O historiador Luciano Retore Moreno, 58 anos, professor de História efetivo da Rede Estadual, pesquisador da história do Médio e Baixo Itapemirim, autor dos livros “História do Espírito Santo” e “Itapemirim, Como Tudo Começou”, fala das perdas irreparáveis provocadas pelo incêndio no cartório de Itapemirim.
Segundo Retore, é preciso lembrar que aquele era um cartório de registro civil com muitos documentos relacionados à sociedade local, especialmente a partir do início do Século XX, “Esses personagens tiveram muita importância e representatividade na construção de nossa história”, frisa.
O historiador diz que os documentos ali representavam o cotidiano de pessoas que viviam, nasciam, se casavam, tinham seus filhos e faleciam no município, tudo isso registrado nesse cartório. “Toda a sociedade de Itapemirim tem alguma ligação com aquele cartório”.
Ao contrário do que se supõe, o prédio onde funcionava o cartório não é centenário, mas está chegando lá. Luciano diz que o proprietário diz que ele foi construído em 1931.
Segundo Luciano, o cartório, que é antigo, funcionava no imóvel há relativamente pouco tempo, mas que do ponto de vista afetivo, as perdas são inenarráveis, especialmente para os pesquisadores.
“Talvez para a maioria da população tenha sido apenas a perda de um cartório. Para a gente que trabalha com a história, a perda desses documentos vai apagar da nossa memória fatos que serviriam muito bem para a gente entender como Itapemirim foi construída e como a sociedade evoluiu até chegar aqui”, lamenta.
Perda da memória
Luciano diz que toda a sociedade de Itapemirim teve perdas. Quanto a ele, o local tinha registros dos bisavós, dos avós, dos pais e dele.
“Meu bisavó teve proeminência aqui no início do Século XX. Foi prefeito, vereador, deputado, era coronel. A rua principal da Vila de Itapemirim tem o nome dele, Amphiloquio Alves Moreno. Então registros de casamento, nascimento, morte, estavam todos lá”.
O pesquisador lembra que Itapemirim é um dos municípios mais antigos do Espírito Santo e vem sendo ocupado desde 1700, o que dá a ele uma importância muito grande na construção do Estado capixaba.
Segundo ele, mesmo assim ainda há muito pouco conhecimento desta história, apesar do trabalho de pesquisa e de resgate feito pelos historiadores.
“Realmente precisamos dos documentos para ter informações mais exatas, mas precisas e mais fidedignas. Já somos poucos pesquisadores. E quando a gente vai perdendo esses acervos, são menos possibilidades de realmente entender de modo mais amplo como se deu a formação de nossa história”, lamenta.