Feito exclusivamente para as mulheres, o Clube de Leitoras existe há quase dois anos organizando encontros para debater assuntos comuns a elas. O objetivo do clube é aumentar o número de autoras e promover amizade durante os seus encontros.
O mercado literário é um dos assuntos que predomina na conversa delas, assim como também a análise do hábito da leitura dos brasileiros de um modo geral.
Para saber mais sobre o Clube de Leitoras, o jornal Dia a Dia entrevistou a escritora, professora, articulista de literatura em nosso portal e a organizadora do clube, Olívia Batista de Avelar. Confira:
O que é o Clube de Leitoras?
O Clube de Leitoras surgiu de um convite que recebi de uma amiga – Roseane Tófano. Ela expressou a vontade de montar um grupo de leitura e me chamou para organizar os livros e os encontros. Nosso objetivo é o de aumentar o número de autoras além criar vínculos de amizade durante os encontros.
Em que consiste essa nova fase do Clube?
O Clube teve início em janeiro de 2022. Desde então, muitas mulheres participaram do grupo. Nessa nova fase, contamos com nossa primeira formação oficial: além da idealizadora e da minha organização, contamos com integrantes fixas que ocupam cadeiras numeradas e nomeadas em homenagem ao universo literário. Optamos por esse tipo de organização para, de uma forma simbólica, ressaltarmos que cada uma tem seu lugar e que suas opiniões, presenças e companhias durante os encontros são relevantes.
Por que é exclusivo para as mulheres?
Decidimos que um grupo formado só por mulheres definiria melhor os temas durante a discussão das obras, pois buscamos debater assuntos que nos são comuns. Um dos nossos objetivos é, através das trocas e discussões sobre os livros, também termos um espaço para debater o que consideramos relevante para as mulheres em geral.
Quais são as mudanças?
De agora em diante, vamos manter um registro das mulheres que participarem do clube. Com isso, queremos escrever a história do projeto, marcando o período de permanência de cada integrante. Essa é nossa primeira formação oficial, no mês que comemoramos um ano e meio de encontros mensais. No total, são 15 integrantes e mais duas organizadoras.
As mulheres costumam ter muito interesse em leitura?
As mulheres do clube relatam que são leitoras assíduas desde a infância, foi isso que as motivou a participar. Mesmo com as dificuldades da vida adulta, como falta de tempo, todas se empenham para incluir a leitura em suas rotinas.
Qual a sua visão sobre o hábito de leitura do capixaba ou do brasileiro de um modo geral?
Acredito que está longe de ser o ideal. Ainda somos um país que lê pouco e isso não se deve somente a escolhas pessoais. Muitos fatores contribuem para esse fato como, por exemplo, o preço dos livros e a pouca relevância dada às matérias humanísticas nas escolas. Somos um país que visa a formação técnica e profissional em detrimento da formação crítica e cidadã.
Deixe aqui algumas dicas de livros para as mulheres que estão iniciando essa caminhada de leitura.
Sempre sugiro fortemente que mulheres priorizem a leitura de autoras mulheres. Somos, ainda hoje, impedidas de aprender a ler e de frequentar escolas, em muitas culturas. Fomos proibidas de votar por tanto tempo e ainda estamos fora de muitos espaços de poder e de produção de conhecimento em nosso país, por isso exercer nosso direto de acesso à literatura é um ato transformador e revolucionário. Sugiro os livros “Anarquistas, Graças a Deus” de Zélia Gattai, “A Bolsa Amarela” de Lygia Bojunga” e “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus. São livros de autoras brasileiras renomadas e que podem ser encontrados em bibliotecas públicas, em formato digital e por preços acessíveis. Ideais para quem deseja começar a ler.
Com o crescimento do mercado de livros digitais, muitas livrarias estão fechando as portas. Vc acredita que será um xeque mate para as lojas físicas de literatura?
Acredito que está acontecendo uma mudança no mercado editorial. Muitas livrarias grandes têm fechado, porém, há um crescimento de editoras pequenas e independentes, voltadas a publicar livros de autores estreantes e com nichos específicos, como livros de poesia, contos e publicações coletivas. Em sua maioria, são lojas virtuais, mas há pequenas livrarias investindo em espaços diversificados, agregando serviços como cafés e áreas para eventos culturais e oficinas artísticas. Penso que podemos esperar, a partir disso, um mercado literário mais diversificado e genuinamente brasileiro, com mais espaço para autores e autoras independentes. Sendo o Brasil um país onde o mercado livreiro é dominado por traduções de autores norte americanos e europeus, acredito que essas mudanças serão muito bem-vindas.
O que fazer para participar do Clube de Leitoras?
Nosso grupo tem o limite máximo de 15 mulheres, para que todas tenham espaço para falar durante o tempo estipulado do encontro. É possível solicitar uma entrevista para se tornar integrante, mas somente quando alguma das 15 cadeiras estiver disponível, ou seja, quando alguma participante atual sair do grupo.