Um Dia das Mães sem beijos e abraços? Quem poderia imaginar que essa data simbolizada pelo afeto pudesse ganhar uma nova etiqueta social por causa do coronavírus? Vanessa Matos e Mariana de Souza, que venceram o câncer de mama, tiveram suas rotinas alteradas devido à pandemia e vão passar o momento de maneiras distintas: uma com o filho nos braços e a outra, sem poder tocar naquela que ela define como sua rocha.
A coordenadora de departamento pessoal Vanessa Matos, 30 anos, descobriu em 2018 um nódulo de quase 5 cm na mama esquerda após participar de uma competição de kickboxing. Ao confirmar o diagnóstico e por ter histórico de câncer na família, decidiu operar o seio esquerdo e realizou um teste genético, que apontou a mutação no gene BRCA1, algo que não é muito comum.
“Todos nós temos genes BRCA1 e BRCA2, cuja função é proteger o organismo quanto ao surgimento de tumores. Quando eles sofrem mutação, perdem a capacidade de bloquear o aparecimento de um câncer. Essa alteração pode levar também ao desenvolvimento de outros tumores, porém, mais frequentemente na mama e ovário”, explica Carlos Rebello, radio-oncologista e diretor do Instituto de Radioterapia Vitória (IRV).
O risco de uma mulher com essa mutação ter câncer de mama é de 50% a 85% e de ovário de 15% a 45%. Segundo o médico, os genes BRCA1 ou BRCA2 mutantes podem ser passados de uma geração para outra.
Três meses após ter finalizado as 25 sessões de radioterapia de seu tratamento no IRV, o destino trouxe uma grande alegria: Vanessa engravidou. Ela deu à luz um menino saudável no ano passado: Benício, que completa 9 meses de vida em maio.
“Meu oncologista me disse que eu não poderia engravidar num período de cinco anos, então isso me gerou preocupação por causa da recidiva. Mas foi só alegria. Eu curti a gestação e faço exames de controle periodicamente. Será meu primeiro Dia das Mães com meu bebê nos braços”, afirma Vanessa, que mora em Cariacica.
Por causa da pandemia, ela conta que os cuidados redobraram. “Chego em casa do trabalho e vou direto para o banho. Coloco a roupa na máquina de lavar. Estou usando máscara e muito álcool gel. Higienizo celular, sapatos, tudo”, destaca.
Rocha que deu força
Já Mariana de Souza, 37 anos, moradora de Vitória, enfrentou a doença entre os anos de 2015 e 2016. Ela descobriu um tumor de 1,6 cm na mama esquerda, passou por cirurgia, fez quimioterapia e 30 sessões de radioterapia no IRV. Foi um momento difícil para a analista administrativo, que contou com o apoio incondicional de sua mãe, Cremilda Ramiro de Souza, 67 anos.
“Minha mãe é tudo para mim. Ela dá a vida por mim e meu irmão. Um carinho, um cuidado que não sei de onde vem tanto amor. Amor de mãe, né? E assim foi no meu tratamento, na minha presença mostrava ser uma rocha… A sua força me deu força. Estava ali sempre firme e confiante”, conta Mariana, emocionada.
A radio-oncologista Anne Karina Kiister Leon, do IRV, destaca que contar com o suporte da família é fundamental durante o tratamento.
“Muitas vezes, o paciente desanima. A família é sempre importante para a pessoa não desistir do tratamento. No meio das adversidades, ela precisa ter uma palavra amiga, um ombro amigo. Esse suporte da família, de quem tem carinho, é imprescindível”, afirma a especialista.
Neste período de isolamento, Mariana conta que mesmo morando no mesmo bairro onde a mãe vive, tem evitado visitas. As chamadas de vídeo ajudam a matar a saudade. O desejo dela para este Dia das Mães é um só: que a pandemia acabe logo para poder abraçar e beijar Cremilda quantas vezes quiser.
“Domingo (10) vou ver a minha mãe, mas sem beijos e abraços. Irei com máscara e farei a higienização das mãos”, disse.
Pode visitar a mãe?
A médica Anne Kiister orienta a evitar visitas no Dia das Mães para não propagar o coronavírus.
“Para quem vive com a mãe, a orientação é evitar beijos e abraços. A maioria das pessoas que são contaminadas com coronavírus é assintomática. O contato com a mãe, principalmente idosa, com comorbidades, torna-se perigoso para ela pelo risco de a doença ser transmitida e ela vir a ficar sintomática. Para quem mora em outra casa, o ideal é não visitar. Falar por videochamada, mandar entregar um presentinho, telefonar, enviar uma mensagem carinhosa. Agora sair de um lugar para outro é perigoso porque a pessoa pode levar a doença”, afirma Anne Kiister.