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Homem observa as garrafas de vinho

Garrafas: Histórias que contam o vinho

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Raquel Poleto Fonseca

Imagine-se em uma mesa com uma garrafa de vinho pronta para ser degustada. Você já parou para pensar que aquela garrafa, aparentemente simples, carrega séculos de história, arte e ciência? Pois é, as garrafas de vinho são muito mais do que meros recipientes.

Elas são testemunhas silenciosas da nossa relação com o vinho – uma relação que começou há milênios e que, até hoje, continua a evoluir.

Do couro ao vidro

Nos primórdios, nossos ancestrais utilizavam odres feitos de couro de animais desidratados para armazenar líquidos. Com o tempo, os egípcios introduziram as ânforas de argila, fechadas com barro. Os gregos e romanos aperfeiçoaram essa técnica, adicionando alças e, mais tarde, cortiça, para vedar os recipientes.

A importância desses antigos vasilhames é tanta que até mesmo na Bíblia encontramos referências a eles, como na passagem: “Tampouco se deita vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho e os odres se perdem. Mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam” (Mt 9,14-17).

Com a evolução do comercio mundial e as grandes navegações, descobriram-se os benefícios do uso de barricas de carvalho para armazenar e transportar vinho. A madeira, além de conferir aromas e sabores à bebida, era mais leve e maleável do que a argila. No entanto, seu transporte continuava a ser um desafio logístico. Foi então que surgiu uma solução revolucionária: o vidro.

O vidro

Os primeiros recipientes de vidro eram opacos e frágeis, utilizados mais para decoração do que para armazenamento. No século XV, os artesãos de Murano, em Veneza, descobriram uma técnica para produzir vidro transparente, um segredo guardado a sete chaves — tanto que quem trabalhava na ilha não podia sair.

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Mas foi na Inglaterra, no século XVII, que Robert Mansell fortaleceu o vidro ao adicionar ferro e manganês. Mais tarde, George Ravenscroft incorporou óxido de chumbo, tornando o material ainda mais resistente e translúcido.

A padronização das garrafas de vidro veio logo depois, com a definição do formato cilíndrico e da capacidade de 750 ml – reza a lenda que a medida foi possivelmente derivada da quantidade de ar que um soprador de vidro conseguia produzir de uma só vez na produção da garrafa.

No século XVIII, a introdução da rolha de cortiça consolidou a garrafa de vidro como o melhor recipiente para armazenamento prolongado, permitindo que o vinho envelhecesse de maneira controlada.

garrafas de vinho antigas

Hoje, as garrafas de vinho são muito mais do que simples recipientes. Elas expressam identidade e tradição, com formatos distintos para diferentes tipos de vinho. A garrafa bordalesa, por exemplo, é utilizada para vinhos de Bordeaux, enquanto a borgonhesa é característica dos vinhos da Borgonha.

Os rótulos também desempenham um papel importante, muitas vezes trazendo ilustrações artísticas que reforçam a história da vinícola.

No entanto, a sustentabilidade tem se tornado um desafio. Apesar de reciclável, o vidro exige alto consumo de energia em sua produção e transporte. Como alternativa, formatos como latas, bag-in-box e garrafas PET estão ganhando espaço, principalmente em mercados que valorizam a praticidade. Mas será que um vinho enlatado oferece a mesma experiência sensorial que um vinho em garrafa de vidro?

Ao final, as garrafas de vinho são muito mais do que invólucros. Elas carregam histórias, memórias e emoções. Seja aquela taça especial que você guarda para momentos únicos ou uma garrafa aberta em uma noite inesquecível, o vinho continua a unir pessoas e contar histórias.

Saúde!

Raquel Poleto Fonseca, natural de Cachoeiro de Itapemirim, é escritora, contadora e sommelière de vinhos pelo Instituto Federal de São Paulo, com certificações especializadas pela Embrapa Uva e Vinho, Instituto Federal do Rio Grande do Sul e Enagro. É curadora de confrarias e do projeto Livros e Vinhos, unindo sua paixão por palavras e vinhos para criar experiências que conectam pessoas

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