Ela não vem com aviso, nem com pedido formal de desligamento. Às vezes, nem se percebe de imediato. Mas está lá: na falta de brilho nos olhos, na desconexão com a equipe, no esforço mínimo para cumprir o básico.
É a chamada demissão silenciosa, quando o trabalhador permanece presente fisicamente, mas sua motivação e vontade de contribuir já se foram.
Para entender esse fenômeno, conversamos com Isaela Sabadini, CEO da Ouse Desenvolvimento Humano e executiva com mais de 20 anos de experiência em Recursos Humanos.
Isaela destaca que muitas vezes a demissão silenciosa começa quando a pessoa vai sendo deixada de lado, sem espaço para opinar, crescer ou ser ouvida:
“Não é preguiça, nem má vontade. É dor mesmo. É se sentir invisível num lugar onde antes se sentia parte. Esse desligamento invisível acontece, muitas vezes, por falhas que vão além do colaborador”, enfatiza.

Essa sensação de exclusão pode ser causada por falta de preparo das lideranças, negligência da empresa ou, simplesmente, por um ambiente de trabalho que não acolhe mais.
Silêncio que grita
O termo “quiet quitting”, ou demissão silenciosa, ficou conhecido em 2022 nas redes sociais, mas o sentimento é antigo.
Ele costuma aparecer em ambientes tóxicos, com cobranças excessivas e pouco reconhecimento.
O funcionário para de se doar porque entende que não vale mais a pena.
“Por trás da queda de desempenho de alguém, sempre há uma história. Pode ser pessoal, profissional ou uma soma das duas. Cabe ao líder se aproximar com empatia e disposição para escutar”, reforça Isa.
Segundo ela, o RH precisa estar atento aos sinais, mesmo quando eles não são ditos com todas as letras.
Afastamento da equipe, desânimo, queda no engajamento, ausência de feedbacks e até reclamações veladas podem indicar que algo está errado, alerta a gestora de Recursos Humanos.
Prevenir é cuidar
Nas empresas dos cliente que atende, Isaela conta que o trabalho preventivo começa com presença ativa e diálogo constante.
Segundo Isaela, o RH busca estar perto das lideranças e equipes, ouvindo e propondo soluções.
Isso é feito através de feedbacks regulares, monitoramento da carga de trabalho, programas de desenvolvimento e espaços de escuta acolhedores
“Queremos garantir que ninguém se sinta sozinho. Mesmo quando há pressão ou mudanças, é possível atravessar esses momentos com mais segurança quando há apoio”, destaca.
Escuta, empatia e respeito: a base de tudo
Isaela Sabadini informa que para os gestores há treinamentos sobre como agir com ética e sensibilidade, inclusive na hora de um desligamento.
“Desligar alguém não pode ser só uma decisão técnica. É um encerramento de história — e toda história merece respeito”, defende.
Essas capacitações envolvem escuta ativa, empatia e como lidar com conversas difíceis. A intenção é evitar que qualquer profissional saia com a sensação de que foi ignorado ou descartado.
“Mesmo empresas com boas culturas organizacionais podem cometer erros silenciosos. O importante é estar atento, aprender com eles e agir com consciência. Pessoas querem estar onde são vistas, ouvidas e valorizadas. E isso é uma responsabilidade de todos”, enfatiza.
Um chamado à reflexão
A demissão silenciosa é um sintoma — não de fraqueza, mas de esgotamento. De ambientes que pedem demais e oferecem de menos. De relações que perderam o cuidado, o propósito, o sentido.
Por isso, olhar com mais atenção para quem está ao nosso lado no dia a dia profissional é essencial. Criar espaço para escuta, troca e reconhecimento é mais do que uma boa prática de gestão, é humanidade.
Números que preocupam
O problema não é isolado. No Brasil e no mundo, os dados são alarmantes:
– 62% dos brasileiros estão emocionalmente desconectados do trabalho (Microsoft, 2023);
– Apenas 27% se dizem engajados com o que fazem (Gallup, 2022);
– No mundo, só 21% dos trabalhadores afirmam estar realmente engajados.
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Uma resposta
Como um sócio de uma empresa pode ser demitido?