Por que não celebrar a simplicidade?
Não é ela que lhe traz tantos momentos de unidade?
Não é ela que lhe rodeia, aonde quer que você esteja?
Sendo no que há ou no que faça, lá está a lhe contemplar – no simples, no ato, no fato, aonde quer que você vá;
Por que a simplicidade é um tabu, um conceito de algo não desejado ou quando é – passa a ser menos do que extraordinário?
Por que nem tudo é celebrado pelo simples fato de ser: o belo ordinário?
Magnífico seria se aproveitássemos mais – o dia, a tarde, a noite, o simples, o cotidiano, a rotina, os olhares, as coisas como são: sem adornos ou pretensão de fingir querer ter ou ser por mera pressão ou, sentimento de pertencer a algo por errônea dedução;
Por que endeusamos várias coisas que nunca farão parte da gente, seja por serem inacessíveis ou falsamente inteligentes, mas que por serem do gosto alheio passam a ser cruciais para fazermos parte desse rodeio tão banal?
Dizem que gostamos do que é difícil, do que sonhamos…
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Mas por que não nos permitimos sonhar com aquilo que realmente somos – simples – e que possui suas vicissitudes, dentre elas a complexidade?
É, ao menos, um pouco estranho, celebrarmos apenas uma parte do que somos ou desejamos num gesto de tamanha ingenuidade;
Não há como negar – a complexidade também habita a simplicidade, podendo ser aquela intrínseca, consequencial ou autoimposta; há uma espécie de simbiose entre esses dois opostos que se nutrem e se reconstroem ao passo dos que às tocam;
No andar, no falar, no comunicar, do ser, do viver ou ter, do ouvir, do escrever, do decidir ou do ver;
Ao tocá-las, alternamos a balança entre esses dois antônimos, que nos guiam ao passo do que pensamos ser o ideal de uma vida que se julga nada trivial, e passamos a romantizar essa passagem ilusória entre o progresso e regresso num mundo completamente inverso;
Talvez o mais complexo seja de nos permitirmos a sermos ou vivermos do jeito que realmente somos, de admitirmos o que queremos ou gostamos, de celebrarmos a simplicidade dos momentos, dos sorrisos alheios ou conhecidos, de proclamarmos a validade de uma vida simples e tão verossímil;
E de fazermos as pazes com esse sentimento de nulidade, e de entendermos que não há nada de errado em celebrar a simplicidade.
Filme: Paterson (2016)