esse detalhe que muda nossa forma de falar e ouvir – e como isso impacta todas as áreas da nossa vida – lendo A Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, lançado em 1996. Os ataques a Freire que têm, infelizmente, acontecido e crescido no Brasil são ataques não a um homem, mas a própria ideia de que você tem voz e pode usá-la para discordar. Quem ataca Paulo Freire ataca o diálogo e apoia as falas de comando e ordem que nos veem como subalternos, inferiores e destinados a obedecer sem questionar. Converse com Paulo, com Lygia, com seus amigos e defenda seu lugar na grande mesa redonda que nossa sociedade pode e deve vir a ser.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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