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Filme: Meu pé de Laranja Lima – a literatura brasileira no cinema

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

“O pensamento cresce, cresce e toma conta de toda a nossa cabeça e nosso coração. Vive em nossos olhos e em tudo que é pedaço da vida da gente.” José Mauro Vasconcelos

Lançado em 1968, o livro Meu pé de laranja lima, escrito por José Mauro Vasconcelos, já vendeu mais de dois milhões de exemplares só no Brasil, onde teve 150 edições nos mais variados formatos. Fora do país, a obra já foi traduzida para 15 idiomas (entre eles turco, coreano, catalão e mandarim) e publicada em 23 países. No Japão e na Coréia ganhou uma versão em forma de mangá (história em quadrinhos). Adaptado para o cinema duas vezes, a primeira versão cinematográfica foi lançada em 1970 e o segundo filme inspirado nesse livro de tanto sucesso está disponível na Netflix e foi lançado em 2012.

Meu pé da laranja lima conta a história do menino Zezé e se passa no interior do estado de Minas Gerais – no livro, a história se passa no Rio de Janeiro – na primeira metade do século 20. Nascido em uma família pobre, Zezé tem uma vida de dificuldades e violência. O pai desempregado frequentemente bate no menino de apenas seis anos. A mãe, sobrecarregada pelo trabalho que sustenta a família com cinco filhos, nunca está em casa e deixa as tarefas domésticas sob a responsabilidade das duas filhas, as irmãs mais velhas de Zezé. É na imaginação e nas aventuras que o protagonista dessa história encontra alegria e alguma ternura em seus dias: criativo e inquieto, Zezé inventa histórias sobre lugares que nunca visitou e animais que nunca viu e conforta seu irmão menor com brincadeiras e invenções que amenizam a dureza da realidade que encaram juntos, todos os dias. A árvore que dá título ao livro e aos filmes – o franzino pé de laranja lima que cresceu no quintal da casa onde vive a família de Zezé – se torna uma grande amiga e confidente do menino. É sentado em seus galhos que, brincando de cavalgar pelo mundo, ele passa as horas esticadas da infância. Deitado sob a sombra dos galhos, Zezé também conta para sua amiga árvore todos os seus segredos e sonhos, encontrando em suas folhas a companhia e o acolhimento que não consegue receber das pessoas ao seu redor. “Você tem um diabo no corpo” é a fala que Zezé mais escuta. Menino arteiro e que atormenta os moradores da região com pedras e brigas, é em seu mundo interior que Zezé constrói seu refúgio contra tudo o que ele não entende. É à sua forte imaginação que recorre para se proteger de tudo aquilo que o machuca e o entristece.

“Fale de sua aldeia e estará falando do mundo” é uma frase do escritor russo Leon Tolstoi que gosto muitíssimo e que já citei por aqui.

Ao escrever sobre seus relatos de infância em uma pequena cidade do interior do Brasil, o escritor José Mauro Vasconcelos estava falando de sua aldeia – ou seja, daquilo que viveu e que sentiu sendo uma criança pobre de uma cidade interiorana no Brasil da década de 20 – porém, a sinceridade de seu relato que explora sua própria condição humana ao encarar as agruras do mundo e da vida faz com que a história ganhe contornos universais e é assim que a pequena árvore de galhos finos e o menino solitário e desejoso de atenção e amigos se transformam em um relato capaz de encantar e comover o mundo. Mudam as paisagens. As décadas passam. As cidades crescem e até as espécies de árvores não são as mesmas em países diferentes ou mesmo nos quintais ao redor do nosso gigantesco Brasil.

No entanto, a solidão e a violência, a imaginação e a amizade, os sonhos da infância e as tristezas da velhice são contornos humanos que nos acompanham e que nos constroem desde sempre e para sempre.

No decorrer da história, Zezé encontra um grande amigo: o velho Portuga, um morador rico e solitário da região, dono do carro mais bacana da cidade e que vê no menino todo o potencial e carisma que são invisíveis aos seus familiares e também para boa parte das pessoas com quem o menino convive. Entre os muitos presentes – tangíveis e intangíveis – que o garoto recebe de seu novo amigo, estão uma caneta requintada e um pedido: use-a para escrever suas histórias. E assim foi feito: na dedicatória do livro, encontramos a homenagem e a lembrança do autor ao seu amigo e incentivador dos tempos de infância.

Desde o lançamento do livro, há 54 anos, essa história honesta e simples sobre a busca da amizade e de como tentamos, com todas as forças, encontrar nosso lugar no mundo, já foi lida e assistida por milhares de pessoas ao redor do mundo e, antes de finalizar a coluna dessa semana, vou me permitir mais uma citação, dessa vez retirada de uma canção popular que também gosto muito: “Sentida por nós, desatando os nós, sabemos agora, nem tudo que é bom vem de fora” – esse é um trecho da música Coisa de Pele, escrita por Jorge Aragão.

Escritores e escritoras, cineastas, cantores e todos os artistas brasileiros são grandes produtores de obras maravilhosas e que, muitas vezes, são reconhecidas e admiradas pelo mundo.

Porém, tanto o cinema quanto a literatura nacionais sempre encontram grandes barreiras para chegarem ao grande público do nosso país: livros e filmes estrangeiros – principalmente norte americanos – munidos de grande investimento financeiro em divulgação acabam por dominar a preferência dos leitores e a audiência dos cinemas. As palavras de Aragão, exímio compositor e representante da nossa riquíssima música popular, muitas vezes me soam mais otimistas do que realistas, pois acredito que ainda existem muitas pessoas que não sabem, mas que devem e precisam saber: nem tudo que é bom vem de fora. Ler autores brasileiros e assistir filmes nacionais é imprescindível para nossa plena formação como indivíduos, como cidadãos. É através do olhar sincero, interessado e generoso lançado para nossa própria aldeia que poderemos entender e experimentar o mundo sem nos perdermos ou esquecermos quem verdadeiramente somos e de onde viemos.

A beleza da história contada em Meu pé de laranja lima é que ela pertence ao mundo, mas suas raízes nunca deixarão de estar bem plantadas e assentadas, para sempre, em solo brasileiro.

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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