Cachoeiro perdeu nesta sexta-feira (13) um de seus maiores talentos. José Mendes, 28 anos, cujo nome artístico era JD Burton, morreu após complicações de uma doença que enfrentava há mais de 15 anos, a distrofia muscular.
Mesmo com suas limitações físicas, JD Burton conseguiu alcançar outros países por meio de seu talento. Seus desenhos realistas ilustraram o livro Monge Guerreiro, que foi distribuído em inglês nos Estados Unidos.
Suas ilustrações também eram compartilhadas em redes sociais de grupos do mundo inteiro formados por pessoas que gostam de filmes.
O autor do livro Monge Guerreiro, o cachoeirense Romulo Felippe, foi um dos incentivadores do talentoso JD Burton e fez uma homenagem especial em sua página no Facebook: “Vai em paz, bravo e talentoso amigo JD Burton. Que sua arte e coração imenso vislumbrem os Céus”.
Romulo disse que em dezembro pediu ao Josué para que fizesse um desenho de Jesus para ilustrar seu próximo livro: “Eu o desafiei a fazer o melhor desenho de sua vida. Ele fez. Ficou inacreditável”.
JD Burton parou de andar aos 12 anos e ultimamente encontrava dificuldade até para comer e tomar banho, precisando da ajuda da mãe.
Como a doença é progressiva, o problema se agravou ao longo do tempo. O desenhista mal conseguia apoiar os braços na mesa para pegar o lápis. No entanto, com os instrumentos de trabalho nas mãos, o
grafite e uma folha em branco, Josué se transformava em um gigante no desenho.
Os trabalhos do cachoeirense é todo feito no grafite e na maioria das vezes, apenas preto no branco.
Adorava desenhar personagens de cinema e séries e artistas, mas também retratava pessoas comuns, além de fazer suas próprias criações.
Josué era autodidata. Aprendeu sozinho, com a prática e pesquisando na internet. “Descobri o gosto pelo desenho aos 12 anos, quando parei de andar. Era uma forma de passar o tempo e descontrair”, disse durante entrevista, em abril do ano passado.
Fez mais de 1 mil desenhos de centenas de personagens, astros e pessoas comuns.
Sonho em conhecer o ídolo Johnny Depp
Josué morreu sem conseguir realizar seu maior sonho. Fã do ator americano Johnny Depp, o desenhista tinha o desejo de conhecer o artista e poder mostrar seus desenhos a ele. O cachoeirense fez dezenas de desenhos do astro do cinema e de seus personagens, e sempre procurava saber tudo sobre seu ídolo.
Até mesmo seu nome artístico é uma homenagem ao astro americano. JD faz referência tanto às palavras Josué e desenho quanto às iniciais de Johnny Depp. Já Burton é o sobrenome do cineasta Tim Burton, que dirigiu vários filmes com Depp, como Alice no País das Maravilhas, a Fantástica Fábrica de Chocolate, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça e Edward Mãos de Tesoura.
“Meu sonho é conhecer Johnny Depp, mostrar meus desenhos a ele. Eu gosto dele, é gente boa. Pinta bem, atua bem. É músico. Sou fã de seus filmes”, comentou o desenhista cachoeirense, em entrevista em abril do ano passado.
A mãe de Josué, a dona de casa Denise Mendes, 64 anos, confirmou na mesma ocasião: “a paixão de meu filho é o Johnny Depp. Nem quer cortar o cabelo para ficar parecido com ele”.
O que é distrofia muscular?
Distrofia muscular é uma doença de origem genética que causa o enfraquecimento progressivo do tecido muscular por afetar a musculatura esquelética.
A falta de substâncias essenciais para o crescimento e manutenção dos músculos faz com que os portadores desse distúrbio apresentem dificuldades locomotoras progressivas e, num estágio mais avançado, comprometimento da musculatura respiratória e cardíaca.
De acordo com a Associação Brasileira de Distrofia Muscular (Abdim), são mais de 30 formas diferentes de distrofias musculares progressivas (DMP), algumas benignas e outras mais graves, que podem atingir crianças e adultos de ambos os sexos.
No caso de Josué, os primeiros sinais da doença surgiram quando tinha 7 anos. Aos 11 parou de andar. Aos 12, passou a usar cadeira de rodas e só piorou. Ultimamente estava com dificuldade até para mastigar e respirar.
As fantásticas ilustrações no Monge Guerreiro
As aventuras narradas pelo escritor Romulo Felippe no livro Monge Guerreiro ganharam um ar mais realista com as ilustrações de JD Burton.
“Com sua habilidade no grafite, Josué deu forma e vida aos principais personagens do meu livro. Assim que lancei a obra, choveu elogios ao ilustrador. Foi de fato um trabalho primoroso”, afirmou o autor do livro.
Após lançar a primeira edição no Brasil, o escritor fez uma edição especial limitada em inglês, que circulou nos Estados Unidos.
Romulo também lançou sua obra na Europa, mas ilustrações do desenhista cachoeirense não foram repetidas nas edições daquele continente, por uma questão de cultura local.
O escritor afirma que o talento de JD Burton é um milagre indecifrável.
“Ele era melhor, e posso dizer isso por conhecimento, que os artistas do Montmartre, por exemplo, o bairro mais boêmio de Paris”, afirmou.
Desenhos se confundem com fotografias
A riqueza de detalhes dos desenhos feitos pelo artista cachoeirense impressiona. Mas o resultado era fruto de muito esforço.
Ele desenhava cada fio de cabelo, os poros, as marcas de expressão, trabalhava com as sombras e a luz, e até o suor era registrado. Alguns desenhos são difíceis de serem diferenciados de uma fotografia.
O artista usava lápis de grafite, com variedades de graduação. As técnicas, ele aprendeu por meio de pesquisas na internet. Seu esforço e dedicação à arte atraíram admiradores. Uma juíza lhe presenteou com lápis apropriados para desenhos em grafite.
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