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Pipoca pode ser consumida apenas quando a pessoa estiver na poltrona da sala de exibição. Foto ilustrativa: Pixabay

Ministério da Economia propõe extinguir a meia-entrada nos cinemas

Alissandra Mendes

Uma consulta pública realizada pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) tem gerado um debate em torno da meia-entrada nos cinemas do Brasil. O Ministério da Economia já se posicionou pela extinção da regra que garante o benefício e, com isso, divide a opinião da população.

De acordo com os dados da Ancine, que tiveram como base o Sistema de Controle de Bilheteria, em 2019, quase 80% dos ingressos comercializados tiveram algum tipo de meia-entrada. Em Cachoeiro de Itapemirim, os cinemas registraram uma média de 82% de meias-entradas, o que inclui ingressos promocionais, cortesias e os atingidos pelas Leis Federal, Estadual e Municipal.

O diretor do Cine Unimed e do Cine Ritz Perim Center, Sérgio Liberati, explica que esses números variam de acordo com os filmes em exibição. “Tem filmes em Cachoeiro que temos 90% de meia-entrada, outros 50%. Os números aqui estão mais ou menos dentro da média nacional”.

No Brasil, há três leis federais que garantem o benefício a estudantes, jovens de baixa renda, pessoas com deficiência e adultos com mais de 60 anos. No entanto, cada Estado e também em várias cidades, existem as leis que ampliam os beneficiários, como no Espírito Santo e em Cachoeiro de Itapemirim, onde professores e doadores de sangue também têm direito a meia-entrada.

“As pessoas acreditam que a meia-entrada é vantagem. Mas, não é bem assim que funciona. Temos uma linha de custos e de equilíbrio, e essa linha é baseada em cima da meia-entrada. Pela média nacional, não temos como fazer uma linha de custos baseado na inteira. Se fizemos isso, vamos fechar no vermelho todo mês. Quem paga inteira é que é lesado no valor”, continua Liberati.

Perda de público

A pandemia do novo coronavírus está trazendo um novo normal para os padrões brasileiros, principalmente, nessa área de cinema. Com o isolamento logo no início do surto da doença e o fechamento das salas de cinema por conta do distanciamento social, muitas pessoas optaram pelos streamings, as plataformas utilizadas para assistir novelas, séries e filmes.

Com o retorno gradual das atividades, os cinemas ainda não foram reabertos, mas não temem perder público, caso a nova regra seja adotada no país.

“A lei da meia-entrada não é muito justa. Ela acaba beneficiando as pessoas que não precisam tanto quanto outras de menor poder aquisitivo. Vemos claramente isso aqui em Cachoeiro, quando fazemos promoção nos cinemas. Não temos receio de perder público com essa nova regra. Por lei, não somos obrigados a vender meia-entrada para todos, e sim para 40% da lotação da sala. E vamos continuar com nossas promoções. Os preços se adequam ao mercado”, garante o diretor.

A lei da meia-entrada no Brasil abrange não só os cinemas, mas também teatro e shows.

Estudantes contra extinção

Assim que tomou conhecimento do assunto, a União Nacional dos Estudantes (UNE) se manifestou sobre o posicionamento do Ministério da Economia. “Nossa conquista não pode, de forma alguma, ser ameaçada. O governo precisa criar mecanismos que verifiquem a validade das carteiras para evitar possíveis fraudes. A proposta do Ministério da Economia é um retrocesso total. O assunto pede cautela e diálogo”, diz o comunicado.

A estudante de pós-graduação e fotógrafa, Clarice Monteiro, é contra a extinção da regra. “Acredito que a cultura no Brasil já é algo inacessível à população mais carente. O estudante precisa da cultura como instrumento somatório da sua formação. Então, sou extremamente contra a retirada do direito à meia-entrada”, frisa.

Para o advogado Enrique Fornazier, a extinção por completa prejudicaria quem realmente precisa. “Quando era mais jovem, era favorável à meia-entrada. Depois que me aprofundei no assunto, me deparei com a situação de que quem paga inteira, paga mais caro por conta da meia-entrada. Mas, não sou favorável à extinção por completo. Sou a favor de reduzir a quantidade de pessoas beneficiárias, pois isso já ajuda quem não tem o mesmo direito. Além de acabar com as fraudes e falsificações de carteiras de estudantes, o que prejudica muito a economia”, completa.

“Sou totalmente contra o fim da meia-entrada nos cinemas. Na minha opinião, a retirada da obrigatoriedade da meia entrada é mais uma forma de impedir que a parcela menos favorecida da população tenha acesso à arte. A arte não é supérflua. Ela não apenas nos dá prazer, mas também nos provoca, nos faz questionar tudo. A quem interessa que as pessoas mais pobres não tenham acesso?”, diz a professora Raysa Aride.

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