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Clube do Livro: Rubem Braga hoje e sempre

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Dia desses, enquanto ouvia um podcast chamado História FM, escolhi acompanhar uma série de quatro episódios sobre a era Vargas. Gosto muito de história do Brasil. No episódio que tratava especificamente sobre o período do Estado Novo, uma professora foi entrevistada e contou sobre alguns aspectos de sua pesquisa sobre esse período. Ela analisou, para sua tese de mestrado, muitas revistas e jornais da época – final da década de 30 e início dos anos 40 – e estudou como essas publicações foram impactadas pela política repressora de Getúlio e de que forma elas atuavam para tentar burlar a censura fortemente imposta por seu regime. Em dado momento, fui surpreendida pela menção que ela fez ao nome do cronista de um importante jornal carioca da época. O jornalista que, segundo ela, mais se destacou em sua pesquisa pela enorme capacidade de contornar a censura de forma inteligente e bem humorada, mas com olhar bastante crítico e denunciador.

O exímio comunicador que munido de muita coragem, engajamento político e escrita precisa era capaz de expressar de forma simples as verdades duras daquele governo e do Brasil de seu tempo. Esse cronista era Rubem Braga.

Comecei a ler as crônicas de Rubem Braga em 1994. Eu tinha dez anos de idade e me lembro bem do ano por ter sido em um período de férias escolares, no mês de julho, e porque os primeiros textos de Rubem que conheci estavam em uma edição especial de algum jornal, que já não me lembro mais qual era. Em formato de coletânea, algumas de suas crônicas mais nostálgicas e bonitas e, a maioria mencionando Cachoeiro de Itapemirim, foram organizadas em um caderno literário dentro do jornal. Na capa, uma foto do Braga junto de outra com a paisagem de Cachoeiro e o ano da publicação. Lembrando dessa época, penso que talvez tenha sido uma homenagem durante as festividades da nossa cidade. Um jornal do final do mês de junho que chegou até mim algumas semanas depois, quando os adultos já o tinham deixado de lado. Não tenho certeza. Porém, foi essa lembrança que me motivou a escrever sobre esse autor que admiro e que leio incansavelmente, há 28 anos. Nesses dias que antecedem a festa ao nosso santo padroeiro, todo leitor cachoeirense das crônicas de Rubem se pega matutando sobre suas palavras: “Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa: “Eu sou lá de Cachoeiro…”

Felizmente, não consigo eleger uma crônica preferida de Rubem Braga. Tenho fases mais leves e poéticas, quando releio a coletânea com o título de uma de suas crônicas mais encantadoras “A borboleta amarela”. Em momentos de introspecção e melancolia, escolho as belíssimas e imaginativas crônicas presentes em “Aí de ti Copacabana”. Depois de saber de suas crônicas sobre a situação política do Brasil sob a ditadura do Estado Novo, fiquei muito curiosa para ler o Rubem Braga que não conheci – aquele que era a voz cotidiana de tempos difíceis. A voz lúcida e crítica do seu tempo. A voz de um escritor sensível e atento aos desdobramentos que ele via, entendia com seu intelecto e transcrevia em papel com seu talento e humanidade.

Rubem Braga faleceu em 1990, quando eu tinha seis anos. Durante muitos anos suas crônicas me encantaram e me acompanharam e eu ficava envaidecida e orgulhosa de ler o nome da minha cidade nos livros. Hoje, além da minha antiga e sempre viva admiração, acalento uma vontade impossível de ser realizada, mas a qual me entrego em devaneios vespertinos e em momentos de esperança rala sobre os rumos da vida e das coisas todas em nosso país.

Muitas vezes, eu penso: o que diria o Braga sobre esse atual momento em que vivemos? Quais seriam as palavras e as frases irretocáveis que ele nos presentearia?

Como expressaria sua tristeza e seu otimismo, seu cansaço e sua dose de realidade emoldurada em lirismo? Sou a favor de todas as homenagens ao nosso maior cronista – seu nome, além de estar nos prédios públicos, nos eventos, nos projetos e nas placas, deveria estar acompanhado de suas palavras mais doces e de suas denúncias mais duras, em panfletos colados nos postes da nossa cidade, em correntes de WhatsApp, nos stories do Instagram.

O lugar que Rubem escolheu para ele foi ao lado do povo e contra tudo que nos oprime.

E cada cachoeirense, cada brasileiro, cada pessoa que passa por essa vida sem ter se dedicado a uma longa e generosa conversa com ele perdeu um pouco sobre as palavras, sobre o valor das coisas, sobre a cidade que habitamos e sobre si mesmo. A crônica é o gênero que carrega em seu nome a presença marcada de seu tempo de duração e relevância. Só Rubem Braga fez desse efêmero e curto espaço de escrever seu lugar e seu lar perenes. Sempre relevante. Sempre necessário. Sempre fresco, como o primeiro café de uma manhã acompanhada por um jornal e uma boa caminhada pela praça Jerônimo Monteiro. Por todas as praças onde há espaço e tempo para apreciarmos a vida – a matéria prima de todo escritor

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora

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