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Não as matem – uma crônica de Lima Barreto

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Escrevo sobre filmes e livros. No entanto, não sou crítica literária ou cinematográfica, pois para exercer tal função é necessária formação específica e critérios de avaliação bem definidos. Escrevo do que gosto e do que me faz pensar sobre a vida, na esperança de que, quem ler estes artigos possa, também, assistir aos filmes e ler os livros extraindo deles alguns momentos de reflexão e espanto com o mundo e com as pessoas sobre essa terra. É assim que o cinema e a literatura se costuram ao meu cotidiano: pelo susto, pela inquietação.

Vez ou outra, tenho vontade de reformular essa coluna. De esticar a voz e ampliar as conversas. De escrever sobre o que é relevante – para mim, para o momento, para quem lê. Em andança recente pela internet, relendo crônicas muito queridas e encontrando novas linhas para conhecer e me demorar, me deparei com esse texto de Lima Barreto, publicado no Correio da Noite, em 1915. Jornalista e voz ativa de seu tempo, Barreto clamava pela vida das mulheres – sua crônica denunciava o que, décadas mais tarde, nomeamos de feminicídio. Logo em seguida, li, em uma rede social, uma postagem sobre a mulher que morreu de traumatismo craniano, depois de levar um soco na cabeça, desferido pelo próprio pai. Mais internet e mais uma notícia: mulher esfaqueada pelo ex marido, no interior do Maranhão. Por isso, voltei às linhas de Lima Barreto, encarei a crônica de 107 anos de idade e decidi que a deixarei aqui, para que seja lida e relida por todos nós, cidadãos do ano de 2022. Triste e infelizmente, essas linhas poderiam ter sido escritas hoje.

 

Não as matem

Esse rapaz que, em Deodoro, quis matar a ex-noiva e suicidou-se em seguida, é um sintoma da revivescência de um sentimento que parecia ter morrido no coração dos homens: o domínio, quand même, sobre a mulher.

O caso não é único. Não há muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou sobre a ex-noiva, lá pelas bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com a bala na espinha veio a morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes.

Um outro, também, pelo carnaval, ali pelas bandas do ex-futuro Hotel Monumental, que substituiu com montões de pedras o vetusto Convento da Ajuda, alvejou a sua ex-noiva e matou-a.

Todos esses senhores parece que não sabem o que é a vontade dos outros.

Eles se julgam com o direito de impor o seu amor ou o seu desejo a quem não os quer Não sei se se julgam muito diferentes dos ladrões à mão armada; mas o certo é que estes não nos arrebatam senão o dinheiro, enquanto esses tais noivos assassinos querem tudo que é de mais sagrado em outro ente, de pistola na mão. O ladrão ainda nos deixa com vida, se lhe passamos o dinheiro; os tais passionais, porém, nem estabelecem a alternativa: a bolsa ou a vida. Eles, não; matam logo.

Nós já tínhamos os maridos que matavam as esposas adúlteras; agora temos os noivos que matam as ex-noivas.

De resto, semelhantes cidadãos são idiotas. É de supor que, quem quer casar, deseje que a sua futura mulher venha para o tálamo conjugal com a máxima liberdade, com a melhor boa vontade, sem coação de espécie alguma, com ardor até, com ânsia e grandes desejos; como e então que se castigam as moças que confessam não sentir mais pelos namorados amor ou coisa equivalente?

Todas as considerações que se possam fazer, tendentes a convencer os homens de que eles não têm sobre as mulheres domínio outro que não aquele que venha da afeição, não devem ser desprezadas.

Esse obsoleto domínio à valentona, do homem sobre a mulher, é coisa tão horrorosa, que enche de indignação. O esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas, a influências várias que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão estúpida, que, só entre selvagens deve ter existido Todos os experimentadores e observadores dos fatos morais têm mostrado a inanidade de generalizar a eternidade do amor Pode existir, existe, mas, excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano de revólver, é um absurdo tão grande como querer impedir que o sol varie a hora do seu nascimento.

Deixem as mulheres amar à vontade.

Não as matem, pelo amor de Deus!”

Lima Barreto, 27-01-1915

Jornalista e importante escritor do início do século XX no Brasil, Afonso Henriques Lima Barreto foi um severo crítico dos preconceitos que marcavam a sociedade brasileira da época.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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