CRÔNICA: Lorena Inocência Marchesi Caetano é professora de Inglês com foco em Business, Tradutora e Intérprete de língua inglesa, poetisa, praticante de canto, esposa e mãe.
Havia lá pelas bandas do cafezal um certo contador de causo. Sujeito de prosa fácil, mas distinto, e reputado por supersticioso – o José Lourenço da Silva. Um dia ele se converteu na igreja dos crentes e dizia não mais acreditar em assombrações.
– E saci pererê, cumpadi? – Perguntavam.
– Também num existi. – Respondia o José
– E boi tatá? – Indagava outro.
– Também não. – Assegurava o Zé da Silva.
– E mula sem cabeça? – Insistiam.
– É bobagi. – Respondia sem demora.
– E mãe d’água? – Queriam saber.
– Tudo mintira. – Dizia o Zé Lourenço.
Daí, que uns meninos, filhos mais novos da Dona Teca, quiseram provar o que ele dizia e armaram-lhe uma emboscada.
Naquele tempo era costume os homens andarem montados, levando uma lamparina, pois não havia postes de luz no caminho da roça. Também é verdade que, tão logo escurecia, saiam cobras, corujas, cigarras, morcegos e tatus a cruzar o caminho e interromper o silêncio da mata.
Passando o Zé Lourenço, viu um pé de café que chacoalhava, e se intrigou:
– Mas num tá ventanu (?!)
De repente, acendeu-se um foco de luz por detrás do pé de café, de onde o Zé Lourenço ouviu o miado de um gato que fugia. Deixou cair a lamparina no chão e interrogou apreensivo:
– Q-quem táa-í?
E viu elevar-se acima do arbusto o crânio ressecado de um boi, brilhante e horrendo, que lhe saudava com uma voz esganiçada:
– Ah! É o nosso cumpadi Zé Lourenço.
Zé Lourenço gritou bem alto: “Sangui di Jisus tem poder!” – e saiu correndo numa carreira só, deixando o cavalo e a lamparina para trás.
No dia seguinte encontrou seu cavalo amarrado numa estaca perto da venda e sua lamparina na mão de um dos garotos. Seus amigos às gargalhadas, ouviam repetidas vezes a história que os garotos contavam.
Lorena Inocência Marchesi Caetano. Foto: Acervo pessoal