Foto: Arquivo pessoal
Hoje, 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, uma data dedicada a ampliar o conhecimento sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e reforçar a importância da inclusão e dos direitos. O autismo afeta milhões de pessoas em todo o mundo, manifestando-se de diferentes formas e exigindo compreensão, acolhimento e suporte adequado.
O diagnóstico precoce e o acesso a terapias são fundamentais para o desenvolvimento das pessoas autistas, mas muitas famílias ainda enfrentam desafios para garantir esses direitos. Além disso, a falta de informação contribui para a manutenção de estereótipos e barreiras dentro da sociedade.
Para entender melhor essa realidade, conversamos com famílias de crianças autistas, que compartilharam um pouco de suas rotinas, desafios e conquistas após receberem o diagnóstico; com profissional especializada, que explica a importância das intervenções e do apoio adequado; e com a presidente de uma associação que promove o acolhimento de família atípicas. Conheça essas pessoas que são vozes fortes e concretas dentro do universo azul do autismo.
Suelen Fabiano Aguiar é mãe de Maria, de 7 anos, diagnosticada com autismo aos 3 anos, e casada com Rodrigo Martins, que também é autista. Para ela, a jornada começou com incertezas, passando por diversas consultas até que finalmente obtiveram uma resposta definitiva no diagnóstico da filha.
“O diagnóstico foi um processo desafiador. Como minha filha é menina, os sinais do autismo eram mais sutis e demoraram a ser reconhecidos. Precisamos de várias avaliações até termos certeza. Já o meu marido, Rodrigo, só foi diagnosticado na vida adulta, o que trouxe uma sensação de alívio, pois passou a entender melhor sua própria história.”
Na casa de Suelen, a rotina precisa ser cuidadosamente planejada. “A previsibilidade ajuda a evitar crises e deixa a Maria mais segura. Aprendemos a respeitar suas necessidades sensoriais e emocionais. Como o Rodrigo também é autista, ele me ajuda muito a entender o que funciona melhor para ela. Mas até chegarmos nesse equilíbrio, passamos por muitos momentos difíceis.”
O maior desafio, no entanto, está na busca por apoio adequado. “Tivemos sorte de conseguir terapias pelo plano de saúde, mas a burocracia é cansativa. Muitas famílias enfrentam negativas de cobertura, limitações de sessões, e isso atrasa o desenvolvimento das crianças. Já na escola, fomos surpreendidos positivamente: a rede municipal de Marataízes acolheu nossa filha de forma incrível. Mas essa não é a realidade de todos. Muitas famílias vivem verdadeiros dramas tentando garantir que seus filhos sejam respeitados e incluídos.”
Suelen tem um pedido especial à sociedade: “O autismo não tem um padrão único. Cada criança autista é diferente. Precisamos de mais empatia e menos julgamento. A inclusão não é um privilégio, é um direito.”
Mônica Reis, mãe do Erick, de 7 anos, e do Henrique, de 4, descobriu o diagnóstico do primeiro filho quando ele tinha apenas um ano. “Desde muito pequeno, percebi que o desenvolvimento dele estava diferente. Ele tinha dificuldades para mamar, chorava muito, e a linguagem demorava a surgir. Foi um processo solitário no início, porque nem todos ao meu redor entendiam minhas preocupações.”
A busca pelo diagnóstico foi marcada por resistência. “No começo, até meu marido não aceitava. Tive que buscar ajuda médica escondida, com o apoio do meu irmão e da minha cunhada. Quando finalmente confirmamos o autismo, já estava grávida do Henrique. Meu mundo virou de cabeça para baixo.”
Com o nascimento do segundo filho, que também foi diagnosticado com o TEA, a rotina ficou ainda mais desafiadora. “Começamos as terapias do Henrique quando ele tinha apenas 6 meses. Dediquei minha vida a eles, me especializei na área e, aos poucos, fui entendendo que precisava ser forte por eles.”
Apesar do amor incondicional, Mônica enfrenta dificuldades no acesso a terapias e na inclusão escolar. “Tive que entrar na Justiça para conseguir redução de carga horária no trabalho, pois o sistema não nos dá suporte. As escolas ainda estão muito despreparadas, e muitas vezes precisamos lutar para garantir o mínimo de respeito aos nossos filhos.”
Hoje, Mônica conta com o apoio incondicional do marido, que aceitou o diagnóstico dos filhos e auxilia nos cuidados e rotina das crianças. Quanto à sociedade, ela deseja que o autismo seja visto com mais humanidade. “Não podemos romantizar o autismo, mas também não podemos ignorá-lo. Essas crianças precisam ser vistas, acolhidas e respeitadas. A empatia pode transformar a vida de uma família atípica.”
Andréa de Araújo é mãe atípica e presidente da Associação de Pais e Amigos dos Autistas (Autita), que representa Itapemirim e Marataízes. Criada em 2022, a instituição nasceu da necessidade de acolher famílias que, como a dela, enfrentam dificuldades na busca por direitos e tratamento adequado para seus filhos.
“Na Autita, oferecemos suporte emocional, orientação sobre direitos e atendimentos com fonoaudiólogos, psicopedagogos, nutricionistas e clínicos gerais, dentro das nossas possibilidades. Também promovemos encontros educativos para pais e responsáveis, porque sabemos que o caminho é árduo e solitário se não tivermos apoio.”
Hoje, a associação atende mais de 50 famílias, mas Andréa sonha com um futuro onde esse suporte não precise depender apenas de iniciativas privadas. “O acesso a terapias não pode ser um privilégio. Queremos que o Estado assuma sua responsabilidade e garanta os direitos das pessoas autistas.”
Andrea explica que a sociedade pode apoiar Autita de diversas formas. “Participando das nossas campanhas, divulgando o nosso trabalho, contribuindo com doações ou voluntariado e cobrando das autoridades mais políticas públicas para pessoas autistas. Qualquer ajuda faz diferença!”.
Neste Dia Mundial da Conscientização do Autismo, Andréa deixa uma mensagem: “O autismo não é uma doença, é uma forma diferente de perceber o mundo. Mais do que inclusão, precisamos de pertencimento. Cada autista tem suas potencialidades e merece respeito. Vamos juntos construir uma sociedade mais empática e acessível.”
A neuropsicóloga Wanner Sobroza, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental entre outras formações na área, é diretora da Clínica Abraço Desenvolvimento Humano. A clinica é multidisciplinar com foco em diagnóstico e tratamento dos transtornos do neurodesenvolvimento (TEA, TDAH, DI, e Transtornos específicos de Aprendizagem e comorbidades) e Saúde mental e funciona em Marataízes.
A especialista reforça a importância do diagnóstico precoce e do envolvimento da família no tratamento. “A família é a parte mais importante no tratamento, pois quando a família está engajada, os resultados são bem mais satisfatórios. A família ajuda na organização da rotina, na continuidade do tratamento em casa e na promoção da regulação emocional da pessoa dentro do espectro”, diz.
De acordo com Wanner, o tratamento mais indicado recomendado pela Associação Brasileira de Ciências do Comportamento (ABPMC) é o com equipe multidisciplinar composta por psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo entre outros profissionais que agregam benefícios ao tratamento.
Para Wanner, a sociedade precisa se conscientizar sobre o papel fundamental que desempenha na inclusão. “O autismo ainda é cercado por estereótipos negativos. Precisamos acolher essas famílias e criar um ambiente onde as pessoas com TEA tenham oportunidades reais. Respeito e empatia fazem toda a diferença.”
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Que reportagem linda! Parabéns!!!!Como mãe atípica me vejo um pouco em casa depoimento.Precisamos entender que precisamos desse apoio de conscientização durante 12 meses