Quais são seus autores favoritos e como eles influenciaram seu trabalho?
Augusto Cury, José Saramago, Aline Bei, Lygia Fagundes Telles e Fernando Sabino estão entre os que posso chamar de autores favoritos, pois algumas de suas obras me cativaram profundamente e fazem parte da construção da escritora que sou hoje.
Mas, para além deles, outros autores também despertam minha curiosidade em relação à escrita, como Rubem Braga, Clarice Lispector, Adriana Falcão, Graciliano Ramos e Jorge Amado. Quando, por vezes, me encontro estagnada, são esses nomes que me acendem uma luz — me lembram que tudo pode ser matéria de escrita, porque tudo é poesia.
Essa percepção aparece também nos meus próprios textos. Lembro de estar sentada numa praça, observando uma chuva fina caindo sobre a luz de um poste. Daquele instante simples, nasceu o texto As Luzes e as Gotas, onde escrevi:
“(…) Gotas singelas caem de um céu de verão e atingem a superfície da luz. A luz e a gota, um encontro quase casual e traidor ao sol. Sol, sua luz, só. Luz e gotas a sós. Escorrem gotas sobre a superfície da luz. Escorrem lágrimas sobre a superfície do só.”
São autores com perspectivas muito diferentes entre si, e é justamente isso que me inspira: perceber que não há um único jeito certo de escrever, mas sim o seu modo de expressar aquilo que te atravessa.

Como você se tornou escritora? Houve algum momento-chave em sua trajetória?
Comecei a escrever na adolescência, aos 15 anos, quando a escrita era, para mim, uma casa — o lugar onde eu repousava minhas palavras. Como um espelho, elas me eram refletidas de volta: um pedido de socorro que retornava como um eco de ajuda. Escrevia textos soltos, desses que não se prendem a gêneros — daqueles em que, no início, tudo o que importa é colocar para fora o turbilhão que acontece por dentro.
Sempre tive essa relação de refúgio com a escrita. Mas, apesar disso, por muito tempo eu não me sentia, nem me reconhecia, como escritora. Isso mudou recentemente, quando participei do meu primeiro concurso, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, e conquistei o segundo lugar com o texto A Semente da Paz. Esse foi o ponto de virada: percebi que, mais do que a mim, minhas palavras também podiam ecoar em outras pessoas.
“(…) A semente da paz vigora dentro de cada cachoeirense, e é preciso plantá-la não só no quintal de sua própria casa, mas nos quintais da cidade.”
O que a inspira a escrever? Quais são suas principais fontes de inspiração?
Eu olho ao meu redor, e tudo — seja animado ou inanimado — ganha vida por meio dos significados dados por mim e por outros, tornando-se fonte de inspiração. Observo atentamente o que passa despercebido diante dos olhos alheios, e então as palavras vêm, como transcrição do que ocorre diante dos meus olhos. Tento captar a essência do momento, por mais simples que ele possa ser, pois é justamente na simplicidade que a beleza também se manifesta.
Como escrevi meses atrás:
“Eu ando pelas ruas de uma cidade grande, olhando com sutileza para cada mundo individual: seja o do pássaro que voa no pôr do sol de volta ao seu ninho, onde repousará e se esconderá da noite que tudo engole; seja o do pescador remando sozinho no imenso rio de incertezas e mistérios; seja o das flores despedaçadas na calçada, onde todos as pisam, e eu me pergunto que história elas carregam; seja o do olhar que insistiu em cruzar o meu, ao passar pelo meu caminho — ou de tantas outras particularidades aparentemente insignificantes.”
“Quando as palavras gritarem dentro de você e sua boca se recusar a abrir, permita que suas mãos as transcrevam.”
Você tem um gênero ou tema preferido para escrever? Por quê?
Minha escrita passeia entre crônicas, poemas e contos. Não tenho um gênero favorito: sou apenas aquela que escreve o que me atravessa. No início, não sei em qual forma o texto se fixará; apenas ao final, quando silencio a transcrição das palavras que me chegam, leio e reconheço o que nasceu.
Você tem alguma dica para escritoras iniciantes?
Acredito que, de certa forma, todas somos iniciantes, apenas em fases diferentes do caminho. Minha dica é: quando as palavras gritarem dentro de você e sua boca se recusar a abrir, permita que suas mãos as transcrevam. Escrever é mapa para o fundo do eu, é dar forma ao que nos atravessa.
Quais são seus próximos projetos e o que podemos esperar deles?
Meus próximos projetos seguem a mesma essência: transformar silêncios em palavras. Quero dar forma ao que tantas vezes permanece guardado, criando espaços de sensibilidade e encontro, onde cada texto possa ecoar no outro. Neles, o leitor poderá esperar uma escrita que traduz o não-dito, oferecendo reflexões, acolhimento e a possibilidade de se reconhecer nas entrelinhas.
O projeto Vozes Literárias é uma realização do coletivo Escritoras Cachoeirenses com apoio do portal de notícias Dia a Dia e do HOSPITAL EVANGÉLICO.
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