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Conheça a Baunilha Capixaba, espécie rara de orquídea localizada no Espírito Santo

redacao
Redação Dia a Dia

Pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma), em Santa Teresa, chamam a atenção para a Baunilha Capixaba (Vanilla capixaba), uma espécie de orquídea endêmica da Mata Atlântica do Espírito Santo, ameaçada de extinção.

No artigo publicado abaixo, Dayvid R. Couto e Talitha Mayumi Francisco apresentam detalhes desta espécie e alertam para a necessidade de ampliar o conhecimento a respeito desta joia botânica, antes que desapareça.

Confira o artigo

Os potenciais e a ameaça de uma espécie de orquídea rara e exclusiva da Mata Atlântica do Espírito Santo: a Baunilha capixaba

Dayvid R. Couto1, Talitha Mayumi Francisco1

1 Pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Santa Teresa, ES.

A baunilha é o nome comum atribuído a espécies de orquídeas do gênero Vanilla, que produzem frutos aromáticos. Essas espécies são conhecidas e valorizadas em todo o mundo pelo seu uso como especiaria, amplamente utilizada na indústria alimentícia e de cosméticos, além de seu papel na culinária. Apesar do seu potencial ornamental devido às flores vistosas, a relevância dessas espécies é principalmente atribuída à produção de frutos para a extração de compostos aromáticos, especialmente a vanilina, que possui elevado valor no mercado. O gênero Vanilla possui 110 espécies, das quais apenas cerca de 31% são de fato reconhecidas como baunilha, ou seja, produzem frutos aromáticos. Destas, a exploração dos compostos aromáticos é restrita a apenas três espécies em todo o mundo, sendo que aproximadamente 95% da produção mundial é extraída da espécie Vanilla planifolia. Esta espécie é nativa do México, mas é cultivada principalmente em Madagascar, que responde por 80% da produção mundial.

O Brasil, como país com a flora mais rica do mundo, possui mais de 47 mil espécies de plantas, algas e fungos catalogadas. É também o país que abriga a maior diversidade de espécies do gênero Vanilla, com 40 espécies, das quais, apenas 15 são aromáticas e podem ser reconhecidas como baunilhas. Entre essas, apenas a Vanilla chamissonis Klotzsch ocorre naturalmente no estado do Espírito Santo, principalmente em vegetação lenhosa de restinga (vegetação próxima ao mar) e florestas estacionais semidecíduas, em altitudes de até 780 metros acima do nível do mar.

Além dessa espécie, existe outra de particular interesse, exclusiva do estado do Espírito Santo: a Vanilla capixaba. Descrita em 2017 pelos botânicos capixabas Cláudio Fraga (Jardim Botânico do Rio de Janeiro) e Dayvid Couto (Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA), essa espécie encontra-se atualmente muito ameaçada. A espécie foi encontrada em um pequeno fragmento florestal no município de Alegre, na Região do Caparaó Capixaba, totalmente circundado por pastagens degradadas e sua população encontra-se sujeita a incêndios, infelizmente muito comuns na região e, por extrações criminosas e clandestinas de colecionadores. Devido a raridade e o baixo número de indivíduos registrados em sua população, a espécie está incluída na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção do Espírito Santo (Decreto nº 5238-R, de 25 de novembro de 2022), na categoria Criticamente em Perigo. Trata-se de uma espécie com flores ornamentais e conhecida apenas de uma localidade. Isso significa que, sem ações eficazes para sua proteção, ela pode ser extinta em um futuro próximo.

Além dessas informações, pouco se sabe sobre suas interações com a fauna e seus usos potenciais, incluindo a produção de frutos com aromas distintos. O potencial econômico de muitas espécies da flora brasileira é desconhecido, incluindo o da Vanilla capixaba. Seus compostos aromáticos, atualmente desconhecidos, podem representar um grande potencial econômico para a indústria, o setor gastronômico e de geração de renda para pequenas propriedades rurais capixabas. Concomitante ao potencial comercial das fragrâncias, das aplicações farmacêuticas e das possibilidades de uso culinário, precisamos reconhecer suas funções na natureza, na medida em que embeleza e serve de abrigo e alimento para insetos, além de outras interações ainda desconhecidas.

Porém, para além de todos esses potenciais, precisamos de ações para salvar essa espécie da rota da extinção. Campanhas de campo para encontrar novas populações na região são urgentes e necessárias. Sem pesquisa de base, esse cenário promissor pode se perder, como tem ocorrido com muitas espécies da nossa biodiversidade, que foram extintas antes mesmo de serem formalmente descritas pela ciência. A sensibilização e consequente conscientização da população e o apoio das autoridades locais e do poder público são fundamentais para garantir que essa espécie não seja perdida para sempre, mas sim protegida e valorizada como um patrimônio natural do Espírito Santo.

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