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Hair

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Não me lembro de quando assisti Hair pela primeira vez. Quase sempre, conto por aqui como foi a experiência de assistir ao filme que escolhi para escrever para essa coluna: se foi no cinema, em casa, sozinha ou com amigos. Porém, não me recordo nada sobre porque decidi comprar esse filme, em DVD, há mais de 15 anos.

Entre 2005 e 2010, eu me dedicava quase que religiosamente a montar a minha pequena cinemateca pessoal. Comprava, de um vendedor do Rio de Janeiro, filmes difíceis de serem encontrados nas lojas aqui de Cachoeiro.

Todos gravados e, alguns deles, em uma qualidade não muito boa. Felizmente, consegui comprar o DVD original de Hair, em uma loja de artigos para casa e eletrônicos, que ficava na rua Capitão Deslandes, mas que já fechou, há muitos anos. Mais uma rua, entre as inúmeras pelo Brasil, batizada em homenagem a um militar.

Como eu disse, me escapa a motivação ao comprar esse filme. Talvez, por ser um musical muito famoso e, por algum tempo, fui completamente aficcionada por musicais. O que tenho guardado na memória sobre esse filme é o mesmo comentário que ouvi, repetidas vezes, vindos de pessoas diferentes, sempre que eu mencionava o quanto eu gosto desse musical: “aquele filme sobre drogas?”. Sendo bastante sincera, naquela época, eu nunca sabia o que responder. Mas, agora, eu sei. Hair não é um filme sobre drogas. Hair é um filme sobre o exército norte americano enviar milhares de jovens para morrer na guerra do Vietnã. É um filme sobre a banalidade da morte.

Mas, só muitos anos, depois eu pude entender porque eu ficava tão incomodada com aquelas falas: no início dos anos 2000, nós ainda não estávamos tão habituados a explicar o óbvio, todos os dias, como estamos agora, em 2021.

O Filme Hair – 1979, dirigido por Milos Forman – conta a história de um rapaz do interior recrutado para o exército e que chega a Nova York para se alistar e, em seguida, ser enviado para o Vietnam. Chegando ao Central Park, ele conhece um grupo de jovens hippies e, à partir desse encontro, sua forma de encarar o mundo e de entender seu papel e sua contribuição para essa imensa engrenagem em que somos, todos nós, pequenas peças e pinos, começa a se expandir e a trazer muitas perguntas. Eis o momento crucial quando o quase combatente do exército americano Claude Bukowski começa a se descolar de sua pretendida missão patriótica e heróica: “onde está aquilo ou aquele que pode me dizer porque eu vivo e porque eu morro?” é o refrão de uma das músicas do filme.

Esse era um dos motivos para eu gostar tanto de musicais: tantas vezes, é mais fácil cantar do que apenas dizer uma frase difícil de ser encarada e digerida.

Cantando, esse personagem quer saber porque cabe ao exército decidir sobre sua vida e sua morte, cena que considero duplamente bela, visto que todos os períodos históricos dominados por militares no poder que instauram ditaduras abertas ou veladas são períodos de repressão artística, de censura jornalística e de exaltação da boçalidade e da truculência como modus operandi.

Cantar para enfiar na cara dos militares um grande dedo em riste é arte subversiva – o que considero um pleonasmo, já que toda arte que não subverte não é arte, mas sim propaganda.

Nesses nossos tempos, é preciso dizer o óbvio e, já que me falta, aqui, o recurso musical, direi escrevendo: Hair é um filme sobre os horrores da guerra – mas existem aqueles que se escandalizarão com as cenas de sexo e consumo de drogas – ignorando, completamente, os milhares de jovens norte americanos enviados para morrer nas mãos dos Viatcongs. Estes já embruteceram, um caminho tantas vezes sem volta. O musical Hair é uma crítica aberta e direta contra o exército norte americano e, por isso, decidi trazer para o final do texto o meu motivo para escolher escrever, nessa semana, sobre esse filme: referências evasivas sobre combate às drogas, notícias fabricadas que acusam esse ou aquele de pedofilia, exaltação da família e frases de efeito sobre ataques à “moral e aos bons costumes” são pura fabricação de cortina de fumaça. Elas ambicionam chocar os mais desavisados e desviar o foco da realidade brasileira, de 2021 e há muitas décadas: nosso filme não é sobre nada disso, nosso filme é claro e óbvio, é sobre militares corruptos enviando as pessoas para morte.

O óbvio: aqueles que tem as armas devem trabalhar para nos defender e nunca, nem nos filmes nem na vida real, para nos ameaçar.

Quando isso se dá, sempre existirá um processo perigoso em curso. E quando não há espaço para questionar as más condutas militares, a última e aterradora cena de Hair responde, em música, citando Hamlet: o resto é silêncio – cantam os personagens em frente às incontáveis lápides dos milhares de mortos em batalha, aqueles obedientes à hierarquia do “um manda e o outro obedece”.

Não somos nós aqueles que mandam. Tampouco, os que devem obedecer. Invariavelmente, em todas essas histórias, nós somos o silêncio. Porque somos nós que morremos.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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