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Clube do Livro – sobre as palavras e os amigos

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

E o que é ler senão nos sentarmos, confortavelmente, para uma longa e bonita conversa? Uma conversa silenciosa que desobedece ao tempo: já que podemos participar dela mesmo que ela tenha sido iniciada e proposta há muitos anos, décadas ou séculos? Um diálogo que desdenha da geografia simples: pois pode ser acomodado em hemisférios e continentes onde nunca pisamos, em cidades e templos já destruídos pelos homens, podem morar em redomas protegidas do desgaste e da desintegração por serem feitas da mais pura e fina matéria imaginária? Uma conversa translinguística que, pelo intermédio dos tradutores-condutores, pode ser recebida pelos nossos olhos em nossa própria língua, mesmo que ela tenha sido desenhada em um idioma que não dominamos ou nem conhecemos. Uma conversa que transpõe a finitude humana: já que podemos ouvir com os olhos as palavras e os pensamentos daqueles que já partiram. Uma conversa que não nos exige uma resposta imediata: uma vez que aquelas vozes podem continuar nos acompanhando e nos esclarecendo ou provocando ainda por muitos e muitos anos e que sempre poderemos voltar a encontrar aquelas páginas com nossas novas considerações e outras muitas perguntas. Dito tudo isso, repito: o que é ler senão conversar?

E quem entre nós, os seres imprescindivelmente comunicacionais, pode se eximir ou se esconder – por vergonha, medo, desânimo ou desfaçatez – de uma boa e pura conversa entre amigos?

Começamos um Clube do Livro em abril de 2020: eu, um antigo amigo de escola e uma amiga que conheci quando ela trabalhou por algum tempo na mesma escola que eu trabalho. Ler com amigos é colocar mais gente nesse diálogo silencioso que chamamos leitura. É convidar outros olhos para ouvir e outras vozes para expandirem ainda mais a cobertura das páginas. É reforçar a possibilidade de encontrarmos as palavras que o autor não disse, mas que estão todas nos aguardando e, para alcançá-las, precisamos sair de nós e nos movermos sempre em direção ao outro. Ler com amigos é como convidá-los para compartilhar conosco uma viagem imaginária – é ter com quem conversar sobre a paisagem que vemos da janela e sobre tudo que ela nos causa. É ouvir as diferentes impressões que eles terão sobre a mesma paisagem que nos tocou os olhos. Quando lemos, não é de bom tom concordarmos sempre com o autor, mas é sensato entendermos que o que está no papel está feito – só o que disso fazemos nos é passível de modificação: das nossas leituras nascerão nossos próprios textos, sejam eles mentais, orais ou escritos. E é sobre eles, os nossos próprios e incessantemente remodelados textos internos, que devemos depositar a nossa maior vontade e devoção – o que esses autores e suas obras fazem de mim, enquanto dedico meu tempo e atenção ao que eles têm a dizer?

Acredito que seja esse o lugar e esse o pensamento que pode nos ajudar a responder a essencial pergunta: mas, no fim das contas, como e porque ler?

A não ser que sua profissão – a função para a qual você se preparou e da qual retira seu sustento – seja a de crítico literário ou de editor, ler um livro se torna uma aventura árida e uma colheita infrutífera se nossa principal finalidade ao nos colocarmos disponíveis para tal encontro-conversa for ranquear as obras com as quais nos encontramos. Pense bem: consideramos aceitável classificar pessoas com uma, duas ou cinco estrelas? Porque, quando lemos de forma sincera e receptiva, são as pessoas por trás das linhas escritas que desejamos encontrar. Um livro não cai pronto a nossa frente, feito mangas ou cajás, cada qual em sua estação devida. Existe uma pessoa que sentiu e que se sentou – por horas a fio – e se comprometeu a contar uma história e, repito, caso você não os leia por profissão de editor ou crítico, não se distancie tanto assim daquelas linhas, não as olhe de cima ou de soslaio – acolha os relatos como as palavras de um amigo, como se elas fossem a você endereçadas em carta íntima, ou confessadas em momento exaltado de sufoco, desespero ou paixão. “O papel tem mais paciência do que as pessoas” escreveu Anne Frank, em seu diário que se transformou em livro póstumo.

O papel é um meio – uma linha que funciona como condutor e conector – ele não é o objetivo da escrita, não é sobre ele que um livro começa ou, sequer, termina. Sempre é sobre as pessoas, sempre é sobre nos proporcionar o encontro entre o eu e o outro.

Existem, em todos os livros, as pessoas que vieram antes de ele ser escrito e que foram as razões e a matéria prima das histórias. Existem os autores, aquelas pessoas que os escrevem e que desenham as letras que são, somente, a representação dos sentidos mais humanos que elas carregam em si mesmas. Há as personagens, pessoas que serão tão vivas quanto as alcançarmos com nossa identificação e laços de afeto. Por fim, existimos nós, aqueles que recebemos todos os anteriores e que vamos nos encarregar de dar às formas os seus conteúdos, através das nossas sensações e sentimentos únicos e intrinsecamente pessoais e subjetivos. Nós, os leitores, não lemos os livros somente com o nosso intelecto, nós os lemos com nossos afetos, com o nosso passado, com os nossos sonhos futuros e são essas as emoções que podemos usar como o segundo motivo para encontrarmos verdadeiramente uma leitura que nos acomode e acolha: o que conhecemos através dos livros nos serve de alimento para nutrirmos as nossas próprias relações fora deles – as relações com as pessoas que não moram no papel -, mas que dividem conosco a corporeidade e a realidade imediata da vida. “A leitura do mundo precede a leitura da palavra” disse Paulo Freire, e a leitura da palavra aprofunda a nossa leitura do mundo.

Enquanto um crítico literário lê uma obra com o objetivo de analisá-la – de acordo com parâmetros estéticos, linguísticos e retóricos -, enquanto um editor lê um livro com o objetivo de transformar um manuscrito em uma obra acabada e pronta para ser comercializada, qual seria, então, o objetivo de um leitor comum – como eu e você – ao escolher e ler um livro? Nosso objetivo é, ao ler os livros, aprofundar nossa leitura das pessoas, da vida e, sobretudo, de nós mesmos.

Ler é aguçar nosso entendimento sobre a teia de relações entre o humano e suas circunstâncias. Ler é expor nossa sensibilidade por intermédio e uso das palavras cujos sentidos nos explicam e nos permitem experimentar o mundo.

Radicalmente solitário, o ato de ler é profundamente interpessoal. Conversar sobre um mesmo livro, fazer perguntas e compartilhar passagens preferidas e compartilhar de que maneira nossa alma foi tocada e poder ouvir, dos amigos, também as suas emoções, nos conecta e aproxima por meio de linhas invisíveis, mas muito fortes: somos todos feitos daquilo que, através dos nossos sentidos, chegou até nós e nos moldou como pessoa a partir das nossas emoções.

Essa é uma nova proposta para essa coluna, para esse meu espaço de escrita/conversa semanal, onde escrevo desde 2020. Além de escrever sobre os filmes, os motivos para iniciar esse novo caminho com os artigos sobre leitura são, como não poderiam deixar de ser, as pessoas: os amigos com quem compartilho meu querido e especial clube do livro – Hudson e Débora – e que me presenteiam com tantas sugestões e palavras e motivação. Porém, também são motivos as muitas pessoas que vieram perguntar e conversar sobre a minha experiência ao ler em grupo. Nas próximas semanas, pretendo trazer relatos tanto dos livros, quanto da minha experiência pessoal e também sugestões – para serem compartilhadas e, principalmente, aprimoradas – por aqueles que, por ventura, depois de passarem os olhos sobre esse texto, também decidam começar seu próprio clube com suas próprias escolhas de livros e amigos.

Encaremos esse primeiro texto como um prefácio: no virar das páginas, veremos o que nos reserva esse novo ano, com a certeza de que tudo chegará até nós através das palavras, dos encontros e, certa e felizmente, através das pessoas e dos afetos com que elas nos presenteiam.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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