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Clube do Livro: Quem tem medo de Jane Austen?

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Começo esse artigo com um agradecimento: obrigada aos amigos que aceitam os meus convites mais estapafúrdios. Estamos em 2023 e eu carregava comigo um desejo intermitente, desde o terceiro período da faculdade de Letras: a vontade de recriar, na minha vida, a experiência do filme “O Clube de Leitura de Jane Austen”, lançado em 2007. À época, eu já pesquisava obras cinematográficas para meu trabalho de conclusão de curso, cujo tema havia sido escolhido desde o primeiro semestre: eu escreveria sobre o cinema em aulas de língua inglesa e, de fato, o fiz.

Na trama, seis amigos se encontram mensalmente para discutir os seis livros da autora inglesa do século 18. Revendo o filme, há alguns meses, lembrei-me de como eu me imaginava depois de formada, com tempo para ler o que eu quisesse e com a vida organizada o suficiente para que tal empreitada pudesse ser colocada em prática. Pois eis que me formei há quase 15 anos e esse idílio de tempo e serenidade ainda não chegou. Se não há momento propício, façamos nossas escolhas no presente e aproveitemos aquilo que será possível extrair do momento. Mais uma vez, obrigada aos amigos que decidiram passar os próximos 12 meses na companhia das personagens criadas pela genial escritora inglesa.

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra e começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Porém, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria. A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, escreveu histórias de amor que possuem um tom irônico e fazem crítica à sociedade da época. O universo de Austen não existe mais. Cartas enviadas através da criadagem, passeios de carruagem pelos parques e lagos, piqueniques em numerosos grupos de amigos, visitas inesperadas que passavam meses em companhia dos anfitriões. Porém, é um engano assumir que seus livros se tornaram datados, com o passar dos anos.

O gênio literário de Jane transcende os séculos, pois sua pena afiada não se dedicava somente a descrever os costumes e modas da era regencial inglesa, antes, a autora se debruçou sobre filigranas e vicissitudes humanas, com as quais ainda nos identificamos e sobre as quais, acredito, enquanto existirem paixões avassaladoras, desejos frustrados e casais que se perdem um do outro, pelo caminho, seu sucesso ainda estará garantido no futuro.

No título desse artigo, faço menção a outro filme muito famoso, “Quem tem medo de Virgínia Woolf?”, lançado em 1966, considerado polêmico durante muitas décadas. Lendo “Razão e Sensibilidade”, primeiro livro de Austen, lançado em 1811, me peguei pensando: depois de um século de psicanálise, dos debates públicos e políticos acerca dos direitos à livre expressão de todas as orientações sexuais, nossas entranhas, perversões, delírios e frustrações expostos nas prateleiras para consumo e escrutínio público, da liberdade sexual feminina, dos estudos sobre masculinidades, dos trisais e de considerarmos justas todas as formas de amor, o que há nas páginas de Jane Austen que ainda pode nos prender, nos encantar e nos trazer certa dose de incômodo, estranhamento, descoberta ou medo?

Não trago respostas, mas me permito levantar suspeitas: no século 21, despidos de muitos véus e pudores, que não esfriemos nossos corações ao ponto de matarmos o amor de inanição. Há que se ter serenidade, em meio ao turbilhão de amores e costumes líquidos. Que saibamos a diferença entre razão e cinismo, entre sensibilidade e pieguice.

É possível ser racional e entregar-se, de corpo e alma, ao amor que pisa leve e sem alarde. É mandatório sermos sensíveis e recusarmos o rótulo pejorativo de emocionados. Em essência, Jane escreve sobre coragem e, apesar dos discutíveis avanços comportamentais, suas páginas podem nos assustar ao nos confrontarem com nossa medieval, quiçá neandertal, necessidade de conexão, eternamente atrelada ao pavor ancestral do abandono. Páginas feito espelhos que, ao revelarem rostos do passado, assombrem nosso futuro: se o amor é um contrato, quanto dura sua vigência até o derradeiro litígio de nós mesmos? Se sufoco meus sentimentos, quando irão aflorar os sintomas? Apesar de pós-modernos, quais são nossas científicas respostas e possível cura para um coração partido? Para Jane, somos o futuro. Para mim, as mudanças se resumem ao desaparecimento das cartolas e aos vestidos mais curtos.

Do outro lado do Atlântico, duzentos anos depois, ainda nos sentamos em frente às telas ruminando as mesmas dúvidas e os mesmos receios que comprimiam o peito arfante da jovem Marienne Dashwood e que escorriam em silencioso suor sobre a pele de sua irmã, Elinor, quando cantarolamos, culposamente “Folia pra mim me arriscar no amor, apostar na incerteza, pular de onde for, de novo, meu amor, diziam pra mim que essa moda passou, que monogamia é papo de doido, mas pra mim é uma honra, ser uma cafona pra esse povo.”

Olivia Batista de Avelar. Escritora, professora, articulista de literatura e cinema. Organizadora do Clube de Leitoras de Cachoeiro de Itapemirim
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