ARTIGO: Jaqueline Bragio, doutora e mestre em Educação, enfermeira especialista em Saúde da Criança e Adolescente.

No Brasil, milhares de crianças e adolescentes são vítimas de algum tipo acidente doméstico. De acordo com os dados do Ministério da Saúde ocorrem, aproximadamente, 3,6 mil mortes de crianças brasileiras por ano vítimas de acidentes.  

Com a pandemia mundial do novo vírus coronavírus, o isolamento social tornou-se uma realidade. E nesse novo cenário, observamos que muitas famílias precisaram se adaptar e se reinventar no cotidiano, pois temos que manter às “rotinas” profissionais e pessoais já existentes, incluindo a modalidade do trabalho remoto (em algumas situações) e atividades escolares domiciliares. Somado a tudo isso, precisamos manter as crianças restritas ao ambiente de casa, o que por sua vez pode aumentar a incidências dos acidentes domésticos.

Para ficar em casa com crianças e, em segurança, precisamos conhecer as fases do desenvolvimento infantil e os riscos de acidentes mais frequentes por faixa etária, destacamos às queimaduras e quedas pela alta incidência.

As dolorosas queimaduras

As queimaduras são lesões que acometem o tecido, podendo ser provocadas principalmente por contato direto ou indireto com fonte de calor, frio extremo, substâncias químicas ou decorrentes da eletricidade.

Entre suas consequências destacamos as cicatrizes, sequelas de ordem psicológicas, internações hospitalares e em alguns casos, o óbito.

Nas crianças menores de 2 anos observamos uma alta incidência de acidentes envolvendo queimaduras provocadas por derramamento de líquidos quentes sobre o corpo e/ou queimadura provocada por fios e carregadores próximos ao alcance da criança. 

Nas crianças na idade entre 03 a 07 anos, os números envolvendo acidentes provocados por chama são mais elevados, pois a curiosidade desperta interesse em manipular o fogo e produtos inflamáveis. A partir dessa idade, e especial na pré-adolescência, os riscos envolvem a tentativa de acender churrasqueiras, manipular bombas festivas (“bombinhas”) ou brincar de soltar pipa, próximo a corrente elétrica de alta voltagem.

Entre os cuidados na prevenção, destacamos: 

– Não manipular panelas, líquidos ou comidas superaquecidos com crianças no colo ou próxima ao local do preparo;

– Proteger as tomadas da casa, com protetores próprios;

– Manter fios encapados e carregadores de celular e aparelhos desconectados das tomadas, quando terminar o uso.

– Não permitir que a criança solte pipa em lugares com fios de corrente elétrica de alta voltagem.

– Armazenar produtos inflamáveis fora do alcance das crianças, incluo aqui o álcool 70% (líquido ou gel).

As quedas

Outro tipo de acidente bem comum são as quedas. Segundo a ONG “Criança Segura” (https://criancasegura.org.br/) no Brasil, no ano de 2018, 46,1% crianças entre 0 a 14 anos, foram internadas por quedas. 

A recomendação do Ministério da Saúde, para prevenção às quedas, inclui medidas como manter protetores de berços com grades altas, não deixar a criança sozinha em cima de móveis como cama, sofá, trocador, e não deixar uma criança sozinha sob os cuidados de outra criança. 

Outras medidas de segurança são: instalação de telas de proteção ou grades nas janelas e varandas abertas, assim como a proteção nas escadas. 

Reforçamos que a PREVENÇÃO é o meio mais eficiente e menos danoso, para a família e crianças. Isso não significa impedir o crescimento e desenvolvimento normal inerente a cada fase. A curiosidade e vontade de explorar o meio em que vive são importantes, e precisam ser incentivadas, no entanto, cabe aos familiares e cuidadores a supervisão contínua na tentativa de impedir os acidentes domésticos, que por sua vez, podem deixar sequelas irreversíveis ou até mesmo levar perda de um ente querido.