No dia 30 de abril de 1854 era inaugurada a primeira ferrovia no Brasil, de apenas 14,5 km, ligando as atuais localidades de Guia de PacobaĆba Ć Raiz da Serra.
A iniciativa da obra foi de Irineu Evangelista de Souza, agraciado com o tĆtulo de BarĆ£o de MauĆ” por conta do feito. Era um sistema multi-modal que usava navegaĆ§Ć£o Ć vapor desde o centro do Rio atĆ© o fundo da Baia da Guanabara, onde comeƧava a ferrovia, terminando no pĆ© da serra para PetrĆ³polis, onde chegou bem mais tarde, com o sistema de cremalheira para vencer a enorme diferenƧa de nĆvel.
Por conta disso, a data passou a ser usada para homenagear os ferroviƔrios.
A partir desta iniciativa pioneira, outras ferrovias foram criadas, chegando ao mĆ”ximo de pouco mais de 37 mil km nos anos 30. Ao contrĆ”rio de paĆses desenvolvidos, que impulsionaram o modal ferroviĆ”rio, como EUA (293 mil km), China (124 mil), o Brasil mal chegou Ć metade da extensĆ£o das ferrovias indianas (68,5 mil km) e logo comeƧou a erradicar as suas, visando atender a indĆŗstria automobilĆstica, atravĆ©s de decisƵes claramente criminosas, principalmente apĆ³s o inĆcio do governo militar.
Vem do perĆodo da ditadura uma das razƵes para a destruiĆ§Ć£o de nossa malha ferroviĆ”ria: Os ferroviĆ”rios eram uma classe enorme e muito influente. A constante erradicaĆ§Ć£o de ramais, sob a desculpa de serem “anti-econĆ“micos”, visava tambĆ©m minar o poder da classe. Muitos foram seguidos e perseguidos, inclusive em nossa cidade, durante esta Ć©poca.
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Em Cachoeiro, o trĆ”fego de trens para VitĆ³ria parou hĆ” 4 anos (o transporte de calcĆ”rio, rochas e eucalipto voltou para as rodovias). AtĆ© as locomotivas e vagƵes foram levados embora. Sobre carretas. Ficaram uns poucos aposentados como Ćŗnica lembranƧa de um perĆodo de pujanƧa de nossa regiĆ£o. Sobraram no paĆs apenas as linhas destinadas ao transporte de produtos inviĆ”veis para a rodovia, como minĆ©rio e grĆ£os.
Temos, hoje, pouco mais de 10 mil km em trĆ”fego. Enquanto isso, foi recentemente aberta uma rota ferroviĆ”ria de 13,261 km, entre a cidade chinesa de Yiwu e Madri, na Espanha, cobertos em 18 dias (hĆ” transbordos por conta das diferenƧa de bitolas pelo caminho), comprovando a altĆssima viabilidade do modal. Em toda a UniĆ£o EuropĆ©ia hĆ” 250 mil km de ferrovias.
Dentre os milhares de quilĆ“metros de ferrovias abandonadas encontra-se a nossa, que liga o Rio de Janeiro Ć VitĆ³ria, com 610 km. Para Cachoeiro, a nova ferrovia, via litoral, em nada ajudarĆ”. Ao contrĆ”rio: SerĆ” a pĆ” de cal na economia de todos os municĆpios Ć oeste da BR 101. Todos os investimentos serĆ£o canalizados para a regiĆ£o litorĆ¢nea, sobrando para nossa cidade ser rebaixada Ć cidade dormitĆ³rio.
Contando com filhos de ferroviĆ”rios e simpatizantes da ferrovia, a ONG Amigos do Trem luta desesperadamente para chamar a atenĆ§Ć£o para a iminente tragĆ©dia econĆ“mica que se abaterĆ” sobre nĆ³s, reverberando a voz jĆ” cansada dos outroraĀ herĆ³is e incansĆ”veis batalhadores pelo progresso de nossa regiĆ£o e paĆs.Ā