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Estrada de Sonhos

OLIVIA BATISTA DE AVELAR. Quase todo final de semana, vejo, postados em redes sociais, fotos e vídeos curtos de pessoas que vão se aventurar nos trilhos de Soturno.

Quase todo final de semana, vejo, postados em redes sociais, fotos e vídeos curtos de pessoas que vão se aventurar nos trilhos de Soturno. Saindo de Cachoeiro são poucos minutos de carro e o acesso, fácil e descomplicado, mas também acrescido de um trecho de estrada de chão – afinal, é preciso que não seja tão simples assim chegar lá e um pouco de natureza aumenta a dose de ousadia à imagem de si mesmos que é desejada pelos visitantes – um trecho de malha ferroviária, como tantos outros espalhados pelo Brasil, esquecidos do seu real propósito e utilidade.

A estrada de ferro que já foi a promessa de avanço, crescimento e expansão, uma estrada de suor e sonhos de um país grande, agora, serve de cenário e pano de fundo decrépito para as fotos montadas e esvaziadas, para as aventuras enlatadas que terminam em um fast food, para os rostos que sorriem nas fotos enquanto tudo ao nosso redor desmorona e apodrece:

as fotos com os trilhos de Soturno ao fundo são a analogia perfeita e triste de um país que só teve futuro no passado e de seu povo desorientado.


Estrada de Sonhos, documentário nacional de 2015 disponível no Amazon Prime, conta a história da ferrovia brasileira através das histórias das pessoas. São as palavras e a carga de vida que foi construída durante muitos e muitos anos que vemos passar na tela, durante os 91 minutos de filme. Na minha experiência, nenhum outro meio de transporte carrega uma força dramática e uma atmosfera antagônica de progresso e estabilidade, de avanço e tradição como o trem. A imponência de uma locomotiva fumegante faz parte do imaginário de muitas gerações – as chegadas e as partidas, as estações e paradas, o apito, a cadência do som dos trilhos, nostálgica ou assustadora: quantos símbolos cabem em cada vagão de história, trabalho e gente? Quanto significado as ferrovias deixaram pregados na nossa linguagem?

“Pega esse trem aí pra mim!”, “ele é muito correto, só anda nos trilhos!”, “vê se não perde a linha, heim?!”.

Quanta poesia desceu dos vagões e ganhou vida depois da paisagem e da atmosfera férrea terem soprado vento quente, palavras e melodias aos ouvidos de homens e mulheres talentosos e sensíveis? “Se eu perder esse trem, que sai agora às onze horas, só amanhã de manhã”, “E aqui, trem das cores, sábios projetos: tocar na central, o céu de um azul celeste celestial!”, “Pois o trem está chegando, ‘tá chegando na estação, é o trem das sete horas, é o último do sertão”.

Assistindo ao filme, lembrei de como me senti quando andei de trem pela primeira vez: eu não queria chegar à estação, queria que o trem continuasse seguindo pelos trilhos, pela vida – uma mistura entre a vontade de desbravar e a segurança terna de que alguém já tinha percorrido e preparado aquele caminho, fincado a madeira e corrido o ferro, a segurança de que muitos antes de mim já tinham trabalhado para que eu me lançasse em minha aventura pessoal.

A ferrovia brasileira foi mais um projeto de país que descarrilhou. Por incompetência, por incapacidade do governo de controla-la, por interesses escusos de diretores que visavam ao lucro pessoal e não ao interesse de estado.

Depois de terminada a minha primeira viagem pela ferrovia brasileira, cheguei à estação da cidade de Tiradentes, desci do vagão e, quando me lembrei de olhar para traz, o trem já havia partido. Era esse o lugar que eu queria estar, agora: segura em uma estação, sentada sob o telhado vermelho e observando os trilhos que somem, Brasil a dentro, depois da primeira curva. Mas, pelo contrário, eu, você e todos nós estamos no trem de um país sem sonhos de futuro e sem memória do passado.

O contrário absoluto da minha primeira viagem pela via férrea: hoje, olho pela janela e queria chegar logo ao final dessa viagem insana. Sei que os trilhos à nossa frente estão em péssimo estado e que ninguém fez seu trabalho para garantir a segurança das pessoas nos vagões. O Brasil é um projeto de nação que descarrilhou – e as selfies de sorrisos esgarçados sobre os trilhos abandonados, deixados à própria sorte e à mercê do tempo são, realmente, a cara desse país.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de Inglês, pós graduada em Filosofia, apaixonada por Tarot e Astrologia e Escritora

 

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