Uma mulher do Rio de Janeiro que ganhou uma ação trabalhista na justiça por danos morais pela omissão do registro do vínculo trabalhista em carteira, e também por tratamento humilhante em ambiente de trabalho, teve a sentença revertida após publicar um vídeo considerado ofensivo no Tik Tok.
A notícia foi divulgada nesta sexta-feira (15) pelo G1. No vídeo ela está com duas amigas e colocou a legenda “eu e minhas amigas indo processar uma empresa tóxica”.
O juiz reverteu a sentença porque entendeu que ela foi desrespeitosa, e também porque omitiu o fato das testemunhas serem suas amigas íntimas.
Não é a primeira vez que um trabalhador tem problemas após postagens nas redes sociais, em que a empresa que trabalha, ou trabalhou, é exposta.
Segundo especialistas da área de recursos humanos, as demissões por justa causa aumentaram nos últimos anos, e 1,5% são causadas por mau comportamento on-line.
Esses assessores dizem que mais do que nunca as as empresas estão atentas para não terem a imagem e a reputação manchadas por comentários nas redes sociais.
A possibilidade de demissão por justa causa por falar mal da empresa já está prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Mas em tempos de comunicação digital, já estão em andamento mudanças na legislação para atender aos novos tempos de relacionamento virtual, destaca o juiz João de Oliveira Batista, titular da 1ª Vara do Trabalho de Cachoeiro, diretor-geral do Fórum Trabalhista.
Ele enfatiza que as demissões por esse motivo no município são raras. ” Entre 100 ações, apenas uma é por falar mal da empresa”, destaca.
Segundo João de Oliveira, antigamente era ainda mais raro. “Hoje com a explosão das redes sociais falar mal das empresas se tornou comum”, frisa.
Mas o juiz ressalta que é preciso ver que tipo de comentário pode provocar a demissão por justa causa, já que coisas banais e simples não serão suficientes para motivar a perda do emprego.
“Os comentários que ensejam a demissão por justa causa são aquelas que prejudicam a imagem da empresa. Das que desmoralizam perante o consumidor ou cliente, que beiram a acusação criminal, como acusações de desvio, sonegação de impostos, de uso de produtos vencidos sem que a afirmação se sustente”, esclareceu.
O juiz diz que é preciso muita cautela porque acabar com a reputação com comentários maldosos é fácil. Difícil é provar depois.
Isaela Sabadini, especialista em Gestão de Pessoas , Mentora Organizacional e de Carreira, diz que a orientação aos trabalhadores é que as insatisfações sejam levadas aos órgãos competentes, caso haja alguma falha na empresa, e não às redes sociais.
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A especialista enfatiza que a empresa tem previsão legal para demitir por justa causa o trabalhador que seja autor de ofensas físicas / verbais ou lesão à sua honra.
Ela diz que a demissão por justa causa é o extremo no que se refere a disciplina dentro das organizações. Para evitar tais comportamentos inadequados, as empresas adotam Manuais de Conduta ou Código de Ética Organizacional.
“São documentos que formalizam os direitos e deveres dos colaboradores e condutas que são apropriadas e as que não são toleradas dentro da empresa”, destaca.
Segundo Isaela, este documento é transformado em material de conscientização e treinamentos internos, principalmente o de Integração, que é o treinamento inicial para os colaboradores novatos. “Assim todos ingressam na empresa já sabendo suas normas internas”, frisa.
A mentora de carreiras diz que felizmente ainda não passou por esta experiência, mas acredita que seja por se documentar e conscientizar sempre os colaboradores. “Além de priorizar estar sempre por perto e acessível para administrar conflitos e sanar dúvidas de todos”, enfatiza.
Se se tem uma orientação que deixaria aos trabalhadores é de que fazer as redes sociais de divã ou lugar para se fazer justiça só vai atrair problemas maiores, como uma demissão ou ficar “queimado” no mercado de trabalho.
“Sim, outras empresas também leem o que vocês postam. Isso pode fechar portas. Comportamento também é avaliado em um processo seletivo, sabiam?”, acrescenta.
A profissional diz que se não estiver legal e os valores organizacionais da empresa não fizerem mais sentido e o colaborador não se sentir valorizado e nem estiver feliz, é melhor atualizar o currículo antes de pedir demissão.
“Cada um deve focar em si. Antes de pedir demissão sem de ter outra coisa em vista ou se queimarem nas redes sociais, que tal atualizarem seus currículos, fazerem cursos de atualização profissional e aumentar o network para futuras vagas?”, aconselha.
Isaela Sabadini lembra que o Linkedin está repleto de comentários que podem afetar a imagem e a reputação das empresas em que trabalham.
“Os candidatos mal sabem que nós profissionais de RH de outras empresas também lemos o que eles postam. E mesmo que seja verdadeiro tudo que eles falam das empresas, isso é mais prejudicial para a imagem deles do que para a própria empresa”, adverte.