Em silêncio e com seu jeito sereno, a Irmã Otília cumpre uma rotina diária de visita aos enfermos, levando oração e palavras de esperança. São cerca de quatro quilômetros de caminhada, todos os dias, incluindo finais de semana e feriados. Tarefa nada fácil, principalmente para uma senhora de 86 anos.
Pelas ruas, ela passaria sem chamar atenção, se não fosse seu hábito branco, de freira. Sempre carregando uma bolsa, a irmã reside no Colégio Cristo Rei e vai a pé, duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde, até a Santa Casa de Misericórdia. Cada uma das quatro caminhadas diárias tem um quilômetro.
“Vou todos os dias. O doente não tem dia para sofrer, então também não tem dia certo para visitar, dar conforto. É todo dia”, justificou a Irmã.
Pela manhã, antes de sair para o hospital, seu compromisso é com as crianças e adolescentes que estudam no colégio. A irmã beija e abraça a todos quanto consegue, inclusive aos pais que levam os filhos para estudar.
Na escola, explicou a irmã, o sentimento é de alegria. “Eu gosto muito e as crianças também”, disse.
Já no hospital, comenta a freira, o momento não é tão festivo. Ao contrário. “Muitos estão sofrendo. Meu lugar é na cabeceira do doente. Passo em todos os leitos, do pronto-socorro à UTI”, destacou.
Na bolsa, a irmã leva a Bíblia, alguns folhetos para leitura e ainda produtos para a sagrada comunhão ou para a unção dos enfermos, neste caso, sempre com a presença de um padre.
Os pacientes do hospital aprovam:
“É muito bom. Traz paz para a gente. Ela conversa, faz oração. Não nos deixa desanimar”, polidor de pedras Antônio Carlos da Silva Louçana, 53.
“Ela vem de vez em quando. Deixa uma palavra de conforto. Me sinto muito bem após a sua oração”, comentou outro paciente, o chefe de pista Fábio de Almeida Oliveira, 34.
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A enfermeira supervisora Luziane Marcelino disse que os funcionários já estão habituados com a presença da irmã. “Ela é calma, transmite paz. Tem um jeito meigo. Vai de quarto em quarto”, comentou.
Irmã Otília ressalta que vence a timidez por dedicação aos doentes: “Não faço distinção de ninguém. Pobre, rico, branco, preto, criança, adulto, não importa. Se é gente como a mim, é filho de Deus como eu sou, então o que quero para mim desejo para o outro”.
Sonho de ser freira desde criança
Natural de Oliveira, em Minas Gerais, Irmã Otília está em Cachoeiro há mais de 50 anos e desde que chegou faz as visitas à Santa Casa.
Ela lembra que desde criança seu sonho era ser religiosa. “Minha vocação era essa. Eu rezava muito. Mas não conhecia as irmãs. Custei a me decidir, pois não queria deixar minha família, meus pais e irmãos”, comentou.
Até que aos 17 anos, Otília tomou a decisão. Durante a missa, pediu ao bispo que a indicasse para uma congregação de irmãs, e assim foi.
“No evangelho de São Mateus, Jesus disse: quem quiser ser digno de mim que pegue a sua cruz e siga-me. Pensei, minhas irmãs pegaram a cruz delas, que é se casar. Esse não era o meu desejo. Quero ser de Deus e Nossa Senhora para toda vida”, comentou.
Há 60 anos, Irmã Otília vive em Cachoeiro. Mora em uma residência de irmãs dentro do colégio, sede da Congregação das Irmãs de Jesus na Eucaristia. “Sou muito feliz aqui”, afirmou.