POEMA
Eu vim de lá!
Me chamo Dandara. Dandara? Sim, Dandara! Nome inspirado em uma grande mulher que, em seu tempo, lutou pela liberdade. Liberdade? Sim, liberdade! Mas não pense que lutou só pela sua própria, mas sim pela liberdade de muitos que, acorrentados, foram tirados de sua terra, separados de suas famílias, lançados à sorte para uma terra desconhecida. Lançados à sorte? Sim. Sortudos, se aqui chegassem vivos.
Sim, eu vim de lá!
Vim para uma terra para ser escravizada. Não por dias, meses ou anos, mas por séculos, nus, acorrentados, violentados. Apenas por ser negro! Mas, enfim, a liberdade chegou, no dia 13 de maio de 1888, Lei Áurea. Sim. A lei que declarou todos os negros como pessoas livres! Livres? Será? Vejamos! “É declarada extinta a escravidão no Brasil.” Pera aí! Só isso? E agora? Nos deram a liberdade! Mas o que é liberdade? Ah, é a condição daquele que é livre! Livre… será? Veremos.
De fato, eu vim de lá!
Cá estou, vivendo até os dias atuais, o 14 de maio. Novamente foram, ou fomos, jogados à sorte. Sem trabalho, sem casa, sem comida, condenados por vadiagem. Ok! Fazer o que, né? E assim subiram o morro das favelas pensando em um dia retornar, mas lá estão e cá estamos, até os dias atuais.
É, eu vim de lá!
Se você está na classe dos privilegiados, reclamar gera piedade. Agora se é da classe do oprimido, você é acusado de vitimismo? Te digo uma coisa, ou você é antirracista ou chama negro de vitimista. As duas não dá, né? Silenciar é oprimir. E chamar um negro de vitimista e o mesmo que mandar calar a boca. E eu te digo, não me calo!
Pensando bem, eu vim de lá!
Por que, em qualquer estatística socioeconômica, pessoas pretas aparecem na base, com menos acesso aos direitos básicos? Só em falar disso gera-se desconforto. Não? O branco se remexe.
Realmente, eu vim de lá!
E aqui estou, não como descendente de escravos, mas descendente de reis e rainhas que foram escravizados.